O Papa Francisco lançou neste sábado um forte apelo para superar os desafios de Nápoles - a corrupção que "fede", a "escravidão" e a rejeição dos migrantes - chamando a máfia a se "converter". Durante uma missa, Francisco denunciou o tráfico de drogas e, dirigindo-se aos mafiosos da Camorra, o Papa exortou-os a "converter-se ao amor e à justiça".
"É sempre possível voltar a uma vida honesta. São mães que choram que pedem isso nas igrejas de Nápoles", disse, diante de cem mil fiéis na praça do Plebiscito.
Ele pediu à população para viver uma nova "primavera" para "um futuro melhor", "sem se refugiar no passado". Para esta primeira visita a Nápoles, o Papa argentino, acompanhado pelo cardeal Cescenzio Sepe, percorreu no papamóvel as ruas lotadas, onde dezenas de milhares de fiéis agitavam bandeiras do Vaticano. "Como um animal morto fede, a corrupção fede, a sociedade corrupta fede, e um cristão que deixa entrar a corrupção fede", declarou sem rodeios aos habitantes do bairro pobre de Scampia, advertindo que "todos têm a oportunidade de ser corrupto e resvalar para a delinquência".
O Papa, sentado em um pódio no meio de centenas de crianças, criticou "aqueles que tomam o caminho do mal e que roubam um pedaço de esperança sobre si mesmo, a sociedade, a boa reputação da cidade, a sua economia".
Algumas faixas exibidas por fiéis proclamavam: "Não se entregue ao mal" e "Stop aos incêndios tóxicos", referindo-se ao escândalo das descargas tóxicas da "Terra dei fuochi."
No fundo cinzento e deprimido da praça João Paulo II (nome dado em memória a visita do Papa polonês, em 1990), Francisco respondeu ao magistrado napolitano Antonio Buonajuto, que havia considerado que "o respeito pela lei é traído diariamente pela corrupção pública e privada que permeia o corpo social, gerando delinquência Juvenil, desespero e morte".
'Somos todos migrantes'
O Papa apoiou fortemente o apelo da filipina Corazon Dag-Usen, que pediu que os imigrantes vindos da África e da Ásia sejam "reconhecidos", e apelou para um teto para as muitas pessoas que estão desabrigadas.
"Eles são cidadãos, não são cidadãos de segunda classe! Nós também somos todos migrantes, filhos de Deus, no caminho da vida! Ninguém tem um lar permanente nesta terra", insistiu Francisco.
O desemprego estrutural, especialmente entre os jovens, também foi denunciado. O Papa observou que o desemprego entre as pessoas com menos de 25 anos é de 40%. As instituições de caridade e assistência social não podem substituir a "dignidade" do trabalhador, que "não tem a oportunidade de levar o pão para casa".
O Papa considerou ainda que o trabalho clandestino, generalizado na economia paralela napolitana, era uma forma de "escravidão". Ele citou o testemunho de uma jovem que havia recebido uma proposta de 11 horas de trabalho por dia, por 600 euros por mês. Neste quadro sombrio, em meio a aplausos estrondosos, o Papa exaltou a vitalidade da cultura napolitana: "A vida em Nápoles nunca foi fácil, mas nunca triste, seu maior recurso é a alegria".
Para evitar qualquer ataque, as medidas de segurança foram reforçadas neste sábado durante a visita de Francisco. Segundo a imprensa local, 3.000 agentes das forças de segurança, incluindo atiradores, foram mobilizados.
Desde sua eleição, Francisco denuncia as organizações mafiosas italianas, convidando os católicos a parar toda a cooperação ambígua com esses grupos criminosos.