Os militares da guarda presidencial de Burkina Faso, que na quarta-feira (16) tomaram como reféns o presidente e membros do governo, anunciaram nesta quinta-feira (17) a dissolução das instituições do país, quase um ano após a deposição do ex-presidente Blaise Compaoré.
Em outubro de 2014, centenas de milhares de burquinenses tomaram as ruas para tirar do poder Compaoré, que estava há 27 anos à frente do país.
Na manhã desta quinta-feira (17), quase um ano depois, acompanharam impotentes a proclamação de um golpe de Estado militar na televisão nacional.
Os soldados do Regimento de Segurança Presidencial (RSP), um corpo de elite do exército e guarda pretoriana do ex-presidente Compaoré, atualmente exilado na Costa do Marfim, anunciaram ter dissolvido as instituições da transição e prometeram organizar eleições inclusivas.
O general Gilbert Diendéré, ex-chefe do Estado-Maior do ex-presidente, se colocou à frente de um Conselho Nacional da Democracia (CND), o novo poder implantado pelos golpistas, indicou o próprio CND nesta quinta-feira em um comunicado.
Além disso, os militares anunciaram que foi instaurado um toque de recolher entre as 19h00 e as 06h00 e que as fronteiras terrestres e aéreas do país foram fechadas até nova ordem.
Pouco antes, em uma mensagem à televisão nacional, o tenente Mamadú Bamba, do RSP, anunciou a renúncia do governo de transição, presidido por Michel Kafando, e do chamado Conselho Nacional de Transição.
"Teve início um grande diálogo para formar um governo que se dedicará à restauração da ordem política do país e da coesão nacional que conduza a eleições inclusivas e em calma", acrescentou Bamba.
O RSP rejeita a lei que proíbe aos partidários do ex-presidente se apresentar às eleições de 11 de outubro, que devem colocar fim à transição.
Disparos em Uagadugú
A polêmica lei eleitoral proíbe a apresentação dos que apoiaram uma mudança inconstitucional, uma referência à tentativa de Compaoré, quando estava no poder, de modificar a Constituição para eliminar o limite de mandatos presidenciais.
O presidente do Conselho Nacional de Transição, Cheriff Sy, denunciou na rádio francesa RFI um "golpe de Estado" e pediu à população "que se mobilize imediatamente".
Nas redes sociais, o movimento "Vassoura cidadã", que liderou os protestos contra o ex-presidente Compaoré, convocou uma nova concentração para "dizer 'não' ao golpe de Estado em andamento".
Na manhã desta quinta-feira foram ouvidos disparos em Ugadugú, a capital do país, enquanto os militares da guarda presidencial formavam barricadas ao redor de Ouaga2000, o bairro onde se encontra o palácio presidencial.
As ruas da capital estavam quase desertas, as lojas e escritórios administrativos fechados, enquanto o grande mercado da capital estava vazio.
A crise começou na tarde de quarta-feira, com a invasão no palácio presidencial, em pleno conselho de ministros, por militares do RSP, um corpo que conta com 1.300 efetivos do exército.
Os militares tomaram como reféns o presidente interino, Michel Kafando, o primeiro-ministro, Isaac Zida, e vários membros do governo. Segundo fontes concordantes, os militares deixaram as mulheres que formam parte do governo sair.
O golpe provocou a condenação unânime da comunidade internacional e o Conselho de Segurança da ONU, a União Africana, a União Europeia e a Comunidade Econômica de Estados da África ocidental exigiram a libertação de Kafando e de seu gabinete.
O presidente francês, François Hollande, condenou, por sua vez, um golpe de Estado e exigiu a restauração das instituições.