Jeydison Andrade praticamente não enxerga o Santa Cruz em campo. Nas sociais do Arruda, grudado no parapeito que separa a arquibancada do fosso, o jovem de 21 anos se espreme no meio da massa coral para tentar ver a lateral do campo, única parte do gramado que os 10% da sua visão o deixam ver. A paixão pelo tricolor vem de família. Foi passada pelo pai, seu principal companheiro em dias de jogos. Mas essa deficiência é superada quando o recifense sintoniza a Rádio Jornal. Fã do narrador Aroldo Costa, Jeydison tem na voz do “maior gol do mundo” a imagem que lhe falta nos olhos. Cria toda a ação que está acontecendo dentro de campo na sua mente, graças ao poder descritivo do jornalista.
Jeydison esteve no Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. Usou o tato e a audição para se situar no espaço. Acanhado, cumprimentou com a voz tímida todos que passaram ao seu lado nos corredores até chegar ao momento mais aguardado: conhecer o ídolo Aroldo Costa, em um encontro emocionante. Para os dois lados. “Por conta do meu problema nos olhos, eu desenvolvi muito os meus outros sentidos”, explicou o torcedor coral, chegando a parar de falar para conter a emoção ao comentar a influência das narrações de Aroldo na sua vida. Jeydison sofre de um problema chamado baixa visão, que afeta a sua retina. A doença foi descoberta quando ele tinha apenas dois anos e foi se agravando ao passar do tempo. Hoje, ela está estacionada.
Fã do futebol e fanático pelo Santa Cruz, Jeydison não pode praticar esportes, pois corre o risco da sua retina descolar e aqueles 10% que, para ele são tudo, irem embora de vez. Na escola, enquanto os colegas de turma jogavam futsal na quadra durante as aulas de educação física, ele ficava do lado de fora, na arquibancada, apenas estudando o assunto que viria na aula a seguir. Mas a falta da visão não é usada como desculpa para o jovem não batalhar na vida. Aos 21 anos de idade, ele está no sétimo período do curso de direito e sonha em um dia ser juiz.
No SJCC, Jeydison relembrou um momento que, de início, seria recordado com tristeza. Por conta de uma cirurgia de catarata - a doença tirou totalmente a visão do olho esquerdo por um período - ele não pôde ir ao Arruda para acompanhar o jogo do acesso do Santa Cruz à Série B em 2013, contra o Betim. Escutou o duelo sozinho, em casa, grudado no rádio. O abatimento deu lugar à euforia após o gol de Flávio Caça-Rato, aos 42 do segundo tempo, que selou o acesso tricolor. Tento esse narrado justamente por Aroldo Costa (narração completa abaixo). E, nos estúdios da Rádio Jornal, ele escutou outra vez a narração e comemorou de novo, como se fosse a primeira vez.
“Eu estou muito emocionado (em ter escutado a narração). Escutei esse jogo sozinho, em casa. Tinha operado o meu olho por conta de uma catarata e não pude ir ao Arruda, só o meu pai foi. Naquele gol de Caça-Rato, depois de um escanteio que parecia perdido. Eu explodi. Gritava dentro de casa, pulava feito um louco”, declarou enquanto batia no escudo do Santa que estava na sua camisa. Não segurando a emoção, revelou para o locutor. “Aroldo, você não tem noção de como isso é importante para mim. Eu não enxergo. A emoção que você passa é muito grande, é uma coisa fantástica. Você descreve o lance como ninguém, você narra como ninguém. Eu sempre crio a imagem do lance na minha cabeça por conta disso”, completou a frase com o rosto avermelhado, tamanha euforia.
Em todo o momento da conversa, Jeydison deixava claro o seu respeito e admiração pelo narrador. Chamando-o de “senhor Aroldo”, o jovem fazia elogios e relembrava os momentos de euforia que já teve ouvindo o rádio. Carinho esse que foi agradecido e exaltado pelo jornalista.
“Ele nos faz realmente crer que é muito bom o trabalho que a gente faz no rádio. Escutamos o depoimento das pessoas e não há como não ficar feliz sabendo que elas gostam do nosso trabalho. Ele é um cara de mente legal, que está estudando. Nós temos muitas dificuldades nas nossas vidas e às vezes pegamos e transformamos aquilo em um grande problema. É motivador poder ver Jeydison”, falou Aroldo, de maneira emocionada e bastante lisonjeada pelo carinho recebido.
Jeydison ainda foi convidado para participar o programa JC Esportes 10. Na saída, ele parou. Olhou para Aroldo com as mãos trêmulas. Agradeceu o carinho e, em seguida, foi para casa. Feliz e sorridente, como se fosse uma criança que acabara de ganhar um presente. Mas foi o contrário. Foi Jeydison quem presenteou Aroldo, com a sua história, a sua determinação e o seu amor ao futebol.