As forças governamentais sírias ganhavam terreno neste domingo (11) diante dos rebeldes, com a ajuda da aviação da Rússia, acusada pela ONG Human Rights Watch de utilizar ou fornecer ao exército de Damasco novas bombas de fragmentação.
No décimo segundo dia da intervenção russa, as tropas do regime de Bashar al-Assad avançaram em dois eixos: a província central de Hama e as colinas de Latakia, no oeste do país.
Em Hama, as tropas sírias se deslocavam formando um arco que se estendia do leste de Khan Sheikun até o sul, em direção a Kafar Nabuda, para encurralar os rebeldes.
"Esta ofensiva busca expulsar os rebeldes da planície de Sahl Ghab, que se encontra na intercessão entre as províncias de Hama, Latakia e Idleb (noroeste)", explicou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH).
No oeste e no sul desta planície de mil quilômetros quadrados vivem alauitas, a seita xiita à qual Assad pertence.
Os rebeldes conquistaram grande parte deste território nos últimos meses e ameaçavam a província de Latakia, principal reduto do regime, e a cidade de Hama, que o exército sírio também controla.
Segundo o OSDH, as forças governamentais também ganharam terreno no oeste do país, ao conquistar a cidade de Kafar Dalaba, na região montanhosa de Latakia.
Se o regime seguir avançando na zona, talvez terá a possibilidade de lançar uma ofensiva sobre a província de Idleb, controlada pelos rebeldes.
"O objetivo no longo prazo é retomar a província de Idleb, sobretudo a cidade estratégica de Yisr al Shugur, e romper o cerco às duas localidades xiitas de Fua e Kafraya", explicou Rahman.
Em abril, a província de Idleb caiu nas mãos do Exército da Conquista, uma coalizão de rebeldes islamitas na qual participa a Frente Al-Nosra, o braço sírio da Al-Qaeda. Este grupo rebelde recebe o apoio das monarquias sunitas do Golfo e da Turquia, que fornecem a ele armas e dinheiro.
Novo tipo de bombas
A ONG Human Rights Watch (HRW) acusou neste domingo (11) Moscou de utilizar ou fornecer ao exército sírio novas bombas de fragmentação mais mortíferas.
A HRW afirmou que estas bombas foram utilizadas em um ataque aéreo, no dia 4 de outubro, perto da localidade rebelde de Kafar Halab, a sudoeste de Aleppo, no norte da Síria. A ONG não pôde, no entanto, determinar se elas haviam sido lançadas pelo exército sírio ou pelos russos.
"É preocupante que seja utilizado outro tipo de bombas de fragmentação na Síria, pelo dano que pode causar aos civis nos próximos anos", afirmou em um comunicado Nadim Houry, diretor-adjunto da HRW para o Oriente Médio.
Embora afirme atacar principalmente o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), a Rússia aponta como alvo principalmente os rebeldes contrários ao regime.
Seu ministério da Defesa anunciou neste domingo que a aviação atacou 63 posições "terroristas" nas últimas 24 horas, nas províncias de Hama, Latakia, Idleb e Raqa (norte). Estes bombardeios destruíram 53 alvos, um posto de comando, quatro campos de treinamento e sete depósitos de armas, segundo esta fonte.
Horas depois, o presidente russo, Vladimir Putin, voltou a descartar o envio de tropas terrestres à Síria.
Boicote às discussões de paz
Neste domingo (11), a coalizão da oposição síria no exílio anunciou que boicotará as discussões preliminares de paz propostas pela ONU, devido ao apoio militar da Rússia ao regime de Assad.
A Coalizão Nacional "decidiu não participar dos grupos consultivos de trabalho e considera que a retomada do processo de negociações deve ser baseada na adesão ao acordo de Genebra (de 2012) e nas resoluções do Conselho de Segurança da ONU, assim como no fim da agressão russa".
O Acordo de Genebra abarca o tratado alcançado na conferência de paz de 2012, que prevê a formação de um governo de transição.
A oposição considera que este governo deve excluir Assad, mas o regime entende que a partida do presidente não faz parte da agenda de negociações.
O conflito sírio começou em março de 2011, depois que o regime reprimiu fortemente manifestações populares, e foi se convertendo em uma guerra aberta, com diversos atores, que deixou 240.000 mortos e milhares de deslocados.