O presidente do Zimbábue, Robert Mugabe, programou para este sábado (27) um banquete para comemorar seu aniversário, apesar da crise alimentar e da situação econômica.
Segundo os organizadores, 50 mil partidários do Zanu-PF, partido no poder, e os dirigentes do regime comparecerão à festa, que será celebrada em Masvingo (sur), seis dias depois do aniversário do presidente.
De acordo com a imprensa local, o banquete teria custado 800 mil dólares, e ativistas ordenaram a moradores dos arredores de Masvingo que colaborassem com até cinco dólares para financiar parte do festejo.
A iniciativa gerou críticas, no momento em que um quarto da população vive em estado de insegurança alimentar, e que o governo decretou estado de catástrofe natural em várias regiões devido à seca.
"Quando o líder gasta 800 mil dólares em seu aniversário e milhares de pessoas não têm o que comer, perguntamos que tipo de pai da nação nos dirige", comentou Okay Machisa, presidente da Associação dos Direitos Humanos do Zimbábue.
"Não há grande coisa a celebrar para alguém de 92 anos, no poder há 36, que levou nossa economia à quebra, reduzindo nosso país a uma nação de vendedores ambulantes e mendigos", contestou Takavafira Zhou, professor de Ciência Política na universidade de Masvingo.
Na última terça-feira, a liga das juventudes do principal partido de oposição, o Movimento pela Mudança Democrática (MDC), protestou em Masvingo contra a festa. "Nada de aniversário quando as crianças morrem de fome", "Queremos empregos, não uma festa", diziam os cartazes.
Mugabe nasceu em 21 de fevereiro de 1924, e dirige o país com mão de ferro desde a independência, em 1980. Nunca nomeou um sucessor, e afirma que pode governar até os 100 anos.
O presidente mantém os discursos longos, recheados de críticas ao Ocidente. Alguns de seus comentários recentes alimentaram rumores sobre seu estado de saúde. Em setembro de 2015, ele leu, por 25 minutos, um discurso idêntico ao pronunciado um mês antes.
Antes grande produtor de trigo, o Zimbábue é hoje obrigado a importar alimentos. O presidente estima que as sanções impostas pelos países ocidentais devido às violações dos direitos humanos contribuíram para a queda da produção agrícola.
Seus críticos sustentam que a agricultura veio abaixo devido à reforma agrária lançada em 2000, em virtude da qual se distribuíram entre os negros as terras de fazendeiros brancos, em muitos casos com o uso da força.
O país empobreceu terrivelmente no ano 2000. Centenas de milhares de zimbabuanos emigraram para a África do Sul devido à inflação galopante, e o país eliminou a própria moeda para adotar o dólar americano.