Migrantes entram na Croácia, nova rota para a Europa ocidental

A ministra croata da Saúde, Sinisa Varga, afirmou que as autoridades calculam a chegada de mais de 20 mil migrantes nas próximas duas semanas
Da AFP
Publicado em 17/09/2015 às 8:30
A ministra croata da Saúde, Sinisa Varga, afirmou que as autoridades calculam a chegada de mais de 20 mil migrantes nas próximas duas semanas Foto: Foto: ELVIS BARUKCIC / AFP


Milhares de migrantes entraram nesta quinta-feira  (17) na Croácia, decididos a seguir viagem até os países da Europa ocidental após o fechamento da fronteira Sérvia-Hungria, onde a calma retornou após os violentos confrontos com a polícia na véspera.

Nesta quinta-feira (17), a pequena estação ferroviária de Tovarnik, uma localidade croata próxima da fronteira sérvia, foi tomada por migrantes que tentava embarcar em trens com destino à capital Zagreb, de onde esperam seguir viagem para o oeste do continente.

"Há entre 4.000 e 5.000 pessoas tentando embarcar nos trens. Os trens estão chegando, mas não podem transportar tantas pessoas", disse o porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur), Jan Kapic

Voluntários da Cruz Vermelha começaram a distribuir alimentos, com prioridade para os bebês e as crianças.

"A situação aqui é difícil. São tantas pessoas. Não sabemos o que está acontecendo", disse Hasan Shekh-Hasan, um sírio de 25 anos, estudante de Direito.

"É difícil saber se este será o próximo campo de trânsito. O governo croata precisa ver como administrar a situação", afirmou o porta-voz do Acnur.

No total, 5.650 migrantes chegaram à Croácia nas últimas 24 horas, segundo o ministério do Interior, e serão transportados em trens e ônibus para centros de registro.

A ministra croata da Saúde, Sinisa Varga, afirmou que as autoridades calculam a chegada de mais de 20  mil migrantes nas próximas duas semanas.

No entanto, o primeiro-ministro croata Zoran Milanovic advertiu que o país tem capacidades limitadas para receber e registrar os migrantes que transitam por seu território. 

Calma na fronteira Sérvia-Hungria

Na manhã desta quinta-feira (17), quase 400 migrantes permaneciam na fronteira sérvio-húngara. A situação estava calma, após os distúrbios de quarta-feira, que deixaram 14 policiais feridos, segundo as autoridades. O número de migrantes feridos não foi divulgado.

Diante da intransigência da Hungria, que até semana passada era o principal ponto de passagem dos migrantes em sua viagem rumo ao oeste da Europa, mas que fechou completamente a fronteira na terça-feira, os migrantes se viram obrigados a seguir para a Croácia.

A polícia húngara utilizou jatos de água e gás lacrimogêneo na quarta-feira contra os migrantes, bloqueados na Sérvia, que atiraram pedras contra as forças de segurança. Os migrantes conseguiram arrancar parte do alambrado que fechava a passagem fronteiriça de Röszke.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou "inaceitável" o tratamento da polícia húngara aos migrantes.

O ministro húngaro das Relações Exteriores, Peter Szijjarto, afirmou que a polícia apenas se defendeu de migrantes "agressivos".

Situação "complicada"

O primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, declarou em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro que também planeja construir uma cerca na fronteira com a Croácia para, segundo ele, "acabar com o negócio dos traficantes de pessoas".

As medidas adotadas pela Hungria foram radicais: de acordo com a polícia, apenas 277 migrantes entraram ilegalmente na Hungria na quarta-feira. De acordo com a nova legislação, todos foram detidos e podem ser condenados a penas de até cinco anos de prisão.

Ao mesmo tempo, na Turquia, centenas de sírios buscam uma porta de entrada terrestre para a Grécia. No decorrer do ano, 500.000 migrantes chegaram à União Europeia após longas e perigosas viagens por terra e mar.

A Bulgária reagiu nesta quinta-feira com envio de mil soldados para a fronteira com a Turquia, ante uma situação que chamou de "complicada", provocada pela crise migratória.

Na terça-feira, a chefe de Governo da Alemanha, Angela Merkel, e seu colega austríaco, Werner Faymann, pediram a organização rápida de uma reunião de cúpula europeia para alcançar um acordo sobre a distribuição obrigatória entre os países da UE de 120.000 refugiados.

Reunidos de em caráter de urgência nesta quinta-feira, os eurodeputados votaram a favor da proposta. Mas a principal dificuldade será convencer os países do leste europeu, contrários à recepção em massa de refugiados.

A votação do Parlamento, que organizou uma sessão extraordinária, não é vinculante, mas no processo formal da proposta da Comissão os eurodeputados deveriam se pronunciar a respeito.

No total, 372 eurodeputados votaram a favor, 124 votaram contra e 54 optaram pela abstenção. A Eurocâmara tem 751 representantes.

Hungria, Eslováquia e República Tcheca não aceitaram a divisão. Outros países como a Polônia também expressaram dúvidas.

Nesta quinta-feira, o governo da Dinamarca anunciou que receberá voluntariamente 1.000 refugiados dos 120.000 que a UE planeja distribuir entre os Estados membros.

A Alemanha é o país ao qual a maioria dos migrantes espera chegar. A Polícia Federal do país registrou na quarta-feira 9.100 novas entradas de migrantes em seu território, superando com folga a marca de 6.000 de terça-feira.

O país estabeleceu no domingo controles nas fronteiras, mas permite a passagem dos demandantes de asilo.

Em uma entrevista ao jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung, o presidente da Agência de Empregos do país, Frank-Jürgen Weise, comentou os efeitos da chegada de migrantes.

"A chegada de centenas de milhares (de refugiados) é, a princípio, uma carga para o mercado de trabalho", disse.

A longo prazo representarão um "enriquecimento" para o país, sua sociedade e sua economia, porque o envelhecimento da população alemã poderia comportar escassez de mão de obra no futuro, completou Wise.

Mas a curto prazo, como a integração dos refugiados levará tempo, as estatísticas de desemprego podem ser afetadas.

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