Após golpe fracassado, presidente do Burundi retorna em meio a manifestações

Pierre Nkurunziza chegou à tarde em Bujumbura, onde se dirigiu imediatamente ao seu palácio presidencial
Da AFP
Publicado em 15/05/2015 às 13:30
Pierre Nkurunziza chegou à tarde em Bujumbura, onde se dirigiu imediatamente ao seu palácio presidencial Foto: Foto: MARCO LONGARI / AFP


O presidente do Burundi, Pierre Nkurunziza, recuperou nesta sexta-feira (15) seu palácio em Bujumbura, de onde os líderes do golpe fracassado fugiram ou foram presos, enquanto manifestantes voltaram a protestar contra o chefe de Estado em alguns bairros da capital.

"Decidimos nos render. Espero que não nos matem", disse por telefone à AFP o general Godefroid Niyombare, líder dos golpistas.

Mas o general Niyombare escapou das forças oficiais.

"O general Niyombare não foi encontrado até o momento, mas sabemos que está escondido em um bairro ao sul da capital", afirmou uma fonte policial, confirmando a prisão de três outros líderes da tentativa de golpe de Estado na quarta-feira.

Os detidos são o porta-voz do grupo, o comissário de polícia Zeno Ndabaneze, e o número dois do movimento, o general Cyrille Ndayirukiye, que anunciou na quinta-feira à noite o fracasso do golpe.

Enquanto as forças leais ao presidente Nkurunziza perseguiam os golpistas em Bujumbura, o oficial garantiu que não haveria mortes, "queremos detê-los para que sejam julgados".

O presidente Nkurunziza chegou à tarde em Bujumbura, onde se dirigiu imediatamente ao seu palácio presidencial. Ele chegou de sua cidade natal de Ngozi, cerca de 140 km ao nordeste, onde passou a noite depois de voltar ao Burundi por terra.

Nkurunziza se viu bloqueado na Tanzânia pela tentativa de golpe de Estado, mas retornou ao país.

Ao longo da estrada entre Ngozi e Bujumbura, de acordo com testemunhas, Pierre Nkurunziza foi saudado por simpatizantes ao longo do caminho.

Mas desde as primeiras horas do dia, manifestantes voltaram a se reunir para protestar contra a intenção do presidente de disputar um terceiro mandato, uma medida considerada inconstitucional pela oposição, já que Nkurunziza está no fim de seu segundo mandato.

Desde o anúncio em 25 abril de sua candidatura, Bujumbura foi palco de manifestações, muitas vezes violentas, que deixaram mais de vinte e dois mortos.

O presidente Nkurunziza deve discursar ainda hoje na rádio-televisão nacional (RTNB).

Neste contexto, quatro ex-chefes de Estado do Burundi consideraram "anticonstitucional" a candidatura do presidente, considerando que ela "pode comprometer as conquistas da paz" desde o fim da guerra civil em 2006.

Em uma carta aos chefes de Estado da região, os quatro ex-presidentes expressam suas preocupações com a candidatura de Nkurunziza à presidência em 26 de junho.

Assinam o texto, datado de 11 de maio, Jean-Baptiste Bagaza (1976-1987), Sylvestre Ntibantunganya (1994-1996), Pierre Buyoya (1987-1993, e 1996-2003), e Domitien Ndayizeye (2003-2005)

 

Mais de 100.000 refugiados

Quarta-feira, o presidente do Burundi foi para a Tanzânia para participar de uma cúpula dedicada à crise política em seu país.

Este movimento popular foi apresentado por Godefroid Niyombare, ex-companheiro de armas de Pierre Nkurunziza durante a guerra civil (1993-2006) do Burundi, como uma das justificativas para o golpe: o general havia criticado o chefe de Estado, eleito em 2005 e 2010, por sua decisão de buscar um terceiro mandato, "desprezando" a vontade do povo.

A sociedade civil e parte da oposição se opõem ao terceiro mandato, que consideram inconstitucional. Mas a candidatura do atual presidente também causa divergências dentro do seu próprio partido, o CNDD-FDD.

Nyombare, uma figura muito respeitada, foi destituído em fevereiro depois de ter desaconselhado Nkurunziza a se apresentar novamente nas eleições presidenciais.

A comunidade internacional condenou a tentativa de golpe e os 15 integrantes do Conselho de Segurança da ONU ordenaram um rápido retorno ao Estado de direito.

Aterrorizados por um clima pré-eleitoral muito tenso, mais de 105.000 burundineses fugiram a países vizinhos nas últimas semanas e as Nações Unidas se preparam para a chegada de milhares de outros refugiados.

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