As greves na França contra um projeto de reforma trabalhista do governo socialista se estenderam, nesta quinta-feira (26), às centrais nucleares, provocando perturbações no abastecimento de gasolina e enfrentamentos de jovens com a polícia.
No oitavo dia de mobilização, a polícia francesa enfrentou encapuzados durante um grande protesto contra a reforma trabalhista em Paris, depois que alguns manifestantes começaram a quebrar vitrines e danificar veículos em sua passagem.
Ativistas sindicais bloquearam várias pontes, enquanto condutores de trens e controladores aéreos paralisaram em grande parte sua atividade.
Segundo as autoridades, a mobilização levou às ruas 153.000 pessoas em todo o país, enquanto os sindicatos asseguram que haviam contado até 300.000 pessoas.
A paralisia crescente do país ocorre a duas semanas para a abertura do Eurocopa, em 10 de junho, dia no qual os sindicatos convocaram a greve dos funcionários do metrô.
Embora alguns bloqueios em depósitos de combustível e em refinarias no norte do país tenham sido anulados, muitos motoristas continuavam presos em longas filas nos postos de gasolina.
Um homem que participava de um dos bloqueios teve que ser hospitalizado depois de que participou de uma barreira criada por ativistas no exterior da refinaria de Fos-sur-Mer (sul).
O nono dia de mobilização geral, uma concentração única em Paris, será realizada em 14 de junho, quatro dias depois do início do torneio.
O primeiro-ministro Manuel Valls admitiu, nesta quinta-feira, a possibilidade de "mudanças" ou "melhorias" no projeto de lei, e anunciou que receberia no sábado representantes "do setor petrolífero". No entanto, o chefe de governo voltou a descartar a retirada do texto controverso.
Segundo o governo, a lei vai dar mais flexibilidade às empresas para combater o desemprego. Já os seus detratores consideram que irá aumentar a insegurança no trabalho e criticam nomeadamente o artigo 2, que dá primazia aos acordos particulares sobre as negociações de sindicatos profissionais.
Valls afirmou que este artigo "não será modificado" e o presidente François Hollande apoiou sua determinação em declarações desde o Japão, onde participa da cúpula do G7.
O primeiro-ministro criticou a "irresponsabilidade" da central sindical CGT, principal instigadora dos protestos: "Não se pode bloquear um país, não se pode atacar os interesses econômicos da França desta forma", afirmou diante do Parlamento.
Segundo o ministério do Interior, 77 pessoas foram detidas durante os protestos, e 15 agentes antidistúrbios ficaram feridos.
Refinarias e centrais nucleares em greve
O bloqueio de refinarias e depósitos de petróleo forçou o governo a utilizar suas reservas estratégicas de combustível. O Estado havia utilizado na quarta-feira três dos 115 dias de reservas disponíveis.
"Vamos fazer tudo o necessário para garantir o abastecimento dos franceses e da economia", disse o presidente François Hollande.
Cinco dos oito depósitos de combustível permaneciam bloqueados ou operando bem abaixo de sua capacidade devido às greves, depois que as forças de segurança dispersaram pela manhã os ativistas que bloqueavam um deles.
Longas filas se formam há vários dias nos postos de gasolina, que em muitos casos racionam a distribuição. Os depósitos de quase um terço dos postos de combustível estão secos ou quase vazios, enquanto um popular aplicativo para telefones celulares indica onde ainda há combustível disponível.
O protesto subiu o tom nesta quinta-feira, com o voto a favor da greve nas 19 usinas nucleares, que asseguram 75% do fornecimento elétrico do país.
O movimento de protesto também tem provocado interrupções nos transportes.
As companhias aéreas tiveram que deixar em terra 15% os seus voos e um quinto dos trens de alta velocidade foram cancelados.
Lembranças de 68
Viviane, uma aposentada de 66 anos que esperava para abastecer seu carro em Allier (centro), comparou a atual turbulência com as duas semanas de greves e manifestações maciças de 1968.
"Lembro-me de Maio de 68 e posso dizer que a escassez não é brincadeira e eu estou tomando precauções", disse a motorista.
Pierre Jara, um técnico de televisão a cabo, de 40 anos, aguardava sua vez em um posto de gasolina próximo à capital.
"Estou com os sindicatos, mas ainda assim isso me incomoda", disse à AFP.