Armas químicas teriam sido utilizadas por combatentes na Síria

A Síria deveria ter entregado todos os químicos tóxicos há um ano e meio
Da Folhapress
Publicado em 06/11/2015 às 16:05
A Síria deveria ter entregado todos os químicos tóxicos há um ano e meio Foto: Foto: SAFIN HAMED/AFP


Especialistas em armas químicas determinaram que gás mostarda foi usado em uma cidade síria onde insurgentes do Estado Islâmico (EI) lutavam contra outro grupo, de acordo com um informe da OPAC (Organização para a Proibição de Armas Químicas).

Um relatório confidencial da OPAC, publicado na última quinta-feira (29), concluiu "com extrema confiança" que pelo menos duas pessoas foram expostas a gás mostarda na cidade de Marea, a norte de Aleppo, em 21 de agosto. "É muito provável que o efeito da mostarda sulfúrica tenha resultado na morte de um bebê", diz o relatório.

O informe oferece a primeira confirmação do uso de mostarda sulfúrica, conhecida como gás mostarda, na Síria, desde que esta concordou em destruir seu depósito de armas químicas, que incluíam a substância.

O relatório não menciona o EI, já que a missão não tinha como objetivo apontar culpados, mas fontes diplomáticas afirmam que o produto químico foi usado nos conflitos entre o EI e outro grupo rebelde que acontecia na cidade naquele momento.

"Isso traz a questão de onde teria vindo a mostarda sulfúrica", afirmou uma fonte da OPAC. "Ou o EI conseguiu a tecnologia para fazê-la ou pode ser oriunda de um arsenal não declarado e tomado pelo grupo. As duas opções são preocupantes".

A Síria deveria ter entregado todos os químicos tóxicos há um ano e meio. Seu uso viola resoluções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) e a Convenção de Armas Químicas de 1997.

As informações fazem parte de três relatórios disponibilizados a membros da OPAC na semana passada. Elas são uma evidência a mais do fato de que o EI conseguiu obter e vem utilizando armas químicas no Iraque e na Síria.

Autoridades do Curdistão afirmaram dias atrás que militantes do EI lançaram morteiros contendo gás mostarda durante confrontos em agosto. Foram retiradas amostras de sangue de cerca de 35 soldados, expostos em um ataque próximo a Erbil, que continham "traços" da substância tóxica, segundo o governo curdo.

Um grupo de especialistas da OPAC foi enviado ao Iraque para confirmar as informações e deve obter amostras próprias neste mês, de acordo com um diplomata.

 

ASSAD SOB SUSPEITA

Na província de Idlib, no oeste da Síria, de acordo com relatos, incidentes entre março e maio deste ano "provavelmente envolveram o uso de um ou mais químicos tóxicos", incluindo cloro. Os ataques, que resultaram na morte de seis pessoas, aconteceram em uma região controlada por opositores, que acusam as forças de Bashar al-Assad.

"Testemunhas afirmam ter ouvido helicópteros ao mesmo tempo que as munições químicas explodiram. Só o regime de Assad possui helicópteros", afirmou o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, John Kirby.

Uma sessão especial, convocada pelos 41 membros do Conselho Executivo da OPAC, vai discutir as informações reveladas sobre a Síria em Haia, na Holanda, no dia 23. O gás mostarda, que causa queimaduras na pele, olhos e pulmões, é um agente químico de Classe 1, o que significa que tem poucos uso fora do contexto da guerra.

A missão "não consegue determinar com confiança se um produto químico foi usado como arma por militantes na área de Jober, em 29 de agosto de 2012", diz o relatório.

A Síria concordou, em setembro de 2013, em destruir todo o seu programa de armas químicas em uma negociação com EUA e Rússia, depois que dezenas de pessoas foram mortas em um ataque de gás sarin nos arredores da capital Damasco.

A última parte das 1.300 toneladas de armas químicas declaradas à OPAC foram entregues em junho de 2012, mas alguns governos ocidentais já expressaram dúvida sobre se o governo do presidente Bashar al-Assad declarou o arsenal em sua totalidade.

Com a guerra civil síria em seu quinto ano, cloro também passou a ser usado ilegalmente em ataques sistemáticos contra civis, apurou a OPAC.

Uma investigação conjunta entre a OPAC e a ONU foi estabelecida para determinar quem estaria por trás dos ataques.

Os três relatórios serão apresentados formalmente ao Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon, ainda neste mês.

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