A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a proliferação do surto de sarampo na fronteira entre a Venezuela e o Brasil, como resultado do colapso dos serviços de saúde de Caracas. Novos dados publicados nesta terça-feira (10) alertam que a doença, erradicada do continente em 2016, voltou a ganhar força nos últimos meses e passou a se espalhar, em parte levada pelo fluxo de migrantes venezuelanos.
Em um documento da entidade, os números apontam que onze países da região já foram afetados pelo sarampo, entre eles o Brasil. Em 2017, eram apenas quatro os países afetados. Hoje, na Venezuela, mais de mil casos já foram identificados, com incidentes de exportação para Equador e Colômbia.
No caso do Brasil, a entidade alerta que o surto importado da Venezuela "ainda está em progresso", com 316 casos suspeitos. 213 deles em Roraima e 103 no estado do Amazonas. Desses, 46 foram confirmados, incluindo duas mortes. Ao final de março, eram 213 os casos suspeitos.
Os dados apontam ainda para um número cada vez maior de municípios atingidos. No Amazonas, já foram registrados casos em Anori, Humaitá, Manaus and São Gabriel da Cachoeira. Em Roraima, 31 deles estão em Boa Vista. Mas também outros onze em Pacaraima
Na avaliação da OMS, há ainda uma "progressão do surto, que mostra uma tendência de um contínuo crescimento". "Será necessário observar a tendências nas próximas semanas, já que os resultados ainda estão pendentes para 194 casos ainda sob investigação", alertou.
Entre as agências da ONU, o trabalho tem sido o de convencer governos da região a manter abertas suas fronteiras para um número cada vez maior de venezuelanos deixando o país. Mesmo com a doença registrada, o apelo é para que ninguém seja alvo de xenofobia e muito menos deportado de volta.
No caso da OMS, a recomendação é para que todos os países vacinem as populações em risco, incluindo médicos e enfermeiras, funcionários do setor do turismo e mesmo taxistas. A taxa de cobertura ideal seria de 95% da população em risco.
A entidade também sugere que reservas de vacinas sejam colocadas à disposição em regiões de risco e que o sistema de monitoramento seja fortalecido. A meta é a de "prevenir o restabelecimento de uma transmissão endêmica".
A OMS ainda recomenda que governos "identifiquem fluxos migratórios do exterior e movimentos internos, para facilitar o acesso aos serviços de vacinação".
A entidade indicou que tanto ela como a Organização Pan-americana de Saúde (Opas) estão contribuindo com a operação de vacinação, inclusive dentro da Venezuela. "O objetivo é conter o surto de sarampo", disse Fadela Chaib, porta-voz da OMS
A constatação é de que o fluxo de imigração e refugiados ao Brasil trouxe a doença de volta ao País, depois que o sarampo havia sido erradicado em 2015. Em 2016, a doença também havia sido erradicada das Américas, numa conquista que foi comemorada pela OMS. Em setembro daquele ano, a entidade declarou o continente como a "primeira região do mundo livre do sarampo".
Na semana passada, o governo indicou que deve prorrogar a campanha de vacinação contra sarampo em Roraima em virtude da baixa adesão. O prazo teria de ser concluído neste dia 10 de abril, mas menos de 10% do público-alvo foi imunizado. Até o dia 4 de abril, apenas 39 mil pessoas tomaram a vacina. O objetivo era proteger pelo menos 400 mil pessoas, dentre elas 100 mil venezuelanas que agora estão em Roraima.
"A OMS está trabalhando com as autoridades nacionais e locais para conter o surto de sarampo nos estados de Roraima e Amazonas, para proteger a saúde dos migrantes venezuelanos e das comunidades que os recebem", disse Chaib.
Segundo ela, a Opas também está fornecendo material para a vacinação no Brasil, além de enviar especialistas para a região.
Até o final de março, os documentos da Opas indicavam que os casos afetavam pessoas de 3 meses a 33 anos de idade. 80% deles nunca tinham sido vacinados e a maioria era venezuelano. O tipo do sarampo encontrado era o mesmo que foi registrado no surto na Venezuela, em 2017.
Enquanto a OMS tenta frear o surto, outras agências lançam operações para tentar lidar com o fluxo de imigrantes e refugiados. Nesta terça-feira, a Organização Internacional de Migrações estimou que, até o final de 2017, 1,7 milhão de venezuelanos tinham saído do país. 1,3 milhão deles estariam na América do Sul e, desses, apenas 400 mil foram regularizados.
Alejandro Guidi, conselheiro da OIM para as Américas, estima que sua entidade precisa de US$ 32,3 milhões para ajudar governos locais, em um plano lançado para garantir melhor atendimento aos imigrantes. Ainda existiriam outros 308 mil venezuelanos na América do Norte.
17 países latino-americanos serão auxiliados pela entidade internacional, com cerca de US$ 3 milhões sendo destinados ao Brasil.