Em meio à crise política, com processo de impeachment do presidente executivo Arnaldo Barros ainda se arrastando no clube, o Sport ganha mais um episódio na esfera jurídica. Suspenso do quadro de associados após protestar contra a ação dos seguranças do clube contra um outro torcedor, o sócio Heytor dos Santos prestará depoimento à Delegacia do Torcedor e espera que o clube prove as acusações a que foi atribuído. A diretoria do Sport, no entanto, se posicionou sobre o fato através de nota oficial e negou que o caso do sócio se trate de “repressão a protestos”.
Heytor foi acusado de ser membro e trajar uniforme da Torcida Jovem, além de ter ameaçado de morte o chefe de segurança e seus subordinados. O fato aconteceu após a partida entre Sport e América-MG, quando o Leão foi derrotado em casa e deu sequência ao jejum de vitórias na Série A do Brasileirão. "Heitor estava no jogo do Sport e insatisfeito com o tratamento que os seguranças tiveram com um outro torcedor, começou a se queixar. O coronel Ribeiro estava retirando um torcedor do Sport que estava de amarelo. Heytor estava na parte de cima, reclamando. Nisso, os dez seguranças e o coronel foram em direção a ele e mandam ele descer. E ele se negou", explica o advogado de Heytor, Pedro Josephi.
De acordo com o defensor, Heytor é vítima de falsas acusações e foi identificado por fazer parte de uma torcida organizada alheia à Jovem. "Por fazer parte de uma torcida chamada Esquadrão Rubro-negro, para entrar com material de bateria e faixa Heytor precisa encaminhar ofício à Polícia Militar. O coronel Ribeiro, até agindo de má fe, teve acesso ao documento e reconheceu Heytor, e informou ao Sport que Heytor estaria com a camisa da organizada (Jovem). O que é mentira. Seria impossível entrar com a camisa da organizada hoje, por conta da revista que é feita na Ilha."
"O coronel diz que Heytor ameaçou ele de morte. O coronel com dez seguranças ao lado? Quem em sã conciência vai fazer isso? Chega até a ser cênico dizer que foi. Heytor não foi detido na hora e não foi preso. Não infringiu nenhuma lei ou norma do Estatuto do clube", complementou Pedro.
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— Pedro Josephi (@PedroJosephi) 30 de agosto de 2018
Notificado pelo clube, Heytor prestará depoimento na Delegacia do Torcedor, na próxima segunda-feira (3). "Vamos acompanhá-lo para prestar esclarecimento na delegacia do torcedor, munidos de todas as fotos e as imagens para demonstrar que ele não estava com a camisa de organizada", aponta o advogado, antes de informar o passo a ser realizado para reaver os direitos de Heytor como associado. "Em relação à notificação do clube, vai haver um processo administrativo no Conselho Deliberativo para anular a suspensão por tempo indeterminado."
E acredita que os conselheiros seguirão os fatos apresentados pela defesa e devolver ao torcedor os seus direitos. "Esperamos que o Conselho Deliberativo possa agir de acordo com informações que rege o estatuto do clube. Qualquer processo onde foi aplicado uma suspensão indeterminadamente, precisa de uma defesa."
Ainda para Pedro Josephi, o fato de um grupo ligado ao Conselho ser reativo ao andamento do processo de impeachment de Arnaldo Barros não deve influenciar na decisão do caso de Heytor. "Apesar de não concordar com a gestão, eu não interfiro no caso do impeachment da Assembleia (Geral Extraordinária dos Sócios). Houve essa proteção (a Arnaldo Barros pelo Conselho), mas quero crer que o caso de Heytor seja votado de acordo com o que está previsto no Estatuto e o que está nas imagens. Quero que o sport prove. Quem acusa, tem o ônus da prova. O que não vai ser possível", projeta, antes de rejeitar qualquer ação que possa ser realizada contra a pessoa jurídica do clube.
"Heytor é um torcedor sócio e apaixonado pelo clube, e é muito sacrificante entrar com danos morais porque a o Sport é muito maior que a gestão Arnaldo Barros." No entanto, Pedro não descarta a possibilidade que haja uma representação contra a pessoa física do presidente executivo do clube.
"O que procuramos é nos posicionar, uma vez que praticamente todos da imprensa já deram a versão do Sport, enquanto o outro lado sequer foi ouvido. Como ele tem advogado, a gente procurou os meio para ser ouvidos. Mas estamos estudando entrar com um procedimento de denunciação caluniosa contra o presidente e o chefe de segurança."
Sobre a forma como se deu o acesso do coronel Ribeiro aos dados pessoais de Heytor, o advogado evita acusações de uma possível irregularidade e esclarece o que considera ser um ato de má fé pelo oficial contra Heytor. "A informação que se passa para a Polícia Militar, não sei como é o trâmite burocrático. Seria leviano da minha parte dizer que ele cometeu algum tipo de infração. Prefiro o benefício da dúvida. A má fé dele foi ter desrespeitado e acusado Heytor, imputar a ele algo que não cometeu não cometeu, que foi vestir a camisa da organizada (Jovem) e a ameaça", esclarece.
A Vice-Presidência Jurídica do Sport reitera que o caso do sócio Heytor Cardoso Alves dos Santos não se trata de “repressão a protestos”, como vem sendo propalado erroneamente nas redes sociais. Trata-se, na verdade, do estrito cumprimento do Sport à decisão judicial que proíbe desde 2014 o acesso da Torcida Jovem ao estádio. O sócio em questão estava trajando uma camisa da Torcida Jovem, no último dia 22, dentro da Ilha do Retiro. No momento da abordagem, quando foi convidado a retirar a camisa ou se retirar do estádio, ele fez ameaças de morte a um funcionário do Clube. De imediato, foi feita uma notícia-crime na Delegacia de Repressão a Intolerância Esportiva pelo crime de ameaça e instaurado um processo administrativo-disciplinar no Clube. Esse processo será julgado pelo Conselho Deliberativo do Sport, onde será dado amplo direito de defesa e contraditório ao sócio. Vale salientar que houve vários protestos contra a diretoria do Sport na partida diante do América-MG, pela 20ª rodada do Brasileirão, e nenhum outro torcedor foi repreendido ou cerceado em seus direitos por isso.