A Europa acolhe com indiferença sua maior crise migratória desde a Segunda Guerra Mundial, denunciou à AFP o presidente da Cruz Vermelha Internacional, que convoca a comunidade internacional a despertar diante da magnitude da tragédia.
A dramática alta do número de migrantes e refugiados que chegam à Europa nas últimas semanas era esperada e previsível, afirma em uma entrevista Elhadj as Sy, presidente da Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (IFRC, em inglês).
"Vimos isso chegar", declara o responsável à AFP, lamentando a apatia na Europa e na comunidade internacional, o que permitiu que a crise fosse gerada.
"Temos que acabar com a indiferença", afirma. "Qual será o ponto de saturação? Quando as pessoas vão despertar e se dar conta de que se trata de uma verdadeira crise?", se pergunta.
As declarações do responsável humanitário ocorrem enquanto centenas de milhares de migrantes, escapando da guerra ou das perseguições de países como Síria ou Iraque, tentam chegar a nações da União Europeia (UE). Este fluxo é interminável e não parece ter fim.
A agência europeia Frontex anunciou que em julho passado um número recorde de 107.500 migrantes chegaram às fronteiras da UE.
A metade deles chegou à Grécia, com cerca de 21.000 novas chegadas às ilhas apenas na semana passada.
Por sua vez, a Alemanha declarou na quarta-feira que espera abrigar um número recorde de 800.000 demandantes de asilo em 2015, depois de ter acolhido 202.000 em 2014.
Resposta insuficiente
Sy afirma que sua organização já havia lançado alertas há anos para advertir que a espiral de migrantes ia gerar um caos se não ocorresse uma resposta humanitária adequada.
A UE aprovou fundos no valor de 2,4 bilhões de euros para ajudar os países membros que acolhem migrantes, mas segundo Sy esta resposta é insuficiente.
A UE pode fazer "mais e melhor", afirma.
Ao se referir às 2.400 pessoas mortas neste ano quando tentavam atravessar o Mediterrâneo, Sy expressa o desejo de que isso gere indignação e raiva não apenas na Europa, mas também nos países de origem dos migrantes.
Interrogado sobre a estratégia a ser adotada para lutar contra os traficantes de migrantes, Sy respondeu que eles têm seus próprios métodos. Agora a atenção está concentrada nas ilhas gregas, mas os traficantes "estão identificando outras vias e pontos de entrada" em direção à Europa.
"Hoje é a Grécia, mas amanhã pode haver outro ponto de entrada", afirma. E diz que a única maneira de deter os traficantes é aumentar os meios legais para poder emigrar.
"Quanto mais espaço para a imigração ilegal existir, menos espaço haverá para as atividades criminosas" em torno da migração, afirma o responsável da IFRC.