Técnico vitorioso no Arruda, Marcelo Martelotte também fez história como goleiro da Cobra Coral. Em entrevista ao JC, relembrou as campanhas de 1993, com o improvável título do Pernambucano, e a temporada de 1999, do “Barcelona do Nordeste” até a Série B, com o acesso para a elite do futebol brasileiro.
Essa é pra puxar bastante na memória. Foi em junho de 1993. Vim prum empréstimo de três meses, pro segundo turno do Pernambucano. Só conhecia o Santa Cruz de nome. Ao chegar, percebi a grandeza do clube. Cheguei numa sexta, o time jogou no sábado e estreei na quarta contra o Timbaúba. Tivemos uma campanha invicta no segundo turno e chegamos naquela final histórica contra o Náutico.
A gente saiu perdendo o jogo (o segundo da decisão do Pernambucano, no Arruda) e já sem o expulso Washington, artilheiro do campeonato. O intervalo foi bem difícil. Você via um desânimo no rosto dos atletas. Faltando 15 ou 20 minutos pro fim, começamos a perceber que o torcedor não acreditava mais, enquanto a torcida do Náutico já comemorava o título. A reação veio de dentro de cada um. A partir do primeiro gol, do Fernando, a gente sentiu que dava para virar. Foi um jogo diferente de tudo que já vi no futebol. Aquela virada foi histórica. Anos depois, fiquei sabendo pelo atacante Mário, que estava no Náutico naquele ano e jogou comigo no Bragantino, que após o final do tempo normal (2x1 para o Santa), os jogadores choravam, porque viram que deixaram escapar uma grande oportunidade. Na prorrogação, tivemos que colocar os pés no chão para segurar o empate que nos deu o título.
Eu vim emprestado do Santos em 1999. Em seguida, chegaram Mancuso, Almandóz, Paulinho McLaren, Marcos Adriano e Camanducaia. Muito em cima disso veio uma motivação do torcedor, e se acreditou naquele grupo formado por jogadores experientes. A crença era que poderíamos enfrentar o Sport, que até ali o tricampeão do Estado. Essa foi a ideia do presidente (Jonas Alvarenga, que criou uma campanha de sócios chamando o Santa de Barcelona do Nordeste), e que foi abraçada pelo torcedor (time chegou a ter 25 mil sócios adimplentes). Infelizmente, com o time montado em cima do campeonato, perdemos a final pro Sport, que tinha um time jogando junto há muito tempo, com jogadores como Nildo, Wallace, Leonardo e Sangaletti.
Depois do Pernambucano, as peças foram saindo e ficou uma equipe formada quase toda pela base. Tive uma lesão no meio da Série B, mas fiquei com o grupo até o final. Essa Série B de 1999 também foi uma dessas situações que ninguém esperava. Conseguimos a classificação na última rodada, depois eliminamos o São Caetano, o líder da primeira fase e grande time do campeonato. A partir dali entrar pro quadrangular final, superar o Bahia e subir com o Goiás. Foram duas passagens como jogador que me mostraram a grandeza do Santa Cruz, do que o clube é capaz quando menos se espera. Espero ter sucesso também agora nesta temporada.