Salman Ben Abdel Aziz, o novo rei da Arábia Saudita

Príncipe-herdeiro desde junho de 2012, Salman ganhou visibilidade nos últimos anos ao presidir o Conselho de Ministros com frequência
Da AFP
Publicado em 23/01/2015 às 7:35
Príncipe-herdeiro desde junho de 2012, Salman ganhou visibilidade nos últimos anos ao presidir o Conselho de Ministros com frequência Foto: Foto: AFP


O príncipe Salman Ben Abdel Aziz, de 79 anos, novo rei da Arábia Saudita, tem fama de probidade e é considerado um negociador respeitado na família Real.

Príncipe-herdeiro desde junho de 2012, Salman ganhou visibilidade nos últimos anos ao presidir o Conselho de Ministros com frequência e representar o rei Abdullah no exterior. Por motivos de saúde, o soberano já havia reduzido, consideravelmente, suas atividades públicas.

Também era vice-primeiro-ministro, cargo que ostentou junto com o de herdeiro ao trono em 2012, com a morte de seu irmão Nayef. Acumulava ainda o posto de ministro da Defesa, desde outubro de 2011.

Número dois do reino, o príncipe Salman multiplicou as visitas ao Ocidente e à Ásia, o que deu dimensão internacional à sua carreira, até 2012 centrada em assuntos domésticos.

Apesar de uma saúde frágil, quis mostrar "sua determinação para ser rei, ou, mais provavelmente, a ambição de seus parentes para que pareça como tal", comentou o especialista em Golfo Simon Henderson, do Washington Institute.

Seu papel ficou um pouco fragilizado com a decisão anunciada pelo rei Abdullah em março de 2014 de designar Muqrin, o caçula dos 35 filhos do fundador do reino, como futuro príncipe-herdeiro.

Construtor de Riad

Nascido em Riad, em 31 de dezembro de 1935, o príncipe Salman foi governador da capital por cerca de meio século. A maioria das províncias sauditas é dirigida por membros da família Real, com status de ministros.

"Esse posto lhe trouxe experiência, e ele pôde acompanhar a emergência de Riad como capital", afirmou Eleanor Gillespie, na "Gulf States Newsletter", baseada em Londres. Ele é considerado o artífice do desenvolvimento dessa cidade erguida em pleno deserto pela dinastia Al-Saud e por sua transformação em uma cidade moderna.

Seu cargo lhe ofereceu, principalmente, a oportunidade de "desempenhar o papel de árbitro muito respeitado nos assuntos da família Al-Saud", acrescenta Gillespie, garantindo que o príncipe Salman tem "uma reputação de probidade".

A especialista Jane Kinninmont, da Chatham House, em Londres, diz que Salman é "considerado relativamente liberal" e pode "adotar um enfoque mais reformista, desde que dentro das limitações e linhas vermelhas do sistema".

Segundo Jane, ele poderá ter, inclusive, uma atitude "mais construtiva em relação à instabilidade na região, que o príncipe Nayef sempre considerou fruto das ingerências iranianas mais do que expressão de reivindicações locais".

O príncipe Salman é o 25º filho do rei Abdel Aziz, fundador do reino, e faz parte do clã dos Sudairi, os sete filhos da mesma mãe, Hasa bin Ahmad al-Sudairi, favorita do rei. Entre seus irmãos, estavam o rei Fahd e os príncipes Nayef e Sultan, os três falecidos. Salman tem problemas de saúde e, em 2010, foi operado de uma hérnia de disco.

Casado três vezes, Salman tem dez filhos vivos. O mais conhecido é o astronauta Sultan Ben Salman, único saudita que participou de uma missão espacial, atual presidente da Comissão de Turismo e de Antiguidades. Outro filho, o príncipe Abdel Aziz, é vice-ministro de Petróleo.

Príncipe-herdeiro

O príncipe Muqrin Ben Abdel Aziz, de 69 anos, nomeado príncipe-herdeiro da Arábia Saudita, era um confidente do falecido rei Abdullah e um aspirante liberal ao trono do primeiro país mundial exportador de petróleo.

Nascido em 15 de setembro de 1945, em Riad, Muqrin é o caçula dos 35 filhos de Abdel Aziz, fundador do reino saudita. Seguiu formação militar na Grã-Bretanha antes de entrar na política. Diplomado em 1968 na prestigiosa Escola Militar de Cranwell, serviu nas Forças Aéreas sauditas antes de ser, a partir de 1980, governador de Hael (norte) e, depois, de Medina (oeste).

Em outubro de 2005, ficou responsável pelos serviços de Inteligência. Essa missão lhe permitiu completar sua experiência política e desenvolver suas relações internacionais. Em julho de 2012, foi nomeado pelo rei Abdullah como seu conselheiro e enviado pessoal. Em fevereiro de 2013, o príncipe Muqrin foi designado segundo-vice-presidente do Conselho de Ministros, o que abriu caminho para sua nomeação como futuro príncipe-herdeiro.

Conhecido por sua modéstia e por prestar atenção às preocupações de seus concidadãos, o príncipe se interessa pelas temas agrícolas e astronômicos. Pai de 15 filhos, seis homens, fruto de dois casamentos, Muqrin preside, assim como os demais membros da família Real, várias organizações sociais.

Em 27 de março de 2014, o decreto Real com sua nomeação como futuro príncipe-herdeiro o confirma em sua função de segundo-vice-presidente do Conselho de Ministros.

Além disso, será proclamado soberano "em caso de vácuo simultâneo nos cargos de príncipe-herdeiro e rei", informa o decreto Real, destacando que sua nomeação, decidida por "mais de três quartos" dos 34 membros do Conselho de Fidelidade e com o aval do novo rei Salman, é irrevogável. Uma fonte política afirmou, porém, que "sete príncipes-membros do Conselho de Fidelidade emitiram reservas", um sinal das divisões dentro da família Real nessa nomeação inédita.

Ao contrário de Salman, Muqrin não faz parte do clã dos Sudairi, os sete filhos de Hasa bin Ahmad al-Sudairi, a favorita do rei e fundador do reino, Abdel Aziz. De mãe iemenita, seu eventual acesso ao trono estabeleceria um precedente, já que o rei sempre foi de mãe saudita.

"O teste de verdade chegará com a morte de Salman, porque Muqrin não faz parte dos 'sete Sudairi', e sua nomeação não respeitou o direito de primogenitura", avalia Frederic Wehrey, especialista em Golfo do Carnegie Institute. Sua fama de liberal contribui para colocá-lo, porém, como garante de uma continuidade nas reformas econômicas e sociais iniciadas pelo rei Abdullah.

Graças à rede de relações internacionais criada em seus anos à frente do serviço de Inteligência saudita (2006-2012), o príncipe Muqrin está envolvido na Política Externa do reino, incluindo no Afeganistão, Paquistão, Síria e Iêmen, segundo diplomatas sauditas. Muqrin é conhecido por sua declarada hostilidade ao Irã, o vizinho xiita de histórica rivalidade, exacerbada pelas ambições regionais de Teerã.

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