Guatemala estuda indenizar infectados por experimento médico dos EUA

Experiências foram realizadas em milhares de pessoas na década de 1940, deixando ao menos 83 mortos
Da AFP
Publicado em 14/12/2015 às 22:16
Experiências foram realizadas em milhares de pessoas na década de 1940, deixando ao menos 83 mortos Foto: Foto: AFP


O governo da Guatemala estuda ressarcir a família de três guatemaltecos vítimas de experiências médicas norte-americanas realizadas em milhares de pessoas na década de 1940, deixando ao menos 83 mortos, segundo uma comissão dos Estados Unidos, disse nesta segunda-feira (14) uma fonte oficial.

O vice-presidente guatemalteco, Alfonso Fuentes, disse a jornalistas que o governo se comunicou com uma das famílias afetadas por tais experimentos para determinar se a Guatemala pode dar "um ressarcimento econômico e moral". 

"O que a família está levantando é que eles se sentem negligenciados, não foram levados em consideração. Eles foram ouvidos e o que estão pedindo é algum tipo de reparação", explicou Fuentes.

Em 2010, pesquisadores dos Estados Unidos descobriram que entre 1946 e 1948 cerca de 5.500 pessoas participaram dos experimentos sem serem informados sobre o que eram. Destes, 1.500 foram expostas ou inoculadas com doenças venéreas, como sífilis e gonorreia.

Depois que este fato foi revelado, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, pediu desculpas pelos experimentos ao então presidente da Guatemala, Álvaro Colom, que descreveu os eventos como "um crime contra a humanidade" e disse que iria promover ações para promover uma reparação às famílias, embora isso nunca tenha ocorrido. 

"Recebemos o testemunho (da família) e exploraremos as possibilidades de assistência", agregou Fuentes, que indicou que até o momento outras vítimas não se aproximaram para discutir o assunto. 

Os experimentos humanos realizados pelos americanos na Guatemala foram revelados pela médica Susan Reverby, do Colégio Wellesley, que descobriu a documentação nos arquivos do cientista encarregado, John Cutler, que morreu em 2003.

Cutler dirigiu entre 1946 e 1948 pesquisas sobre as reações humanas a medicamentos contra a sífilis, gonorreia e outras doenças sexualmente transmissíveis, para o qual inoculou doenças a cerca de 1.500 guatemaltecos, sem que o soubessem, para observar suas reações efeitos.

Uma comissão oficial norte-americana que investigou os fatos em 2011 apontou que ao menos 83 pessoas submetidas às experiências morreram devido a estes testes.

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