Sem clube, o goleiro Tiago Cardoso recebeu o repórter Davi Saboya, do JC, e outros repórteres do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação para uma entrevista sobre o passado, presente e futuro da carreira. O ex-jogador do Santa Cruz e Náutico revelou que não pretende continuar no futebol depois que pendurar as chuteiras. A intenção é se aposentar aos 38 anos e virar empreendedor. Mesmo estando no sétimo ano morando no Recife-PE, a intenção é fixar moradia em Curitiba-PR.
PRESENTE
Tiago Cardoso - A minha vida está sendo mais ao lado da família, levando as crianças no colégio, academia e igreja. É uma situação nova para mim. Esse é o período mais longo que fico sem clube, exceto quando precisei passar nove meses me recuperando de uma lesão. Estou feliz ao lado da minha família e esperando uma porta se abrir para que eu possa trabalhar novamente.
FUTURO
TC - Não quero tomar decisões precipitadas. Quero decidir com paz. Esses dois anos que passei me fizeram pensar no pós-carreira. A gente lembra da família e de muita coisa que nos envolve. Tenho pedido a Deus que possa abrir uma porta onde eu seja remunerado e possa continuar trabalhando direito. Não é apenas o dinheiro que pesa. É forma como tudo anda. Não tenho estudo. Parei de estudar na oitava série. Mas tenho alguns planos. O meu desejo é empreender. Sei que vou ter que em preparar. Mesmo não tendo faculdade, fazer algum curso de capacitação. O meu desejo é jogar mais cinco anos. Não se vai ser possível, mas essa é a minha vontade. À princípio, zero vontade de permanecer no futebol. Não quero trabalhar como treinador, gerente, se eu ficar é pelo meu filho, caso ele queira seguir a carreira, pois estarei do seu lado.
LIÇÕES
TC - Tanto no Náutico quanto no Santa Cruz sempre pensei no meu trabalho. Discutir dentro de campo, em alguns momento, é sempre válido. Isso não passando para agressão física, claro. Sempre procuro orientar. Depois do que passou não adianta mais reclamar. Tem que pensar sempre na frente. Isso levo para a minha vida. As amizades são importantes no futebol, o carinho com todos que estão envolvidos. Sempre é possível levar algum aprendizado para a vida.
AUTOCRÍTICA
TC - Quando as coisas não acontecem como deveria, sempre se procura o setor culpado. Realmente o que mais sofre é a defesa. Não acredito que o insucesso é apenas por causa de uma pessoa. É o todo que faz com que a equipe conquiste os objetivos. Sempre sobra uma carga maior para alguém. Olho muito para o todo. Não apenas para um setor. Sempre vai cair para alguém. O meu sucesso no Santa Cruz foi porque todo mundo se uniu. Se eu apenas tivesse arrebentado, talvez as coisas não tivessem acontecido. Não consigo olhar apenas o Tiago (Cardoso) ou outro jogador. Olho muito para o conjunto.
JEFFERSON
TC - Ele (Jefferson) tem 24 anos. Joguei a minha primeira partida com 16 anos. Com 23, era titular do Fortaleza. Então, é uma idade ótima. Qualidade tem, dom tem, só basta ter o apoio da torcida e do restante do elenco. Já tem do Washington (preparador de goleiros) e do Roberto (Fernandes, treinador). É o momento dele. Creio que vai corresponder. Criamos uma amizade muito boa. Nunca dei tanta risada em um clube. Concentrávamos juntos. A conversa era bem franca, éramos transparentes. Gosta do Náutico e tem uma vontade muito grande de tirar da atual situação. Passei desde o começo a minha situação para ele (Jefferson), que ficou muito triste quando deixei o clube.
NÁUTICO
TC - Foi tudo colocado para o juiz, tanto que consegui a liminar me liberando. O FGTS não está legal, imagem bastante atrasado, carteira também atrasado, o último mês foi pago quebrado. Então, várias situações pesaram. Não sei se posso está colocando, mas no meu caso tinha reajuste durante o ano, que não aconteceu, luva desde a minha chegada está faltando... aceitei jogar tudo para o final do ano e depois ser parcelado. Meu salário do estadual iria permanecer até o fim. Aceitei tudo, o que foi surpresa para muita gente. Fui atrás da direção para assinar a confissão de dívida, não quiseram. Não quero falar mal do Náutico ou de diretor algum. Quero mostrar para muita gente que gosta de mim, da minha família, o que de fato aconteceu e ocasionou a saída. Houve uma promessa de cumprimento dos deveres, que aceitei, mas passou a não valer porque eles não cumpriram. A gota d’água foi antes da partida. Pagaram, mas pagaram tudo errado. A diretoria foi procurada, mas falaram que não iriam aceitar. Por isso, precisei procurar o meu advogado para ir atrás dos meus direitos.
SANTA CRUZ
TC - É uma situação chata, que eu não queria passar nem no Náutico e nem no Santa Cruz. Particularmente, sempre falo que sempre estou aberto ao diálogo que seja cumprido. No Santa Cruz, fiz um acordo que foi dividido em 22 parcelas, que não foi paga nenhuma. Procuramos a diretoria. Não queria acionar a justiça. Minha esposa até perguntou se eu iria acionar a Justiça. Falo sempre que quem se coloca na Justiça é o clube. Acordo é feito, mas não é cumprido. Nunca quis colocar nenhum clube na Justiça. Esse não é meu objetivo. A situação é triste. As pessoas que comandam os clubes de futebol precisam refletir.
PERNAMBUCO
TC - Sai do Santa Cruz de forma amigável. Conversando, sem briga, continuo com carinho. No Náutico, infelizmente, precisei agir dessa forma. Mas não posso falar que é o fim, não tem como. Sou um profissional e preciso trabalhar. A relação com os pernambucanos sempre foi muito boa.