A passagem do ‘Furacão Mendes’ no Arruda causou inúmeras vítimas. A principal delas: o Santa Cruz. A eliminação precoce da equipe coral da Série C ainda repercute no clube da Avenida Beberibe. Somente agora, após dez dias do desligamento de Milton, que está sendo possível ter uma dimensão do estrago feito pela má gestão de grupo do treinador. A reportagem do Jornal do Commercio apurou com algumas fontes dentro e fora do clube (jogadores, funcionários e comissão-técnica), e obteve alguns depoimentos impressionantes do ambiente negativo dentro das Repúblicas Independentes do Arruda desde a chegada de Milton Mendes.
“Eu já percebi que ele era um cara complicado logo no começo. Ele mal tinha chegado e, em uma de nossas viagens, durante uma refeição, ouvi ele falando mal e criticando Thiago (Duarte, auxiliar-técnico). Poxa! Um cara que ele levou para trabalhar com ele. Como pode?”, questionou uma das fontes que o JC contatou, mas que preferiu não se identificar.
De acordo com essa mesma fonte, Milton começou a minar Thiago Duarte - profissional que tinha conhecido no período que treinou o Sport e o indicou para trabalhar no Santa Cruz -, deixando-o sem muita participação durante os trabalhos no dia a dia e dando mais participação ativa a Paulo Massaro, então técnico do Sub-23.
Quando o assunto se tratava de minar, Mendes colecionou uma lista vasta no elenco coral de atletas que ele barrou. Pior: sem explicação. “Ele implicava com o jogador e tirava sem mais, nem menos. Começou com Misael. Contra o Globo, no primeiro turno, ele acabou sentindo uma lesão antes do jogo, ainda no aquecimento, e Elias foi titular. Misael se recuperou, mas nunca mais foi titular. E ninguém sabe o porquê. Já que ele não se lesionou porque quis. Logo depois começou a minar Willian Alves, que era titular e de repente não passou nem a ser relacionado por Milton. Também pegou no pé de Marcos Martins... E por aí foi”, explicou um funcionário que optou por manter o anonimato.
Com essas atitudes, o ex-treinador coral começou a perder o grupo. Não que os jogadores deixassem de desempenhar o seu melhor em campo. “Os caras abraçaram a causa, pois o objetivo maior seria bom para todos. O time ganhando, em dia, o jogador come até concreto. Mas quando não está ganhando e começa a ter adversidade, o cara faz cara feia com quem incomoda ele e já não engole sapo. Com os funcionários também. Não estava em dia, mas com as vitórias, você recebia o ‘bicho’ e ia se aguentando. Mas aí desandou”, contou uma fonte que tinha livre acesso ao vestiário tricolor.
O estopim, porém, foi na semana pré-clássico contra o Náutico. Jogo que valia a classificação à segunda fase da Série C. “Ele não deu um treino tático a semana inteira. E, pra piorar, provocou uma discussão entre Anderson e Ricardo Ernesto. Os dois acabaram discutindo na frente de todos, mas depois ficaram de boa, saíram do vestiário abraçados e treinaram de boa. Todos viram que Milton tentou tirar o foco do que ele fez no jogo anterior (contra o Globo) de tirar Jaílson ainda no primeiro tempo. Com raiva de Anderson, que apontou esse erro dele na frente de todos e ele já estava enciumado por estar se destacando, Milton treinou com Ricardo como titular a semana inteira, inclusive, bolas paradas. No jogo, ele coloca Anderson e levamos gol de bola parada porque ele não treinou com o titular durante a semana”, revelou um informante.
Milton Mendes também gerou uma polêmica envolvendo Pipico. Isso porque o artilheiro coral vinha numa sequência pesada de jogos e se queixando de dores na panturrilha. Tanto que, na semana que antecedeu o jogo contra o ABC, em Natal, o centroavante não chegou a treinar. Porém, no dia do jogo, ele foi escalado como titular, mas deixou o campo com menos de 20 minutos por conta de uma lesão na panturrilha.
O JC obteve a informação de que Pipico não tinha condições de encarar o ABC e que Milton Mendes teria bancado a utilização do centroavante, o que acabou agravando a lesão e tirando o camisa 9 da reta final da Série C. Contudo, procurado pela reportagem, o diretor-médico do Santa Cruz, doutor Antônio Mário, negou que Pipico tenha entrado em campo sem condições. "Ele só foi para o jogo porque fez todos os testes e se capacitou para ir. Tanto do ponto de vista clínico e físico. Não deixaria um jogador meu ir para campo sem condições", garantiu o médico tricolor.