Sobreviventes do Holocausto e chefes de Estado se reúnem nesta terça-feira em Auschwitz para proclamar um novo "Nunca mais!", 70 anos depois da libertação do campo de extermínio nazista, tendo novos lampejos de antissemitismo na Europa como pano de fundo.
As primeiras cerimônias começaram pela manhã, no imenso campo coberto com uma espessa camada de neve. Ex-prisioneiros depositaram flores e velas diante do chamado muro da morte, onde ocorreram muitas execuções antes que os nazistas instalassem as câmaras de gás.
Na véspera, os sobreviventes, atualmente nonagenários, em sua maioria, que conseguiram evitar a morte quando cerca de 1,1 milhão de pessoas - entre elas um milhão de judeus - foram exterminadas, pediram que o mundo faça todo o possível para evitar que o horror do Holocausto se reproduza.
A preocupação pela recente onda de antissemitismo na Europa ficava evidente nesta terça-feira nos muitos encontros de sobreviventes.
Vinte dias depois dos mortíferos atentados de jihadistas franceses contra a revista satírica Charlie Hebdo e contra um supermercado kasher, o presidente François Hollande, que nesta terça-feira visitará o Memorial da Shoah antes de pegar o avião rumo à Polônia, anunciou que reforçará as sanções contra o racismo e o antissemitismo em seu país.
Alguns dos sobreviventes que se dirigem a Auschwitz enxergam um vínculo entre os atentados da França e os conflitos no Oriente Médio. "O que ocorreu na França está vinculado ao que acontece no Oriente Médio e gostaria muito que este último problema fosse resolvido, porque penso que isso influencia o antissemitismo na Europa", declarou à AFP Celina Biniaz, uma octogenária proveniente da Califórnia (Estados Unidos).
O presidente alemão, Joachim Gauck, declarou, por sua vez, que "não há identidade alemã sem Auschwitz", insistindo que seu país tem uma grande responsabilidade para "proteger os direitos de cada ser humano".
"Aqui na Alemanha, caminhamos todos os dias diante de casas de judeus deportados; aqui na Alemanha, onde sua aniquilação foi planejada e organizada. Aqui, o horror passado está mais perto e a responsabilidade é muito maior e imperativa que em outros lugares", afirmou.
Banimento
O aumento do antissemitismo foi mencionado na segunda-feira pelo cineasta Steven Spielberg, autor, entre outras obras, de "A lista de Schindler", e pai da Fundação da Shoah, que registrou em imagens os testemunhos de 53.000 sobreviventes do Holocausto.
Spielberg, que discursou em Cracóvia junto ao presidente do Congresso Mundial Judeu, Ronald S. Lauder, denunciou "os esforços crescentes para banir os judeus da Europa".
O tom foi o mesmo na segunda-feira em Praga, onde o Congresso Judeu Europeu realizou uma cerimônia paralela com o fórum "Le My People Live" (Deixem meu povo viver). "A comunidade judaica da Europa está próxima de um novo êxodo", afirmou o presidente da organização, Moshe Kantor.
Além de Hollande, nesta terça-feira são esperados o presidente alemão Joachim Gauck, o ucraniano Petro Poroshenko, o secretário americano do Tesouro Jack Lew e o chefe da administração presidencial russa Serguei Ivanov representando seu país, já que Vladimir Putin, que compareceu em 2005, não irá por, segundo Moscou, não ter recebido convite oficial. Todos participarão da cerimônia principal na tarde desta terça-feira em frente ao memorial de Birkenau, local de extermínio.
Orações
A cerimônia principal está prevista a partir das 14h30 GMT (12h30 de Brasília), sob uma grande tenda instalada na entrada do campo de Auschwitz II -Birkenau. Antigos prisioneiros, assim como um representante dos "Pilares da Lembrança" - doadores generosos do museu - pronunciarão breves discursos. Depois será ouvido o som do shofar, um chifre utilizado em rituais israelenses, e orações judaicas pelos mortos.
Os participantes se aproximarão a pé do monumento às vítimas do Birkenau, a menos de um quilômetro de distância, para depositar flores e acender velas.