Ansiedade, preocupação e impotência diante de novas ameaças foram algumas das sensações descritas por pernambucanos residentes em Bruxelas, após os atentados ocorridos na última terça-feira (22/03). Muitos passaram o dia reclusos, em casa, cumprindo ordens de segurança. “É um sentimento de decepção com o governo e de impotência. Desde que prenderam o terrorista Salah Abdeslam, sabíamos que teria retaliação”, comentou o jornalista Fábio Jardelino, 25, desde julho de 2015 estudando mestrado na Universidade Livre da Bélgica (Vrije Universiteit Brussel). “O que eles querem é causar esse terror. A gente não pode baixar a cabeça”, desabafou.
Salah, acusado de ser co-autor dos atentados de Paris há quatro meses, foi capturado em Bruxelas na última sexta-feira. Outro pernambucano, Jerônimo de Freitas, 48, em entrevista ao JC On-line, também lembrou o risco teórico de ataques em razão da prisão do terrorista. “Mas é provável que depois desse último episódio, a tendência seja minimizar o perigo por uns dias, já que os autores devem ficar escondidos”, considerou.
Jardelino ficou sabendo da primeira explosão, no Aeroporto Internacional de Zaventem, logo depois que acordou, por volta das 8h (4 horas no Brasil). “Tenho o hábito de ligar o celular, para ver as notícias”. Ia para a universidade, mas as aulas foram suspensas após o segundo atentado no metrô. Peguei a câmera e fui às ruas. Quando cheguei perto da estação, as ambulâncias estavam indo resgatar os feridos”, relatou. Na sua página, no Facebook, postou as imagens. Já no início da noite falou da organização de uma investida da polícia em Schaerbeek, bairro periférico, próximo de Molenbeek.
Jerônimo de Freitas, morando há 18 anos em Bruxelas, acredita que a extrema direita vai tratar os ataques como relaxamento da segurança. “Já ouvimos esse discurso e que a entrada de refugiados da Síria trará mais terroristas”, observou.
Jayme Benvenuto Lima, ex-docente da Universidade Católica de Pernambuco e atualmente professor de Relações Internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), em Foz do Iguaçu (PR), avalia não haver solução a curto ou médio prazo para a guerra entre o terrorismo e a Europa, considerando os erros dos dois lados: “O trabalho seria lento de construção das bases de um novo tipo de relacionamento. Isso estaria sujeito a reveses da ação dos dois, pois governos mudam e os grupos terroristas se aventuram mais em certos momentos. Ainda vamos assistir a muito episódios como o de Bruxelas e anteriores”.