O presidente Barack Obama afirmou nesta sexta-feira que a corrida à Casa Branca não é um "reality show", em um ataque claro a Donald Trump, que é agora o único candidato republicano na disputa, após a desistência dos seus rivais nesta semana.
Trump participou durante anos do reality show americano The Apprentice - que foi adaptado no Brasil pela rede de televisão Record, com o nome O Aprendiz e sob o comando do empresário Roberto Justus.
Perguntado sobre a candidatura de Trump e o caos no lado Republicano - um partido desorientado, que não conseguiu frear o avanço do milionário controverso -, Obama fez alguns dos seus comentários mais incisivos a respeito do magnata do ramo imobiliário cuja ascensão política surpreendeu o mundo.
"Passamos por momentos difíceis e esta é uma função realmente séria. Não é entretenimento. Não é um reality show", afirmou Obama, que preside o país há sete anos e não perde uma ocasião de ressaltar que Trump não é a pessoa apropriada para o cargo mais importante da nação.
Obama afirmou, ainda, que Trump tem um "longo histórico" que deveria ser "examinado minuciosamente".
"Acredito que para nós é importante levar a sério as declarações que ele fez no passado", acrescentou, em alusão aos insultos do magnata aos imigrantes, às ameaças de deportação e de construir um muro na fronteira com o México.
No mesmo tom, o secretário de Estado, John Kerry, disse a uma turma diversificada e internacional da Universidade Northeastern que eles eram "o pior pesadelo de Donald Trump."
"Nós nunca vamos ser vencedores se aceitarmos o conselho de vendedores de frases de efeito e pregoeiros de carnaval que fingem que o país mais poderoso da Terra pode permanecer grandioso olhando para dentro e se escondendo atrás de muros", disse Kerry.
Trump está agora sozinho na disputa presidencial do lado republicano, após a desistência dos seus dois últimos rivais, Ted Cruz e John Kasich, mas sua vitória está longe de ser aceita por todos os partidários.
"Para ser totalmente honesto, ainda não estou pronto para fazer isso", disse o presidente da Câmara de Representantes, Paul Ryan, à rede de televisão americana CNN na quinta-feira, ao ser perguntado sobre se daria seu apoio a Trump.
Para entrar na batalha contra Hillary Clinton, eventual candidata democrata, Trump deverá curar feridas, e Ryan condicionou seu apoio a que o candidato demonstre sua capacidade "de unificar o partido e seduzir os americanos, independente da sua origem".
"Provavelmente no futuro possamos trabalhar juntos e chegar a um acordo sobre o que é melhor para o povo americano", reagiu Trump em um comunicado. Mas "não estou pronto para apoiar a agenda de Ryan", alertou.
Jeb Bush, que até alguns meses atrás foi um dos aspirantes à indicação republicana, afirmou que o magnata não demonstrou ter "o comportamento e a força de caráter" necessários para ocupar a Casa Branca.
O candidato multimilionário, de 69 anos, recebeu, no entanto, o apoio de alguns republicanos, como o líder do partido no Senado, Mitch McConnell, que disse na quarta-feira que a prioridade é "impedir o que seria na verdade um terceiro mandato de Barack Obama".
Mas outros republicanos não pensam em permanecer passivos e prometem resistir até o final a Donald Trump, inclusive votando em Clinton.
'EU ESTOU COM ELA'
"O Partido Republicano vai nomear um cara que lê a (revista) National Enquirer e acredita que está no seu nível", escreveu Mark Salter, ex-conselheiro do senador republicano John McCain, em uma publicação no Twitter que teve muita repercussão. "Eu estou com ela", acrescentou, adotando um dos slogans da campanha de Clinton.
Desde terça-feira, os republicanos invadem a rede social jurando não votar em Trump de jeito nenhum, alguns até queimando comprovantes eleitorais, como Lachlan Markay, um jornalista conservador.
"Eliminei oficialmente minha filiação republicana", anunciou Philip Klein, redator-chefe da revista conservadora Washington Examiner.
Erick Erickson, um influente autor conservador, criticou Trump na quarta-feira por ter "apoiado nacionalistas brancos e alentadores do racismo".
Também não economizou críticas ao partido, por não ter conseguido "pôr um limite" às declarações intolerantes do candidato. "Por quê o Partido Republicano não disse que isso era inaceitável?" - escreveu em um website, declarando que não vai ajudar os eleitores a "cometerem um suicídio nacional".