Tentativa de golpe no Burundi deixa três mortos e é condenada pela ONU

É a primeira vez que são registradas mortes desde o início da tentativa de golpe de Estado
Da AFP
Publicado em 14/05/2015 às 16:56
É a primeira vez que são registradas mortes desde o início da tentativa de golpe de Estado Foto: Foto: LANDRY NSHIMIYE / AFP


Violentos confrontos entre tropas rivais explodiram nesta quinta-feira (14) na capital do Burundi, Bujumbura, deixando três mortos, os primeiros desde a tentativa de golpe de Estado contra o presidente do país, lançada na véspera, que foi condenada pelo Conselho de Segurança da ONU nesta quinta-feira.

No início desta tarde, tropas do general golpista Godefroid Niyombare, ex-chefe dos serviços de Inteligência, lançaram um novo ataque para tomar o edifício da rádio televisão nacional (RTNB), protegido por soldados leais ao presidente, que conseguiram manter o controle deste edifício emblemático.

Ao menos três militares morreram nestes confrontos, constatou um jornalista da AFP que viu os cadáveres a aproximadamente um quilômetro da sede da rádio, embora não tenha conseguido confirmar a qual dos dois grupos eles pertenciam.

É a primeira vez que são registradas mortes desde o início da tentativa de golpe de Estado, na quarta-feira.

Nkurunziza estava na vizinha Tanzânia quando a tentativa de golpe foi lançada e permanece ali em uma localização secreta de Dar es Salaam, indicaram oficiais tanzanianos.

O diretor da rádio, Freddy Nzeyimana, disse à tarde que a emissora havia voltado a funcionar, depois de ter parado de transmitir horas antes.

A sede da RTNB também havia sido atacada no início da manhã, depois que o chefe das forças armadas do Burundi utilizou a rádio para anunciar que o golpe lançado por Nyombare havia fracassado.

Posteriormente, Nzeyimana anunciou pela rádio o fracasso destas ofensivas, afirmando que a situação estava controlada e "os soldados leais são os que controlam a RTNB".

A rádio divulgou uma mensagem telefônica de Nkurunziza a partir da Tanzânia, quase inaudível, mas na qual era possível reconhecer a voz do chefe de Estado.

Partidários do presidente atacaram, por sua vez, outros meios de comunicação independentes, como a Rádio Pública África, que transmitiam mensagens dos golpistas.

A tentativa de golpe ocorreu após semanas de protestos contra a intenção do presidente de conquistar um terceiro mandato, uma medida inconstitucional, segundo a oposição, já que Nkurunziza foi presidente durante duas legislaturas, desde 2005.

 

Condenações à tentativa de golpe

Enquanto isso, Nkurunziza segue na Tanzânia, onde estava quando a tentativa de golpe de Estado foi anunciada. Tentou retornar ao Burundi, mas ficou bloqueado no país vizinho, depois que seus opositores tomaram o controle do aeroporto e ordenaram o fechamento das fronteiras.

Um correspondente da AFP confirmou que o aeroporto da capital burundinesa estava nas mãos das forças golpistas.

"Está em Dar es Salaam, não podemos dizer onde", confirmou à AFP um oficial de segurança do presidente da Tanzânia.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, fez um apelo urgente à calma, enquanto o Conselho de Segurança condenou a tentativa de golpe e ordenou o retorno ao Estado de direito no país.

Os 15 integrantes do Conselho de Segurança, que se reuniram nesta quinta-feira para abordar a crise no país, condenaram, em um comunicado, o golpe de Estado contra o presidente Pierre Nkurunziza e ordenaram um rápido retorno ao Estado de direito.

Em um comunicado unânime, os membros do Conselho declararam que "condenam tanto os que promovem a violência de qualquer tipo contra civis quanto os que buscam tomar o poder por meios ilegais".

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado americano, Jeffrey Rathke, informou, em coletiva de imprensa, que os Estados Unidos reconhecem Nkurunziza como o presidente "legítimo" do Burundi.

O porta-voz admitiu haver uma "concorrência por exercer a autoridade" no Burundi, mas que Nkurunziza continuava sendo o presidente "eleito".

O Departamento de Estado também admitiu que a situação política era "muito mutável" em Bujumbura, capital sacudida por "múltiplos confrontos armados" e ressaltou o apelo à calma feito pelos Estados Unidos às partes envolvidas no conflito, expressando sua "profunda preocupação" diante do "envolvimento do Exército" nesta crise.

Enquanto os Estados Unidos convidaram os burundineses a abaixar as armas, colocar fim à violência e dar mostras de moderação, a União Europeia advertiu que é "essencial que a situação não fique fora de controle".

Nesta quinta-feira, o Conselho de Paz e Segurança da União Africana (UA) condenou a utilização da força para tomar o poder e anunciou o envio ao país "de observadores de direitos humanos".

Ao anunciar o golpe de Estado, Nyombare disse que ele não pretendia tomar o poder, mas formar um "comitê para a restauração da harmonia nacional" e trabalhar para a "retomada do processo eleitoral em um ambiente pacífico e justo".

Nyombare, uma figura muito respeitada, foi destituído em fevereiro depois de ter desaconselhado Nkurunziza a se apresentar novamente nas eleições presidenciais.

Desde o fim de abril, quando os protestos começaram, mais de 22 pessoas morreram.

Mais de 50.000 burundineses fugiram a países vizinhos nas últimas semanas e as Nações Unidas se preparam para a chegada de milhares de outros refugiados.

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