Volkswagen revela detalhes de colaboração com ditadura no Brasil

Pelo menos sete funcionários da Volkswagen teriam sido presos e torturados
AFP
Publicado em 15/12/2017 às 14:37
Pelo menos sete funcionários da Volkswagen teriam sido presos e torturados Foto: Foto: AFP


A montadora alemã Volkswagen divulgou um estudo independente sobre seu papel durante a ditadura militar no Brasil (1964-1985), ao longo da qual membros de seus serviços de segurança denunciaram funcionários que foram presos e torturados.

"Uma colaboração entre determinados membros dos serviços de segurança da Volkswagen do Brasil e da Polícia política (DOPS, o Departamento de Ordem Política e Social) do antigo regime militar aconteceu", explicou na quinta-feira (14) o historiador alemão Christofer Kopper, da Universidade de Bielefeld, encarregado pela fabricante de veículos, em 2016, de investigar esse período.

Em sua pesquisa, Kopper recorreu aos arquivos da Volkswagen na Alemanha e no Brasil, aos arquivos públicos brasileiros, assim como a  relatos de testemunhas.

Essa colaboração durou de 1969 a 1979 e levou à prisão de "pelo menos sete funcionários", em uma época na qual a tortura por parte do DOPS era uma prática conhecida, conclui ele no relatório.

Um ativista comunista foi detido na unidade da Volks em São Bernardo do Campo, na periferia de São Paulo, e levado para as instalações dos serviços de segurança da empresa.

"Depois, me agrediram. Recebi socos e tapas. Queriam saber se havia mais pessoas da Volkswagen envolvidas", contou Lucio Bellentani, que acabou sendo levado para um centro de tortura do DOPS.

A Volkswagen se apresenta como o primeiro fabricante de automóveis a lançar uma investigação sobre seu papel durante esse sombrio período da história brasileira.

Ditadura vista como 'positiva'

A empresa encomendou esse estudo depois que, em setembro de 2015, antigos funcionários da companhia alemã e ativistas apresentaram uma denúncia no Brasil, acusando a Volkswagen de ter permitido torturas e perseguições de opositores ao regime militar.

Segundo eles, 12 funcionários foram detidos e torturados naquela época na fábrica que ficava em São Bernardo do Campo. A empresa também foi acusada de ter elaborado "listas negras", com nomes de pessoas contrárias à ditadura.

Kopper concluiu que "não foi possível encontrar nenhum indício claro sobre o fato de que a colaboração estivesse institucionalizada dentro da empresa".

Segundo suas investigações, a direção dos serviços de segurança da companhia alemã no Brasil "agiu por sua própria iniciativa, vigiando e denunciando as atividades de opositores".

O estudo do historiador mostra, porém, que "o golpe militar de 1964 e o estabelecimento de uma ditadura militar cada vez mais repressiva foram claramente percebidos como positivos" pela diretoria da Volkswagen no Brasil, que esperava uma política mais estável e mais favorável às empresas.

Nesse período, a Volkswagen do Brasil se beneficiou financeiramente da supressão dos direitos trabalhistas mais básicos e se mostrou totalmente leal ao regime militar, acrescenta esse documento de cerca de 120 páginas, disponível on-line.

A história da empresa já é marcada por seu envolvimento com o regime nazista. Na Segunda Guerra Mundial, o fabricante alemão recorreu a trabalhos forçados dos prisioneiros de guerra e dos detidos em campos de concentração.

Na tentativa de reparar essa mácula, a empresa criou, nos anos 1990, um fundo de indenização para os trabalhadores forçados e passou a permitir que os historiadores tivessem acesso a seus arquivos para iluminar esse ponto nada esclarecido de seu passado.

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