Relatório McLaren: doping na Rússia envolveu 'mais de mil atletas'

Primeira parte do relatório de McLaren, divulgado antes da Rio 2016, motivou a suspensão de mais de 100 atletas russos
AFP
Publicado em 09/12/2016 às 9:14
Primeira parte do relatório de McLaren, divulgado antes da Rio 2016, motivou a suspensão de mais de 100 atletas russos Foto: Foto: ADRIAN DENNIS / AFP


O jurista canadense Richard McLaren afirmou nesta sexta-feira que possui "fortes evidências de doping institucionalizado na Rússia, envolvendo mais de mil atletas de 30 modalidades", na apresentação da versão final do seu relatório sobre o escândalo que abala o esporte no país.

"Uma conspiração institucional foi implementada, com participação do Ministério dos Esportes e de serviços como a Agência Russa Antidoping (Rusada), o laboratório antidoping de Moscou, junto com o FSB (serviços secretos) para manipular amostras", explicou McLaren em entrevista coletiva realizada em Londres.

McLaren foi encarregado de investigar esse esquema pela Agência Mundial Antidoping (Wada), depois da denúncias de do ex-diretor do laboratório de Moscou, Grigori Rodtchenkov ao New York Times.

A primeira parte do relatório, divulgada em julho, às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, teve como foco o esquema de doping sistemático e a manipulação de amostras no caso específico dos Jogos de Inverno de 2014, realizados em Sochi, balneário do sul da Rússia.

"O objetivo era garantir que a Rússia, como país-sede, possa conquistar o máximo de medalhas possíveis, deixando que os melhores atletas se dopem, às vezes inclusive durante os Jogos", destacou McLaren nesta sexta-feira.

A versão final evidencia que essas práticas se estenderam a todas as grandes competições que ocorreram de 2011 a 2015.

"Esta manipulação específica e centralizada dos exames anti-doping foi evoluindo na medida em que estava sendo usada, nos Jogos Olímpicos de Londres-2012, os Jogos Universitários de 2013, o Mundial de Atletismo de 2013 e os Jogos de Inverno de Sochi-2014", denunciou McLaren.

"A evolução da infraestrutura era uma resposta às mudanças de regulamento da Wada e os exames surpresa", ressaltou.

Atletas colocavam sal e café na urina

Para o jurista, o esquema se estendeu mais de 30 modalidades, muito além dos Jogos de Sochi.

"Mais de mil atletas russos de modalidades de inverno e verão, olímpicas ou paralímpicas foram envolvidos ou beneficiados com essas manipulações", relatou.

Na investigação, a equipe de McLaren descobriu que as técnicas de manipulação mesclavam tecnologia avançada e métodos mais artesanais. "Sal e Nescafé foram colocados nas amostras de urina" para adulterar os resultados, explicou o canadense.

Depois da divulgação da primeira parte do relatório, mais de cem atletas russos foram excluídos dos Jogos do Rio, cerca de um terço do total da delegação.

Na verdade, o escândalo estourou há um ano, com as revelações bombásticas de uma comissão independente da Wada sobre o esquema doping organizado no atletismo, com base em denúncias de um documentário da emissora alemã ARD.

Em novembro de 2015, essas revelações levaram a Federação Internacional de Atletismo (IAAF) de suspender o país de todas as competições internacionais da modalidade. A punição coletiva impediu, por exemplo, a saltadora com vara Yelena Isinbayeva de buscar o tricampeonato olímpico no Rio.

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