Francisco celebra missa para multidão em Havana e defende o serviço sem ideologia

O pontífice advertiu contra a ambição pessoal e o individualismo em uma época de transição econômica e política
Da AFP
Publicado em 20/09/2015 às 12:38
O pontífice advertiu contra a ambição pessoal e o individualismo em uma época de transição econômica e política Foto: Foto: JUAN LOPEZ / AFP


O papa Francisco se encontrou com os cubanos em uma missa emotiva na Praça da Revolução, em Havana, na qual defendeu o cuidado aos mais frágeis, a rejeição de qualquer ideologia no serviço aos demais e pediu a paz na Colômbia.

"O serviço sempre observa o rosto do irmão, toca sua carne, sente sua proximidade a em alguns momentos até a 'padece' e busca sua promoção", expressou o papa diante de uma multidão de fiéis, que lotou a praça desde a madrugada.

No entanto, alertou que "há um 'serviço' que serve, mas devemos ter cuidado com o outro serviço, a tentação do 'serviço' que 'se' serve. Há uma força de exercer o serviço que tem como interesse beneficiar aos 'meus', em nome do 'nosso'".

O pontífice advertiu contra a ambição pessoal e o individualismo em uma época de transição econômica e política: "o cristão é convidado sempre a deixar de lado suas buscas, afãs, desejos de onipotência ante o olhar concreto aos mais frágeis".

Por meio das tarefas a assumir como "cidadão", "servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade. Cuidar dos frágeis de nossas famílias, de nossa sociedade, de nosso povo", disse.

"Ser cristão implica servir a dignidade de seus irmãos, lutar pela dignidade de seus irmãos e viver para a dignidade de seus irmãos", completou, repetindo três vezes a palavra "dignidade".

Em sua homilia durante uma missa campal solene na praça, o momento mais importante de sua visita de três dias a Cuba, o papa argentino não abordou diretamente a situação política na ilha, nem as relações com os Estados Unidos.

Pouco depois, durante o Angelus, o papa defendeu a paz na Colômbia e declarou que não pode acontecer outro fracasso no caminho da reconciliação neste país, que enfrenta um conflito armado interno há meio século.

"Por favor, não temos o direito de nos permitir outro fracasso neste caminho de paz e reconciliação", disse.

"Neste momento, me sinto no dever de dirigir meu pensamento à querida terra da Colômbia, consciente da importância crucial do momento presente, no qual, com esforço renovado e movidos pela esperança, seus filhos estão buscando construir una sociedade em paz", disse Francisco em referência às negociações entre o governo deste país e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

As negociações de paz que acontecem em Havana, iniciadas em novembro de 2012 entre o governo colombiano e as Farc, pretendem acabar com um conflito armado que deixou 220.000 mortos em meio século e seis milhões de deslocados, segundo os dados oficiais.

 

Gosto pela Amizade

Na homilia, Francisco também prestou homenagem aos cubanos: "um povo que tem gosto pela festa, pela amizade, pelas coisas belas".

"É um povo que tem feridas, como todo povo, mas que sabe estar com os braços abertos, que marcha com esperança, porque sua vocação é de grandeza", disse o papa.

Entre os 3.500 convidados especiais presentes na missa estavam a presidente argentina Cristina Kirchner e o presidente cubano Raúl Castro.

A Praça da Revolução foi o local em que também celebraram missas os papas João Paulo II em 1998 e Bento XVI em 2012, entre um grande monumento em homenagem ao herói nacional José Martí e um retrato gigante de Ernesto Che Guevara. 

Neste domingo (20) à noite, após uma cerimônia na catedral, Francisco terá um encontro com jovens cubanos. Será uma oportunidade de mostrar sua espontaneidade em um diálogo improvisado, durante o qual deve estimular a coragem de uma juventude em dificuldades em uma ilha em plena transição econômica.

O pontífice também se reunirá neste domingo no palácio presidencial com Raúl Castro, que provavelmente fará um agradecimento por seu papel de mediador na aproximação com os Estados Unidos.

De acordo com algumas fontes, existe ainda a possibilidade de um encontro com o irmão mais velho de Raúl, o pai da revolução cubana Fidel Castro, de 89 anos.

Bento XVI teve um encontro com Fidel durante sua visita em 2012.

Durante sua visita de oito dias a Cuba e Estados Unidos, o papa deve abordar temas importantes, como sua preocupação com a paz, as migrações e a necessidade de receber os migrantes, assim como a cultura do diálogo.

A visita de Francisco é a terceira de um papa à ilha, que conta apenas com 10% de católicos praticantes, mas com o número de batizados importante.

Na segunda-feira e terça-feira, o pontífice visitará Holguín e Santiago de Cuba, na região leste da ilha.

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