A Eslovênia se converteu nesta terça-feira (20) no novo foco de atenção da crise migratória ao ficar sobrecarregada com a chegada a suas fronteiras de pessoas em meio ao frio e à chuva, e por isso foi obrigada a recorrer ao exército.
O governo esloveno, que calcula que desde sábado (17) entraram no país - um dos menores da Europa - 18.500 migrantes, pediu ajuda à União Europeia (UE), que tenta desde o último verão (do hemisfério norte) enfrentar esta crise sem precedentes, mas não consegue encontrar soluções.
Desde que a Hungria fechou sua fronteira com a Croácia, as pessoas que fogem da guerra e da perseguição em seus países foram obrigados a passar pela Eslovênia, depois de cruzar a Sérvia e a Croácia, e poder continuar seu périplo ao norte da Europa.
Liubliana, que havia anunciado que queria limitar a entrada em seu território a 2.500 migrantes diários, precisou renunciar às quotas diante da aglomeração de pessoas que se formou na parte oriental de sua fronteira com a Croácia.
"O fluxo de migrantes destes três últimos dias ultrapassa nossas capacidades", afirmou o governo do país após uma reunião de urgência realizada na madrugada desta terça-feira (20).
"A Eslovênia pede aos Estados e às instituições da UE que se mobilizem ativamente para responder a esta carga desproporcional para nosso Estado. Está colocando à prova a solidariedade europeia", convocou o Executivo.
Nesta terça-feira (20) está previsto que seja apresentada uma lei no Parlamento que permita ampliar de maneira excepcional os poderes do exército, atualmente limitados a uma assistência logística.
O primeiro-ministro, o centrista Miro Cerar, afirmou que "isso não significa um estado de urgência", mas "é ilusório esperar que um país de dois milhões de habitantes possa deter, administrar e solucionar o que países muito maiores não conseguiram fazer".
Acusações entre governos
Diante da congestão dos pontos oficiais de passagem, muitos refugiados optam pela "fronteira verde", atravessando o campo. Na região de Novo Mesto (sul), onde 4.000 pessoas conseguiram ultrapassar na tarde de segunda-feira a fronteira cruzando um campo pantanoso, outras 2.000 chegaram na manhã desta terça-feira.
Desde o fechamento da fronteira húngara, a irritação entre os executivos esloveno e croata não para de aumentar. Liubliana critica Zagrev por enviar de forma descoordenada dezenas de ônibus e trens a sua fronteira.
As autoridades croatas também enfrentam um considerável fluxo de migrantes que seguem a rota dos Bálcãs desde a Grécia, "onde as chegadas voltaram a aumentar radicalmente", com 8.000 desembarcando em suas ilhas nas últimas 24 horas, segundo uma fonte policial.
Dos 643.000 refugiados que chegaram à Europa pelo mar desde o início do ano, mais de 500.000 o fizeram através da Grécia, segundo números publicados nesta terça-feira pela ONU.
No posto fronteiriço servo-croata de Berkasovo, mais de mil pessoas com frio esperavam para entrar na Croácia na manhã desta terça-feira, constatou um jornalista da AFP.
"Faz frio, não pudemos dormir. Cheguei há 24 horas, dormi sob uma barraca", narrou Azme Slei, um sírio de 29 anos originário de Homs e procedente de um campo de refugiados turco.
Liubliana também acusa a Áustria de limitar a entrada de migrantes, e afirma que 1.700 pessoas estavam esperando na manhã desta terça-feira na fronteira sul do país.
Viena desmente que se submeta a contingentes em sua fronteira.
O destino final para muitos dos refugiados, a Alemanha, ilustrou na segunda-feira a divisão que esta questão provoca e que debilita o governo de Merkel, com a reunião de 20.000 pessoas em Dresde (leste) para celebrar o primeiro aniversário do movimento populista Pegida, que lidera o descontentamento pela chegada de refugiados à Alemanha.