Crise Racial

Policial branco mata outro jovem negro em cidade perto de Ferguson

Em novembro passado, Ferguson foi tomada por uma série de protestos, após a decisão de um grande júri de não processar o policial branco que matou Michael Brown

Da AFP
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Publicado em 24/12/2014 às 18:25
Foto: JEWEL SAMAD / AFP
Em novembro passado, Ferguson foi tomada por uma série de protestos, após a decisão de um grande júri de não processar o policial branco que matou Michael Brown - FOTO: Foto: JEWEL SAMAD / AFP
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Um policial matou um jovem negro armado em um posto de gasolina perto de Saint Louis, no estado do Missouri - anunciou a corporação, nesta quarta-feira, já questionada por incidentes letais anteriores que provocaram grande revolta nos Estados Unidos.

O tiroteio aconteceu na terça à noite em Berkeley, uma localidade próxima de Ferguson. Em novembro passado, Ferguson foi tomada por uma série de protestos, após a decisão de um grande júri de não processar o policial branco que matou Michael Brown, um afro-americano de 18 anos que estava desarmado.

Segundo o chefe da Polícia do condado de St. Louis, John Belmar, o homem abatido "apontou uma arma na direção do oficial, que sacou sua arma e, ao que parece, atirou três vezes".

"Em um primeiro momento, uma bala alcançou o suspeito; outra, um automóvel; e uma terceira não foi encontrada", acrescentou Belmar.

"Quando alguém aponta uma pistola para a polícia, não se tem muito tempo para reagiu", alegou o chefe policial.

Nesta quarta, a polícia de St. Louis anunciou que abriu uma investigação e tem uma gravação do vídeo da câmera de segurança, que será apresentado em uma entrevista coletiva.

As autoridades anunciaram que recuperaram uma pistola de 9mm, cujo número de série estava apagado. A arma já está sendo analisada. O segundo suspeito fugiu do local.

As autoridades locais descartaram qualquer semelhança deste episódio com o drama ocorrido em Ferguson.

"Não se pode, de modo algum, comparar isso com Ferguson, ou com o caso Garner, em Nova York [onde um cidadão negro também foi morto por violência policial]", enfatizou o prefeito de Berkeley, Theodore Hoskins, em entrevista coletiva.

"Nossa cidade é diferente de Ferguson. A maioria da nossa administração é de raça negra. A maioria dos nossos oficiais de polícia é negra", frisou.

"Esse era um homem jovem, apontando uma arma ilegal para um policial, que respondeu", justificou a senadora do Missouri, María Chappelle Nadal, em conversa com a rede CNN.

Segundo as autoridades, o jovem morto ainda não foi identificado, mas a imprensa local informou, com base no depoimento de uma mulher que garantiu ser a mãe da vítima, que seu nome seria Antonio Martín, de 18 anos.

"A namorada dele me disse que a polícia provocou problemas", disse a mulher, que se apresentou como Toni Martin.

"Quando ele tentou levantar e fugir, começaram a atirar. Não vão dizer nada", completou.

Canais de televisão americanos mostraram imagens de centenas de moradores indignados, que se reuniram rapidamente ao redor do posto de gasolina de Berkeley. Vários policiais também seguiram para lá.

De acordo com a imprensa, morteiros foram lançados contra o posto de gasolina, e a polícia usou spray de pimenta para dispersar a multidão. Um agente precisou ser internado.

Este é o mais recente de uma série de tiroteios mortais que provocam protestos generalizados no país contra a forma como a polícia atua contra integrantes da comunidade negra.

- Revolta -

A atual onda de incidentes teve início com a morte em agosto do jovem Michael Brown, atingido por tiros por um policial branco na cidade de Ferguson, subúrbio de St. Louis.

A morte de Brown deflagrou uma revolta considerável no país, particularmente entre a comunidade afro-americana. O policial atirou 12 vezes contra o jovem negro desarmado. A decisão da Justiça de não processar o agente aumentou a raiva popular, em novembro, com protestos violentos se espalhando pelo país.

Várias tragédias recentes do mesmo tipo reforçaram a ira da comunidade negra, que se considera vítima de racismo por parte da polícia.

Em novembro, um adolescente negro de 12 anos foi morto em Cleveland, no estado de Ohio, quando carregava uma arma de brinquedo em um parque infantil. Em julho, Eric Garner, suspeito de vender cigarros de maneira ilegal em Nova York, morreu, após ser jogado no chão e ter o pescoço apertado por um policial branco.

Em 14 de dezembro, pelo menos 25 mil manifestantes paralisaram vários bairros de Nova York, e milhares caminharam por Washington para exigir justiça para os negros assassinados por policiais brancos.

A situação ficou mais grave no sábado, quando dois policiais de Nova York morreram em plena luz do dia em sua viatura, quando um homem negro, que depois foi morto, abriu fogo à queima-roupa, em um aparente ato de vingança.

Um grupo que combate a violência policial contra os negros convocou uma grande manifestação na Times Square para 31 de dezembro à noite, desafiando a suspensão solicitada pelo prefeito Bill de Blasio depois da morte dos dois oficiais.

"Temos de continuar nossa luta enquanto a polícia seguir cometendo estes assassinatos, enquanto o sistema judicial se negar a perseguir e processar todos os policiais assassinos", disse Carl Dix, um dos organizadores do ato.

- Vídeo polêmico -

A respeito da morte de Michael Brown, a polícia de Los Angeles abriu uma investigação preliminar sobre uma canção racista contra o jovem, interpretada por um ex-policial durante um evento de caridade.

O site de notícias sobre celebridades TMZ revelou a existência de um vídeo filmado durante o jantar organizado por um ex-policial. A canção diz frases como "Michael Brown é mau" e "seu cérebro estava espalhado no chão".

Segundo o TMZ, "o policial aposentado Joe Myers organizou um torneio de golfe de caridade na semana passada e um jantar pouco depois". Durante o evento, diante de quase 50 pessoas, "Gary Fishell, um detetive particular e ex-policial federal, cantou a música racista", completou o TMZ.

Um porta-voz da polícia de Los Angeles (LAPD) disse à AFP que se trata de "um detetive aposentado desde 2007 da LAPD" e que a polícia abriu uma "investigação preliminar para saber se havia policiais da ativa presentes no jantar de caridade e se tiveram um comportamento ruim". Em caso positivo, acrescentou, será aberta uma investigação oficial.

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