O ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi, disse nesta terça-feira (20), no Fórum Mundial da Água, que 90% da produção agrícola no país utilizam água das chuvas. Segundo ele, apenas 10% do setor utilizam água captada por sistemas de irrigação.
“A água é reciclada no processo [agrícola], não há exportação de água. Às vezes, falam que precisa de 15 mil litros de água para fazer um quilo de carne. Isso não é verdade, é uma lenda urbana. É uma coisa que começou e continua a ser dita e não tem explicação científica. A verdade é que o quilo de carne não leva um quilo de água. Nós fazemos agricultura no Brasil sem irrigação, é apenas um aproveitamento natural das chuvas que nós temos”, disse Maggi, ao encerrar os debates do Painel Água para Agricultura e Produção de Alimentos.
Já o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes, ressaltou que a produção agropecuária brasileira, nos últimos 40 anos, tem se baseado em processos tecnológicos. “A tecnologia nos ajudou a intensificar o uso da terra e garantiu o equilíbrio entre a conservação dos nossos biomas e a capacidade do país de seguir produzindo alimentos. A forma para chegarmos até isso foi um grande investimento em produção de geração de conhecimento, treinamento e capacitação”, disse.
Maurício Lopes apontou ainda o sistema desenvolvido, por especialistas da Embrapa, utilizado nas lavouras, pecuária e floresta como uma das soluções para preservar o solo e produzir água. “É uma forma de manter o solo protegido 365 dias por ano, garantindo a recomposição das nossas reservas de água e o lençol freático em uma agricultura essencialmente produtora de água”, assegurou.
Para Lopes, o desafio no país está em levar tecnologia e informação às áreas que ainda não têm acesso aos sistemas modernos de produção agrícola e pecuária. “Nós ainda temos regiões no Brasil onde prevalece uma agricultura pobre, que tem dificuldade de acessar esse conhecimento e essa informação. Nós temos que trabalhar no sentido de ajudar essa agricultura, de estar no local. Na região do Brasil mais carente em água, o Nordeste brasileiro, a nossa empresa vem fazendo uma série de esforços de levar conhecimento e tecnologia”, afirmou.
A ministra da Agricultura, Pesca, Alimentação e Meio Ambiente da Espanha, Isabel Tejerina, disse que o país europeu trabalha para implementar um programa de internet, via satélite, em toda a área rural espanhola. A medida visa transferir conhecimento para agricultores por meio de tecnologias e permitir a tomada de decisões por sistemas mais eficazes.
“[Esse processo] é chave, essencial para atrair agricultores para que tenham oportunidades de ser mais eficientes”, apontou a ministra. Segundo Isabel Tejerina, esses mecanismos de irrigação para produção agrícola são “cruciais para proporcionar a qualidade dos alimentos” no país. A Espanha trabalha “para assegurar o equilíbrio entre irrigação tradicional da agricultura e o uso de água da chuva na produção de alimentos”.
Também participaram do painel a diretora-geral do Instituto Internacional de Gestão da Água, Cláudia Sadoff, e o presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba), Celestino Zanella.
De acordo com o Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvimento dos Recursos Hídricos 2018, lançado nesta segunda-feira (19), pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), a agricultura consome 70% da água disponível no mundo, a indústria outros 20% (incluindo a geração de energia elétrica) e o consumo doméstico, 10%.
O documento aponta que o mundo precisará aumentar em 50% a produção de alimentos até 2050, caso mantenha o atual padrão de consumo. A edição incentiva a busca por soluções baseadas na natureza, que usam ou simulam processos naturais para contribuir com o aperfeiçoamento da gestão da água no mundo.