O Parlamento líbio manifestou seu descontentamento, nesta terça-feira (9), com o projeto de acordo proposto pela ONU às autoridades líbias rivais que negociam no Marrocos para tentar tirar o país do caos, que o grupo radical Estado Islâmico (EI) aproveitou para conquistar a cidade de Sirte.
O porta-voz da Assembleia reconhecida pela comunidade internacional, contatado pela AFP em Tobruk (leste), onde fica a sua sede, informou sobre um "grande descontentamento do Parlamento sobre o projeto de acordo", proposto pela ONU, que tenta conseguir a criação de um governo de unidade nacional.
A equipe de negociadores do Parlamento de Tobruk foi "chamada a consultas" pelo texto, informou Faraj Abu Hachem, e o mesmo não estará representado no encontro previsto para a quarta-feira em Berlim com dirigentes internacionais.
No entanto, tampouco anunciou sua retirada das negociações.
Mais cedo, o emissário da ONU, Bernardino León, havia assegurado que as partes em conflito, reunidas em um balneário do Marrocos perto de Rabat, responderam "positivamente" à quarta versão do projeto de acordo, apresentada na noite de segunda-feira.
"Há uma sensação de otimismo e muitas esperanças", afirmou o diplomata espanhol, acrescentando que "estamos diante da possibilidade de um triplo consenso: na sociedade líbia, entre os participantes do diálogo e também na comunidade internacional".
A ONU tenta há meses chegar a um compromisso que permita a criação de um governo de unidade na Líbia, esperando alcançá-lo antes do Ramadã, por volta de 17 de junho.
Publicado no site da Missão da ONU na Líbia (MANUL), o projeto de acordo, submetido na noite de segunda-feira, prevê em particular a formação, durante um ano, de um governo de unidade, com a designação de um primeiro-ministro.
León destacou na semana passada que a ONU está preparada para entregar uma lista de personalidades que poderiam integrar este governo quando se chegar a um acordo.
O Parlamento de Tobruk não está de acordo sobre "as prerrogativas concedidas ao Conselho Superior do Estado", explicou seu porta-voz.
Segundo o projeto, este Conselho estaria integrado por 120 membros, dos quais 90 proveriam do Parlamento rebelde com sede em Trípoli, sob os auspícios da Fajr Líbia, a coalizão de milícias - algumas islamitas - que controla a capital.
Neste contexto, o grupo EI anunciou nesta terça-feira ter tomado a cidade de Sirte e uma usina térmica vizinha das mãos da Fajr Libya, segundo um observatório americano.
O EI-província de Trípoli publicou na internet uma série de fotos que mostram "combatentes do EI lutando, sentados em cima de armas pesadas, inspecionando a usina e a cidade, assim como vários corpos de combatentes da Fajr Líbia", indicou o SITE, que monitora os sites jihadistas.
O grupo, que já controlava o aeroporto de Sirte, ocupou toda esta cidade costeira da região central do país.