Cerca de 30 mil soldados iraquianos e milicianos atacaram posições jihadistas em Tikrit e seus arredores, ao norte de Bagdá, nesta segunda-feira, na maior ofensiva lançada até agora para recuperar um dos principais redutos do Estado Islâmico (EI).
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Nesses últimos meses, o Exército iraquiano e as milícias aliadas do governo têm avançado para o norte, registrando algumas vitórias. Em Tikrit, porém, foram repelidos algumas vezes.
De acordo com um coronel do Exército iraquiano, que conversou por telefone com a AFP, o combate desta segunda de manhã é "o maior" lançado desde a tomada de amplas faixas do território por parte do EI.
"Caça-bombardeiros, helicópteros e artilharia se dirigem para Tikrit para assegurar o avanço (das forças pró-governamentais) e cortar as vias de abastecimento", relatou, acrescentando que "as forças de segurança avançam em três direções: Tikrit, Ad Dawe (sul) e Al Alam (norte)".
Fontes militares reportaram que aviões iraquianos participam da operação, mas que a ofensiva não conta com reforço aéreo da coalizão internacional antijihadista liderada pelos Estados Unidos.
"Não estamos realizando ataques aéreos em apoio à operação perto de Tikrit", disse à imprensa o porta-voz do Departamento de Defesa americano, coronel Steven Warren.
Warren negou-se a dizer se aviões de reconhecimento americanos estão ajudando na operação com informações de inteligência. Já uma fonte anônima da Defesa americana confidenciou à AFP que aviões americanos forneceram dados de Inteligência e reconhecimento.
Segundo o coronel iraquiano, as forças do governo "também avançam por vias secundárias com o objetivo de impedir uma fuga do Daesh (acrônimo do EI em árabe)". Há nove meses, o grupo controla a cidade natal do ditador iraquiano executado Saddam Hussein.
O EI havia se apoderado dessa cidade em junho, aproveitando-se de um ataque no norte e no oeste do país, onde o grupo extremista sunita impõe sua lei e multiplica as atrocidades, como nos territórios controlados na vizinha Síria.
Batalha estratégica
O comandante militar para a província de Saladino, Abdel Wahab Saadi, destacou a importância ao mesmo tempo estratégica e simbólica dessa batalha. Trata-se de uma das mais ambiciosas operações militares lançadas por Bagdá para fazer os jihadistas recuarem e começou na madrugada desta segunda-feira.
"O objetivo é, certamente, terminar de libertar a província para permitir o retorno dos deslocados", disse à AFP o comandante Wahab Saadi.
"Mas também é um trampolim para a libertação de Mossul", a segunda cidade mais importante do país e capital iraquiana do EI, 350 km ao norte de Bagdá.
De acordo com o coronel iraquiano, as forças envolvidas na batalha de Tikrit estão integradas por Exército, polícia, unidades antiterroristas, grupos de voluntários pró-governo - as chamadas Unidades de Mobilização Popular - e tribos locais sunitas hostis ao EI.
Segundo veículos de comunicação iranianos e iraquianos, também está na província de Saladino, onde fica Tikrit, o comandante da Força Qods, o general iraniano Ghassem Suleimani. Esta é uma unidade de elite do Exército iraniano, que colabora na coordenação das operações.
A operação foi anunciada no domingo pelo primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, que pediu às forças pró-governo que poupem a população civil.
"A prioridade que estabelecemos para o Exército e para as forças que vão ajudar é preservar a segurança dos cidadãos", frisou Al-Abadi.
Vingança
O comandante das Unidades de Mobilização Popular e figura central da luta no Iraque contra o EI, Hadi al-Ameri, havia pedido à população de Tikrit que abandonasse a cidade em 48 horas, para vingar Speicher.
Nessa base militar próxima a Tikrit, centenas de novos recrutas, principalmente xiitas, foram capturados e depois executados, nos últimos dias da ofensiva do EI no Iraque.
As milícias xiitas, em particular, sempre prometeram vingar as execuções da base de Speicher, provocando o medo de um possível massacre contra a população sunita, se Tikrit for recuperada.
Tikrit é a terra natal do ex-ditador Saddam Hussein, capturado em 2003 por soldados americanos e morto em 2006. Antigos quadros de seu partido, o Baath, são acusados de terem se aliado ao EI.
Além disso, certas tribos sunitas da região também estariam envolvidas no massacre de Speicher.
O analista John Drake, do AKE Group, acredita em que a ofensiva deflagrada nesta segunda-feira tem mais chances de ser bem-sucedida do que os assaltos anteriores a Tikrit. Agora, explica o especialista, os grupos xiitas têm mais recursos.
"Muito provavelmente, porém, a operação será muito difícil", frisou, alegando que será complicado para as forças de segurança conseguirem informações sobre e no terreno, devido ao medo de represálias por parte do Estado Islâmico.