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Governo da Grécia anuncia referendo sobre possível calote

A Grécia quer desbloquear o acesso a 7,2 bilhões de euros, última parcela do socorro de 240 bilhões de euros recebido de FMI e BCE desde 2010

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Publicado em 26/06/2015 às 21:37
Foto: LOUISA GOULIAMAKI/ AFP
A Grécia quer desbloquear o acesso a 7,2 bilhões de euros, última parcela do socorro de 240 bilhões de euros recebido de FMI e BCE desde 2010 - FOTO: Foto: LOUISA GOULIAMAKI/ AFP
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O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, anunciou nesta sexta-feira (26) que fará um referendo no próximo dia 5 de julho sobre o acordo com credores internacionais. O Parlamento pode ser convocado neste fim de semana para aprovar a proposta de votação popular.

Em discurso na televisão, Tsipas disse ser contrário à proposta de negociação dos credores, chamando-a de "humilhante". Ele afirmou, no entanto, que vai respeitar o que os gregos decidirem.

Na prática, diante do impasse criado nos últimos dias, o premiê quer passar para a população uma decisão que pode levar pela permanência ou não da Grécia na zona do euro.

Os ministros de Finanças dos 19 países da zona do euro se reúnem neste sábado (27) para discutir o assunto em Bruxelas.

A Grécia quer desbloquear o acesso a 7,2 bilhões de euros, última parcela do socorro de 240 bilhões de euros recebido de FMI (Fundo Monetário Internacional) e BCE (Banco Central Europeu) desde 2010. Sem esse dinheiro, o governo diz que não tem como pagar a dívida de 1,6 bilhão de euros que expira na próxima terça-feira (30) com o FMI -o fundo já avisou que não vai prorrogá-la.

Segundo jornais gregos, Tsipras deve pedir aos credores que prorroguem a dívida pelo menos até 5 de julho, a tempo de ouvir a população, e evitar um calote técnico.

FMI e BCE exigem uma série de compromissos fiscais que a Grécia não quer aceitar. O país alega que já apresentou uma oferta de ajuste de 7,9 bilhões de euros nas contas públicas. Em 2011, o então primeiro-ministro George Papandreou chegou a anunciar um referendo para discutir um pacote de ajuda da União Europeia, mas acabou recuando depois.

Alexis Tsipras, do partido de esquerda Syriza, acusou os credores de "chantagem" para salvar o país. "Os princípios da União Europeia são democracia, solidariedade, igualdade e respeito mútuo. Esses princípios não são baseados em ultimatos e chantagens. Ninguém tem o direito de colocar em perigo esses princípios. O governo grego vai continuar lutando em favor deles", disse neste sexta.

O governo grego rejeitou ainda uma última oferta dos países da zona do euro de prorrogar por mais cinco meses a dívida em troca de receber uma ajuda de 16,3 bilhões de euros. O novo socorro dependeria, no entanto, de a Grécia concordar com as reformas exigidas. A chanceler alemã, Angela Merkel, classificou de "generosa" a proposta. "Nós tomamos um passo em direção à Grécia, agora cabe a ela adotar um passo similar", afirmou, em Bruxelas.

Ao não pagar a dívida, a Grécia ficará sem ajuda externa pela primeira vez em cinco anos e pressionada a discutir a permanência na zona do euro. Ao mesmo tempo, o governo teme uma onda de saques bancários e a necessidade de impor um controle de retirada, medida impopular que transformaria uma crise econômica também em um problema político.

Eleito em janeiro sob discurso contrário a medidas de austeridade, Tsipras vive um dilema: aceitar duras reformas nas contas públicas, que podem trazer um desgaste político para seu partido, o Syriza (esquerda), ou encarar o calote e a pressão para deixar a zona do euro. Setores do seu partido e do aliado de coalizão, os Gregos Independentes, resistem a aprovar as propostas no Parlamento.

FMI e BCE exigem mais corte de gastos e endurecimento na reforma previdenciária. Cobraram que parte das medidas passe a valer a partir de julho, e não em outubro, como queriam os gregos. Os credores querem, entre outras coisas, que país suba de 0,4% para 1% do PIB a arrecadação em 2015 com a reforma previdenciária. Pedem também que a receita com a reforma do IVA, o imposto sobre valor agregado, seja de 1% do PIB, enquanto Atenas não aceita passar de 0,93%. Para FMI e BCE, o governo tem de dobrar o corte previsto de 200 milhões de euros nos gastos com Defesa.

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