A Grã-Bretanha prometeu nesta quarta-feira (29) manter seus compromissos contra o aquecimento global, apesar do Brexit, mas especialistas temem o impacto de sua saída da UE sobre a ação climática europeia.
"Estamos claramente empenhados em agir contra as mudanças climáticas. (...) Isso vai continuar", assegurou a secretária de Estado britânica para Energia e Mudanças Climáticas, em uma audiência de CEOs e responsáveis pelo clima reunidos em Londres na terça e quarta-feira para um "Business and Climate Summit".
"A decisão da semana passada (saída britânica da União Europeia) pode tornar o caminho mais difícil", admitiu Amber Rudd. Mas "os nossos esforços foram essenciais para alcançar este acordo histórico (de Paris). O Reino Unido não vai desistir desse papel de liderança", acrescentou.
Além da ação britânica, é uma onda de choque do outro lado do Canal da Mancha que faz tremer os atores na luta climática, seis meses após o acordo global alcançado em Paris para limitar as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Para eles, este evento pode prejudicar a ação da Europa. E quanto mais tempo o processo de divórcio entre Londres e Bruxelas levar, maiores serão so danos, alertam, temendo ainda que outros países se inspirem nos desejos de independência britânicos.
"Haverá alguma incerteza, transição e volatilidade por pelo menos dois anos" na política da UE, advertiu nesta terça-feira a responsável pela questão climática na ONU, Christiana Figueres, diante da mesma assembleia.
Na melhor das hipóteses, essa saída vai gerar um quebra-cabeça administrativo, uma vez que o Acordo de Paris foi negociado com base em um bloco de 28 países, que se comprometeram a reduzir suas emissões em 40% até 2030 em relação a 1990.
"A UE vai estudar uma recalibração" dos esforços comuns de redução de emissões entre os países, disse Figueres.
Pior cenário
O caso também promete complicar a situação de algumas empresas que precisam antecipar as mudanças ligadas ao aquecimento global.
"Dentro da comunidade dos negócios, o tempo gasto nesta questão do Brexit vai nos desviar de decisões importantes que poderíamos tomar em outras questões", considerou Peter Sweatman, CEO da empresa de consultoria Climate Strategy.
Outros temem que o Brexit dificulte a capacidade da UE, o terceiro maior emissor mundial, de rever rapidamente seus planos para reduzir as emissões de gases do efeito estufa, medida esperada dos principais países emissores se o mundo quiser se manter abaixo do limiar crítico de 2°C de aquecimento.
"O papel de protagonista da Europa sobre o clima vai ser reduzido", acredita Nick Mabey, do think tank londrino E3G. "E isso vai afetar a motivação geral". "Logo, veremos o mundo se desviar da trajetória de 2 graus, e é aí que entraremos nas zonas de perigo globais", alertou.
No Acordo de Paris, a comunidade internacional comprometeu-se em limitar o aquecimento global abaixo dos 2°C ou 1,5°C em relação ao nível de antes da Revolução Industrial.
Acima dessa meta, os cientistas prometem ao planeta eventos extremos, com consequências desastrosas para as espécies e economias.
Os compromissos nacionais atuais levam o mundo a um aumento em 3°C. Acertar esta lacuna tornou-se uma questão prioritária para os 195 Estados partes no acordo.
Historicamente, a Europa - em parte sob o impulso britânico - tem sido líder na luta contra o aquecimento global, fazendo o papel de mediador junto aos países relutantes a partilhar os esforços.
Enquanto os partidos de extrema-direita cobraram, na França e na Holanda, referendos sobre a saída de seus países da UE, o pior cenário seria, aos olhos dos defensores do clima, que outros Estados sigam o exemplo da Grã-Bretanha.
"Se a Europa realmente começar a se desintegrar, será difícil preservar as políticas europeias (para o clima), seja em relação as normas de emissões, energia limpa ou mercado de energia", afirma Nick Mabey.