A crise diplomática do Brasil durante o governo Dilma é analisada por Rubens Ricupero

Ricupero atuou como representante brasileiro junto a órgãos da ONU e embaixador em Washington, Roma e Genebra
MARCOS OLIVEIRA
Publicado em 03/10/2015 às 17:20
Ricupero atuou como representante brasileiro junto a órgãos da ONU e embaixador em Washington, Roma e Genebra Foto: Foto: Agência Brasil


Rubens Ricupero foi assessor internacional do presidente eleito Tancredo Neves e assessor do presidente José Sarney. Atuou como ministro da Fazenda, em 1994, no governo Itamar Franco. Ricupero atuou como representante brasileiro junto a órgãos da ONU e embaixador em Washington, Buenos Aires e Roma. Nesta entrevista, ele analisa os principais desafios do Brasil no contexto internacional atual.

Até que ponto esse momento de instabilidade do nosso país é ruim para a imagem do Brasil no exterior?

Enfraquece muito a posição brasileira. Nos últimos dez anos nossa imagem esteve muito ligada ao desempenho econômico e social do governo Lula. Hoje o mundo olha para o Brasil e observa uma série de conquistas em retrocesso. Isso leva ao desgaste da do país, da presidente e a consequente perda da liderança.

A presidente Dilma Rousseff, mesmo antes dessa crise atual, era criticada pela falta de ação internacional.

No primeiro mandato houve pouca ação nesse sentido se comparado ao governo Lula. Eu vejo isso um sintoma do personalismo com que Lula tratava do tema. Ele tinha um carisma lá fora muito grande e isso não se transmite. Principalmente para a presidente que sempre demonstrou não ter proximidade com o tema. Porém, alguns fatos, como o escândalo de espionagem americano, levaram ela a se isolar ainda mais e não ter uma agenda positiva.

Quais as áreas em que a presidente pode avançar nessa agenda externa?

Vejo duas áreas. A primeira é essa questão do clima, tratada semana passada na ONU pela presidente. O Brasil tem muito para contribuir com o tema e o discurso dela foi muito positivo, mesmo tendo sido criticado por alguns especialistas na área. Outro ponto que precisa e pode ser melhorado está na relação com os países da América Latina, principalmente com os do Sul. O Mercosul vive um impasse que não se resolve por causa das constantes crises nas principais nações. A Argentina, por exemplo, trava a discussão para a maior integração econômica entre os pais, mas abre espaço para que a China tenha uma abertura em seu mercado em condições que se parecem com as que o Brasil possui, e nenhuma ação d Brasil é tomada. Não falo em uma atitude brisca da nossa parte, mas uma liderança real da maior economia da região. O Brasil não exerce isso. 

O senhor defende que o cenário mundial irá ajudar o Brasil a sair dessa crise interna.

Sim. Mesmo com a crise da China, o cenário vai ficar mais positivo para o Brasil. Os EUA crescem 3%, as commodities vão recuperar os preços e a valorização do dólar tornarão a balança comercial brasileira mais favorável

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