Quarenta anos após o golpe militar na Argentina, o presidente Barack Obama disse nesta quinta-feira (24)"nunca mais" às ditaduras em uma histórica homenagem às vítimas do sangrento regime apoiado por Washington entre 1976 e 1983 neste país e em seus vizinhos Chile, Uruguai, Bolívia e Brasil.
Após essas palavras, Obama e sua família foram de avião passar algumas horas em Bariloche, para onde também viajou o presidente Mauricio Macri.
Dessa forma, Obama se afastou mais de 1.600 km de Buenos Aires, onde milhares de pessoas -a maioria de opositores a Macri- marcharam em memória aos 40 anos do golpe militar.
Obama insistiu para que "se cumpra a promessa do nunca mais", duas palavras que expressou em espanhol e que encerraram o caso contra as juntas militares do regime ditatorial no julgamento de 1985, que condenou à prisão perpétua dois comandantes.
O presidente americano prestou homenagem às vítimas da ditadura no Parque da Memória, à beira do Rio de la Plata, onde foram jogados drogados e milhares de opositores.
Ao lado de seu colega argentino Mauricio Macri, percorreu o parque e jogou flores brancas na água.
"Os Estados Unidos devem analisar o passado", afirmou Obama em tom cerimonioso no memorial com os nomes de 9.000 mortos e desaparecidos.
Nenhuma organização de defesa dos direitos humanos participou do ato, desconfortáveis com a visita do presidente americano em uma data sensível para o país.
Obama fez alusão à luta de organizações como as Mães e Avós da Praça de Maio em busca da verdade sobre o terrorismo de Estado, ao qual atribuem cerca de 30.000 desaparecimentos, incluindo de 500 bebês, dos quais apenas 119 foram encontrados até hoje.
"Essas famílias, suas incessantes e constantes ações, fizeram a diferença. Vocês fizeram incríveis esforços para responsabilizar aqueles que perpetraram esses crimes", disse Obama.
"Sei que há controvérsias sobre as políticas dos Estados Unidos naqueles dias obscuros. As democracias devem ter a coragem de admitir quando não está à altura dos ideais que defendemos, quando tardamos em defender os direitos Humanos. Esse foi o caso da Argentina", ressaltou.
Marchas pela Memória
O dia 24 de março é conhecido como o Dia da Memória na Argentina, e marchas foram convocadas para dizer "nunca mais" em várias partes do país.
Em um exercício de diminuir as tensões nesta nação de fortes sentimentos anti-americanos, Washington antecipou a desclassificação de arquivos militares e de inteligência que podem ajudar na busca pela verdade sobre pessoas desaparecidas.
Obama declarou nesta quinta-feira que, "a pedido do presidente Macri, desclassificaremos mais documentos da ditadura".
"Foi um gesto positivo", consideraram em uníssono líderes como Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça de Maio, e o Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel.
Na quarta-feira, Obama disse que seu país fez um exercício de "auto-crítica". "Na década de 70 a nossa abordagem sobre os direitos Humanos era tão importante como a luta contra o comunismo", disse ele.
"Um novo começo"
Obama destacou a nova era nas relações com a Argentina, em um jantar de Estado no Centro Cultural Kirchner, em um imponente edifício histórico inaugurado no ano passado pela ex-presidente Cristina Kirchner (2007-2015). Durante o jantar, Obama chegou a ensaiar passos de tango.
A última visita de um presidente dos Estados Unidos à Argentina foi a de Bill Clinton em 1997, quando os militares contavam com a proteção de duas leis de anistia e a questão da ditadura não foi incluída na agenda.
O ex-presidente Nestor Kirchner (2003/2007) impulsionou a anulação das leis de anistia e a retomada dos julgamentos por crimes contra a Humanidade, o que levou a centenas de condenações vinculadas a este período negro na história da Argentina.
A visita oficial de Obama se encerra nesta quinta-feira, após uma visita a Bariloche, 1.650 km ao sudoeste da capital.
Ele retorna a Buenos Aires para pegar o avião que o levará de volta a Washington depois da meia noite.