O juiz Daniel Rafecas, especialista em direitos humanos e sobre o Holocausto, acolherá a denúncia de suspeita de acobertamento contra a presidente Cristina Kirchner a favor de ex-governantes iranianos, supostamente envolvidos em um atentado antissemita em 1994, em Buenos Aires.
Leia Também
- Promotora que investiga morte de Nisman desiste de tirar férias
- Promotor Alberto Nisman é enterrado na Argentina
- Chefe de gabinete de Cristina rasga páginas do 'Clarín' durante entrevista
- Cristina Kirchner dissolve Secretaria de Inteligência
- Denúncia de promotor foi escrita por outra pessoa, diz aliado de Cristina
- Cristina é livre para mudar de opinião, diz investigadora da morte de Nisman
A denúncia tinha sido apresentada pelo promotor Alberto Nisman, morto em circunstância misteriosas em 18 de janeiro.
A decisão foi tomada pela Câmara Federal para liquidar o debate jurídico entre Rafecas e outros dois juízes sobre qual deles deveria se ocupar do caso, informou o Centro de Informação Judicial (CIJ), uma instituição federal.
Quatro dias antes de aparecer morto em seu apartamento com um tiro na cabeça, em circunstâncias obscuras, Nisman acusou a presidente de proteger os iranianos.
O ex-presidente iraniano Ali Rafsanjani é um dos suspeitos do ataque à mutual judaico-argentina AMIA, que deixou 85 mortos e 300 feridos.
O caso dividiu o país entre aqueles que acham que Nisman foi uma vítima do governo e os que denunciam um complô internacional para desacreditar Kirchner, supostamente impulsionado por poderosos ex-agentes dos serviços de inteligência, demitidos de seus cargos em 17 de dezembro passado.
Rafecas julgou militares da ditadura (1976-83) por crimes contra a humanidade e foi agraciado por seus estudos sobre a Shoá praticada pelos nazistas com os prêmios de Direitos Humanos da Fundação B'nai B'rith, Moisés 2011 da Sociedade Hebraica Argentina e Gilbert Lewi, da Fundação Museu do Holocausto de Buenos Aires.
A morte de Nisman, considerada "duvidosa", pois ainda não está clara se tratou-se de suicídio ou homicídio, é investigada por outra promotora, Viviana Fein.
Fein suspendeu, nesta quarta-feira, as férias que iniciaria em 18 de fevereiro, após críticas do governo e pedidos para que não abandonasse o cargo.
"Não vista o maiô. Estamos em uma investigação que preocupa todos os argentinos", disse em coletiva de imprensa o secretário-geral e porta-voz da Presidência, Aníbal Fernández.
Nesta quarta-feira, Kirchner estava na China, onde assinou acordos de fortes investimentos em energia e transportes com o governo de Xi Jinping.
Em 2004, Nisman, com o apoio do então presidente Néstor Kirchner (2003-2007), acusou oito ex-governantes iranianos e um libanês pelo ataque.
Mas em 2011, sua esposa e sucessora, Cristina Kirchner, assinou um acru
cordo com o Irã para poder interrogar os iranianos em Teerã, apesar da oposição do promotor e da dirigência da mutual judaica da Argentina, que tem 300.000 membros.
O promotor acusou Cristina Kirchner de pedir à Interpol para suspender os pedidos de captura contra os iranianos, mas o ex-secretário geral da organização policial internacional, Ronald Noble, o desmentiu.
Nisman escreveu que Kirchner queria conseguir petróleo do Irã em troca do acobertamento dos iranianos, embora o óleo cru exportado por Teerã não sirva para ser processado na Argentina.