Governo da Colômbia e Farc anunciam cessar-fogo histórico

Conversas entre o grupo guerrilheiro e o governo colombiano acontecem desde 2012 e marcam um ponto histórico no país
AFP
Publicado em 22/06/2016 às 20:16
Conversas entre o grupo guerrilheiro e o governo colombiano acontecem desde 2012 e marcam um ponto histórico no país Foto: Foto: LUIS ACOSTA /AFP


O governo da Colômbia e a guerrilha das Farc anunciaram nesta quarta-feira um histórico cessar-fogo definitivo, que abre as portas para um pacto final de paz, que acabará com meio século de conflito armado.

Em um comunicado conjunto, o governo de Juan Manuel Santos e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc, marxistas) informaram que alcançaram "com êxito o acordo para o cessar-fogo e de hostilidades bilateral e definitivo", sem especificar a data que entrará em vigor. Segundo números oficiais, o conflito colombiano deixa 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,6 milhões desalojados.

Ambas delegações indicaram que o acordado "será conhecido" na quinta-feira em um ato comandado pelo presidente Santos; pelo chefe máximo das Farc, Tomoleón Jiménez ("Timochenko"); assim como por representantes dos países garantidores: Cuba, com o presidente Raúl Castro, e Noruega, com o chanceler Borge Brende.

"Amanhã será um grande dia! Trabalhamos por uma Colômbia em paz, um sonho que começa a ser realidade", celebrou Santos em sua conta no Twitter.

Este pacto, que coloca um ponto final nesse conflito incluído na agenda das conversações que acontecem desde novembro de 2012 em Cuba, acrescenta um consenso sobre "deixar as armas; as garantias de segurança (para os rebeldes) e a luta contra as organizações criminais (...) sucessoras do paramilitarismo".

Timochenko publicou no Twitter uma mensagem ao governo alertando que "#ElÚltimoDíaDeLaGuerra é possível se não aproveitarem os últimos minutos para conseguir o que não foi possível em 4 anos de debates".

Agora resta entrar em consenso sobre o mecanismo de referendamento do acordo final, último ponto da agenda.

Santos quer um plebiscito, enquanto que as Farc, que antes pediam uma Assembleia Constituinte, recentemente se declararam abertas a uma consulta popular.

Em Washington, o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, expressou seu desejo de que "as partes continuarão fazendo progressos até um acordo final".

O ex-presidente colombiano César Gaviria cumprimentou Santos por guiar "este processo com paciência, sabedoria e inteligência".

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e os presidentes dos países que acompanham as negociações, Nicolás Maduro, da Venezuela, e Michelle Bachelet, do Chile, estarão presentes, acrescentou o texto em conjunto.

Também estarão presentes em Havana os presidentes da República Dominicana, Danilo Medina, e de El Salvador, Salvador Sánchez Cerén.

Na Colômbia, figuras públicas e centenas de cidadãos comemoravam este avanço definitivo do processo de paz, ainda que outros também expressassem sua incredulidade.

"Sem dúvidas, é o início de uma etapa na qual essa violência organizada não vai ser o instrumento para construir uma oposição política ao Estado, é histórico nesse sentido", disse à AFP em Bogotá Jorge Restrepo, diretor do Cerac, que é um centro de acompanhamento do conflito.

"Significa o fim do conflito mais longo e sangrento do ocidente e uma nova oportunidade para apostar na democracia", apontou Angelika Rettberg, diretora dos professores na Construção de Paz da Universidade dos Andes.

A paz em menos de um mês?

Nos últimos dias, as partes aceleraram as conversações. Santos, que na véspera exigiu aos negociadores um "esforço" para conseguir um cessar-fogo definitivo, "um passo fundamental" para alcançar a paz, segundo disse, considerou na segunda-feira (20) que os diálogos podem estar finalizados no dia 20 de julho, festa nacional na Colômbia.

Santos e "Timochenko" se comprometeram em setembro de firmar a paz em 23 de março passado. No entanto, não conseguiram cumprir o prazo e nem prometeram outra data, mesmo que ambas partes tenham dito que as conversas estavam em sua reta final.

Desde julho do ano passado, a guerrilha Farc, principal e mais antiga do país, surgida de uma sublevação de camponeses em 1964, mantém um cessar-fogo unilateral, enquanto o governo suspendeu os bombardeios aéreos contra eles.

Para a desmobilização das Farc, os negociadores discutem a criação de áreas de concentração de 7.000 rebeldes, cujo desarme acontecerá sob supervisão da ONU.

No auge das negociações, o governo e as Farc firmaram diversos acordos provisórios, entre eles a luta contra o tráfico de drogas e a recuperação das vítimas. Também negociaram nas últimas semanas um escudo legal do acordo final de paz e a renúncia ao recrutamento de menores por parte da guerrilha. 

O conflito colombiano enfrentou durante mais de 50 anos guerrilhas, paramilitares e membros da força pública, deixando um saldo de 260.000 mortos, 45.000 desaparecidos e 6,9 milhões de desalojados.

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