Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) divulgado nessa quinta-feira (4) informa que os quatro meses de conflitos de milícias nas duas maiores cidades da Líbia, Trípoli e Benghazi, forçou 250 mil pessoas a fugirem, dentre elas 100 mil estão desalojadas internamente.
O documento da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL) e do Comitê de Direitos Humanos da ONU estima que 150 mil pessoas, incluindo trabalhadores imigrantes, fugiram do país. O relatório diz que um "clima de medo" deixou os cidadãos relutantes em falar sobre abusos cometidos pelas milícias.
Os últimos quatro meses têm registrado batalhas generalizadas entre milícias islâmicas na cidade de Benghazi - berço da revolta que destituiu Muamar Kadafi em 2011 - e poderosas milícias regionais lutam pelo controle do aeroporto internacional em Trípoli. Milícias islâmicas tomaram praticamente toda a capital.
O aumento da violência é o pior na Líbia desde que os rebeldes, apoiados por aviões de guerra da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), depuseram e mataram Kadafi. O conflito tem como origem a confiança dos governos transitórios seguintes que se apoiam numa rede de milícias, muitas das quais formadas por ex-rebeldes, para restaurar a ordem na Líbia após a destruição das forças regulares da polícia e do Exército durante a revolta.
O governo e o Parlamento eleitos estão reunidos na cidade de Tobruk, no leste do país, enquanto grupos paralelos formados pelas principais facções islâmicas - derrotadas nas eleições de junho - se reúnem na capital, fragmentando ainda mais o país rico em petróleo. O governo diz que não controla mais os prédios dos ministérios.
De acordo com o relatório da ONU, milícias armadas têm sequestrado membros de grupos rivais e civis, e realizado torturas e assassinatos. Eles usam uma "variedade de armas em áreas povoadas", indo de pequenas armas a ataques aéreos, diz o documento. A ONU também disse que a péssima condição dos armamentos e a falta de treinamento e de respeito às vidas dos civis tornaram as zonas de guerra ainda mais perigosas.
O conflito também interrompeu a vida cotidiana nas duas cidades que sofrem com longos cortes de energia e de água, falta de combustível e de outros bens básicos.
As pessoas desalojadas incluem milhares de membros da comunidade libanesa Tawergha, cujos integrantes têm pele escura e que foi acusada de se unir às forças de Kadafi quando a cidade costeira de Misrata foi sitiada, numa das batalhas mais sangrentas da revolta. As milícia islâmica em Misurata - uma das mais poderosas do país - expulsou os Tawergha de sua cidade, que fica próxima a Misurata, no fim da guerra.
O relatório da ONU diz que a comunidade Tawergha foi desalojada novamente no último mês, quando milicianos atacaram os campos que serviam de abrigo para seus membros em Trípoli, sequestrando diversas pessoas.