Em entrevista exclusiva ao Jornal do Commercio, o atacante Grafite falou sobre várias situações que ocorreram durante 2017. No Santa Cruz, precisou jogar e tomar atitudes fora do campo. Aos 38 anos, ele não nega o amor pelo Tricolor do Arruda e espera encerrar a careira com a camisa coral em um ano diferente em Pernambuco
TEMPORADA
Aguentei muita coisa durante os seis meses que estive no Atlético-PR. Cobrança da torcida, o que é normal, visto que fui uma das grandes contratações do ano junto com Carlos Alberto e Jonathan. Não estava conseguindo ter êxito. A preparação não foi como imaginava. Poderia ter sido melhor. O clube decidiu que o grupo principal iria jogar a Libertadores e o outro o Paranaense. Isso custa muito como no ritmo de jogo. Chegou uma época que na Libertadores tínhamos seis jogos e o Flamengo cerca de 13. Pesa para mim por ser mais velho. Me empenhei, procurei fazer o meu melhor lá e no próprio Santa Cruz. Às vezes, nem tudo vai do jeito que a gente quer. Talvez tenha faltado algo, mas foi um conjunto de fatores. Culpa minha também. Não culpo o Atlético e nem o Santa. Tenho uma cobrança alta. No meu entender, fiz o meu melhor.
LIGAÇÃO
Acho que pelo fato de ter sido o quarto clube da minha carreira. Me marcou muito porque joguei a minha primeira Série A, me projetei para o Brasil e ter sido a maior negociação da história do Santa Cruz na época quando fui vendido para o Grêmio. Pesa também que a minha esposa é do Recife, torcedora do Santa doente, minha sogra e os demais familiares também. Tudo isso ajudou. Mesmo jogando fora do país, no São Paulo, Goiás, França, sempre estava acompanhando de longe.
RETORNO
É difícil me avaliar porque sou atacante definidor. Três gols em 13 ou 14 jogos com seis chance de gol. Não posso ficar correndo, caindo pela lateral, depende muito do esquema e criação das jogadas. Os gols foram muito distribuídos no Santa Cruz. Lógico que poderia ter me movimentado mais, buscado mais espaço. Chegou uma época que não contava quem fizesse os gols. O desempenho foi abaixo da passagem anterior. Talvez se tivesse ficado no Santa Cruz poderia ter sido melhor. É um conjunto de fatores e o início não foi de uma boa maneira. Adaptação aos jogadores, mesmo o esquema sendo parecido, características diferentes. Não posso dizer que a culpa foi dos caras que não me deram a bola. Foi um conjunto de fatores.
ERRO
O Santa cruz caiu e achou que iria subir neste ano. Acho que faltou um pouco de consciência da situação. Até pela condição que o Santa caiu para a Série B. O próprio América-MG, que caiu conosco, caiu sem dívidas, com um certo dinheiro que conseguiu guardar e subiu. A Segunda Divisão quando não tem planejamento, dinheiro, fica difícil se manter feito foi o clube neste ano.
CRISE
É estressante ter que resolver coisas fora do campo e se concentrar nos jogos. Aquele episódio que quase resultou na greve foi muito desgastante durante as reuniões. Não foi bom, mas chegou um momento que foi necessário. Sou jogador e tinha que estar do lado dos meus companheiros. Mesmo o meu salário na época estando apenas com um mês de atraso e dos caras três, quatro meses. É normal até pela liderança que tinha. Na reunião entre o elenco, várias cabeças, várias opiniões diferentes. Chegou na hora do jogo estava esgotado. Tanto que pedi para sair no intervalo contra o Paraná. Quando chega nesse nível de estresse prejudica. Das outras vezes, que fui acionado foi tranquilo, mas não quero passar por isso de novo.
FUNCIONÁRIOS
São a nossa base. Tem que estar tudo andando no mesmo caminho. Tanto priorizamos, brigamos por eles. É difícil ver pessoas que ganham cerca de um salário mínimo com seis, sete meses atrasados, dificuldade em casa, faltando uma feira, um gás. Procurávamos ajudar eles. Diziam que era melhor na Séries C e D que recebiam em dia mesmo sendo um valor menor. Espero que Alírio possa destravar algumas situações agora nos bastidores fruto de muita vaidade que acontece nas esferas do clube. E desse jeito, todos remando juntos.