Papa ressalta que a fé cubana segue viva apesar das dificuldades

Cuba deixou oficialmente de ser um Estado ateu em 1992 e passou a ser laico
Da AFP
Publicado em 22/09/2015 às 11:54
Cuba deixou oficialmente de ser um Estado ateu em 1992 e passou a ser laico Foto: Foto: GABRIEL BOUYS / AFP


O papa Francisco destacou que o povo cubano viveu "dores e penúrias" que não acabaram com sua fé em Deus, em uma missa no Santuário da Virgem da Caridade, a última de sua visita à ilha, que termina nesta terça-feira (22), quando viaja aos Estados Unidos.

"A alma do povo cubano (...) foi forjada entre dores, penúrias que não conseguiram apagar a fé, esta fé que permaneceu viva graças a tantas avós que seguiram tornando possível, no cotidiano do lar, a presença viva de Deus", afirmou o papa em sua homilia no templo mais venerado da ilha, perto de Santiago de Cuba.

O pontífice argentino fez referência, mas sem uma menção explícita, ao período em que o ateísmo foi imposto na ilha após a revolução cubana de 1959, quando as autoridades comunistas tinham uma visão ruim dos fiéis, que eram alvos de discriminação.

Cuba deixou oficialmente de ser um Estado ateu em 1992 e passou a ser laico. As relações entre o Estado e a Igreja melhoraram a partir da visita do papa João Paulo II em 1998 e agora o Vaticano é um interlocutor privilegiado do governo de Raúl Castro.

"Avós, mães e tantos outros que com ternura e carinho deram sinais de visitação, de coragem, de fé para seus netos, em suas famílias. Deixaram aberta uma pequena fresta como um grão de mostarda, onde o Espírito Santo seguia acompanhando o palpitar deste povo", completou Francisco.

Depois da missa no santuário, o pontífice deve se encontrar com famílias cubanas na catedral de Santiago, antes de abençoar a cidade e viajar aos Estados Unidos. 

Em Santiago de Cuba, grande porto da região leste da ilha que viu o nascimento da revolução cubana e perto da polêmica base americana de Guantánamo, Francisco se despedirá das autoridades e do povo cubanos, que o receberam no sábado.

O pontífice argentino, que aos 78 anos resistiu em Cuba ao forte calor e a uma agenda repleta de atividades, com um intenso contato com a população, encerra a visita em pleno período de aproximação entre Washington e Havana.

Francisco, que mediou a aproximação entre Cuba e Estados Unidos após mais de 50 anos de inimizade, o que resultou no restabelecimento de relações diplomáticas, viajará a Washington a bordo do avião da Alitalia que o levou de Roma a Cuba.

Na base aérea de Andrews será recebido pelo presidente Barack Obama e sua esposa Michelle, em uma demonstração da importância que o chefe de Estado americano concede à visita do líder da Igreja Católica.

Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos e protestante, expressa uma grande simpatia por Francisco, a quem geralmente chama de "papa dos pobres".

A imprensa dos Estados Unidos faz uma grande cobertura da visita do pontífice, que tem um índice de apoio de 66% dos americanos, segundo uma recente pesquisa.

Mas seus apelos a favor dos pobres, contra o capitalismo selvagem e de combate ao aquecimento global também renderam muitas críticas dos conservadores, dos meios econômicos liberais, de Wall Street ao ultraconservador Tea Party, e no Partido Republicano.

O fato de chegar ao país procedente de Cuba aumenta ainda mais a irritação daqueles que alegam que o papa é um marxista disfarçado ou um traidor da fé católica, muito flexível com a doutrina.

Durante a visita aos Estados Unidos, com discursos no Congresso americano e na sede das Nações Unidas, Francisco deve abordar temas explosivos, como a imigração, a defesa do meio ambiente e a desaceleração da economia.

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