30 anos de um sonho: Oscar Schmidt relembra vitória sobre EUA no Pan

Reportagem do JC falou com o 'mão santa', que lembrou a conquista histórica do Brasil no Pan-Americano de 1987
Vinícius Barros
Publicado em 23/08/2017 às 7:04
Reportagem do JC falou com o 'mão santa', que lembrou a conquista histórica do Brasil no Pan-Americano de 1987 Foto: Reprodução/Internet


Há exatos 30 anos poderia ocorrer mais uma vitória americana no basquete no Pan de 1987. Do outro lado da quadra, poderia ocorrer mais um vice-campeonato para o Brasil, derrotado para os EUA na final da competição, em 1983, e que chegou perto do pódio no Mundial de 1986. A história, no entanto, viu quem era coadjuvante ganhar o papel principal, sendo a seleção brasileira a responsável por feitos inéditos: derrotar pela primeira vez os EUA em solo americano e anotar mais de 100 pontos contra eles em um jogo. Protagonista da partida, com 46 pontos marcados, vencida por 120 a 115, no Market Square Arena, em Indianápolis, Oscar Schmidt falou com o repórter Vinícius Barros, direto dos EUA.

CONFIRA A ENTREVISTA:

JORNAL DO COMMERCIO – Como aquela vitória ajudou a mudar a realidade do basquete no Brasil?
OSCAR SCHMIDT – Mudou não só no Brasil, mudou no mundo. Os Estados Unidos praticamente não perdiam pra ninguém e com aquela derrota, eles viram que tinha gente que jogava bem basquete fora dos EUA. Cinco anos depois, estava jogando o Dream Team (nas Olimpíadas de Atlanta em 92), que era proibido antigamente (jogadores da NBA jogarem pela seleção). Não fui pra NBA por causa da seleção brasileira e três anos depois tivemos essa vitória que mudou a história do basquete mundial. E foi o Brasil que provocou essa mudança.

JC – Você optou por não ir para continuar na seleção, hoje em dia você sente falta um pouco desse patriotismo?
OSCAR – A maioria dos jogadores é patriota, acredito que gostam de jogar pelo Brasil. Mas a quantidade de dinheiro que se paga na NBA provoca muitas vezes essa falta de alguns jogadores na seleção brasileira.

JC – Antes do Pan de 87, o Brasil foi criando ‘casca’ naquela época com o bronze no Pan-Americano de 79, prata em 83 e o quarto lugar no Mundial de 86. Você acha que a equipe brasileira era subestimada naquela época?
OSCAR – O mundo era subestimado pelos Estados Unidos. Eles ganhavam todos os campeonatos, pô! Não tinha alguém que contestasse eles vivamente. Foi a gente que começou essa revolução.

JC – Aquela geração dos Estados Unidos tinha apenas universitários. Ter tantos deles naquele patamar poderia ajudar a incentivar o esporte universitário no Brasil?
OSCAR – Nisso, eu não acredito muito não. O esporte na universidade brasileira é levado mesmo para o terceiro, quarto, quinto plano. Tem escola que vai fazer educação física e fala ‘vamo jogar queimada hoje’, então não acredito que isso possa acontecer no Brasil.

JC – Por falta de interesse?
OSCAR – Sim, o Brasil é um país de clubes. Eles que revelam os jogadores. Dificilmente um campeonato universitário vai ser comparado a um campeonato de clubes.

JC – Em 2013, você entrou no Hall da Fama do basquete. Como aquela partida foi importante para sua entrada?
OSCAR – Se eu tivesse parado em 96, como deveria ter sido, talvez tivesse entrado muito antes no Hall da Fama. Joguei até os 45 anos e isso retardou minha entrada.

JC – Atualmente, qual pode ser um novo rumo a ser dado no basquete brasileiro?
OSCAR – Primeiro, nós temos um presidente que foi um bom jogador de basquete (Guy Peixoto, eleito em março). Isso é uma novidade incrível e eu espero que ele faça coisas boas. Se não fizer, vou ser o primeiro a criticá-lo.

JC – Ter vencido o câncer foi o maior toco que você já deu na vida?
OSCAR – Ah, sem dúvida, cara. Quando um cara fala ‘você tem um tumor de oito centímetros na cabeça’ o que você acha? ‘Morri, né’ (risos). Mas aí deu certo.

JC – Quer deixar algum recado?
OSCAR – Meu recado é simples. Quem quer fazer esporte sério precisa treinar muito, muito mesmo. E quando estiver bem cansado, treinar mais um pouquinho. Porque esse treino extra é o que vai fazer a diferença na vida de qualquer atleta.

 

 

 

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