O papa Francisco pediu aos bispos de todo o mundo que se reúnem em Roma para que coloquem seus preconceitos de lado em discussões sobre família e tenham a coragem e a humildade para serem guiados pelas "surpresas" de Deus.
O discurso do pontífice foi feito no início dos trabalhos do sínodo sobre a família convocado por Francisco, do qual participam 253 bispos, entre outros religiosos e seguidores do catolicismo.
Francisco afirmou que o sínodo não é um parlamento, onde negociações, barganhas e consensos ocorrem, mas um espaço sagrado no qual Deus mostra o caminho para o bem da igreja. Ele pediu aos bispos que esvaziem-se de "suas próprias crenças e preconceitos para ouvir a seus irmãos bispos e preencher a si mesmos com Deus".
Num aceno aos reformistas, Francisco disse nesta segunda que a fé não é um "museu para se olhar e guardar", mas que deveria ser uma fonte de inspiração, pedindo ao sínodo que tenha "coragem para trazer vida [à fé] e não tornar a vida cristã um museu de memórias".
No mesmo discurso, porém, no que parece ter sido uma manifestação de apoio a alas conservadoras do clero, pediu também que a audiência tivesse a coragem para "não e deixar intimidar pelas seduções do mundo".
Os bispos debaterão sobre como a igreja pode acolher melhor as famílias católicas em um momento no qual as taxas de matrimônio estão caindo, o divórcio tem se tornado comum e uniões civis estão aumentando.
Um dos principais pontos do debate deve ser em relação à acolhida de homossexuais -e casais homossexuais- pela Santa Sé.
DESAPONTAMENTO
Em uma entrevista coletiva após a primeira sessão, o cardeal de Paris, André Vingt-Trois, disse aos jornalistas que ficarão "decepcionados" se esperarem mudanças radicais na doutrina católica em questões centrais da família, como casamento.
Sublinhando que o papa seria o árbitro último das decisões do sínodo, Vingt-Trois disse prever que as principais mudanças devem ser na abordagem pastoral aos temas mais delicados.
Já o arcebispo italiano Bruno Forte, um dos secretários do encontro, afirmou que "a igreja não pode permanecer insensível aos desafios. O sínodo não se encontrou à toa".
O encontro é uma sequência de um evento realizado no ano anterior em Roma marcado pela disparidade de opiniões no clero sobre a recepção de fiéis homossexuais no catolicismo.
O início do sínodo presente foi marcado pela revelação de um padre polonês que se declarou gay, ao lado do namorado, e pediu mudanças de postura do Vaticano em relação à homossexualidade. A Santa Sé afastou imediatamente o padre Krzysztof Charamsa de suas atividades.
Uma ala considerável de liberais dentro da igreja também pede a revisão do tratamento que a igreja dá a divorciados e católicos casados novamente em cerimônias civis.
O dogma tradicional os considera pecadores e barra o acesso destes a sacramentos como a comunhão.
Os bispos, que se reúnem a portas fechadas, vão submeter seus relatórios ao papa. Ele pode usar os documentos para redigir o seu próprio, conhecido como Exortação Apostólica, sobre a questão da família.