Theresa May e Michael Gove, favoritos a suceder o primeiro-ministro conservador britânico David Cameron, advertiram que não iniciarão a ruptura com a União Europeia até 2017, apesar da insistência de seus sócios europeus.
"Nós controlaremos a agenda, não faremos enquanto não estivermos prontos", disse Gove, ministro da Justiça, em sua primeira coletiva de imprensa como candidato a líder do partido conservador e do governo, respondendo a uma pergunta sobre quando iria ativar o Artigo 50.
O recurso a este artigo do Tratado europeu de Lisboa é o que marca o início das negociações para abandonar a UE, e nunca foi utilizado.
"Só o ativarei depois de amplas discussões preliminares (...), então não espero que o Artigo 50 seja ativado este ano", acrescentou Gove, segundo favorito, ignorando a advertência de Bruxelas de que não haverá nenhuma negociação até que Londres notifique oficialmente que vai embora.
A favorita, a ministra do Interior Theresa May, se pronunciou na quinta-feira no mesmo sentido, embora Cameron tenha afirmado que a ruptura iria ocorrer no dia seguinte ao referendo de 23 de junho.
HOLLANDE AVISA QUE NÃO HÁ VOLTA
As hesitações de Londres em colocar em andamento o processo levaram o presidente francês, François Hollande, a lembrar que não há como recuar.
"A decisão está tomada, não pode ser adiada ou cancelada, é preciso assumir suas consequências", disse o presidente francês à imprensa, após um encontro com Cameron no norte da França, onde foi celebrado o 100º aniversário da batalha do Somme.
Tudo depende da corrida para suceder Cameron. Os cinco candidatos que buscam substituí-lo são May, Gove, o secretário de Estado de Trabalho e Aposentadorias Stephen Crabb, o ex-ministro da Defesa Liam Fox e a secretária de Estado de Energia Andrea Leadsom.
Como há mais de um candidato, os deputados elegerão dois finalistas. Ambos serão, então, submetidos ao voto dos 150.000 afiliados. No dia 9 de setembro o novo líder conservador e primeiro-ministro será conhecido.
ADEUS AO SUPERÁVIT ORÇAMANTÉRIO EM 2020
A vitória da saída do Reino Unido da UE se traduziu na redução das classificações de crédito tanto do bloco europeu quanto do país.
Nesta sexta-feira, o ministro das Finanças britânico, George Osborne, declarou que provavelmente terá que abandonar seu objetivo de alcançar um superávit orçamentário em 2020, devido ao impacto negativo do Brexit nos cofres públicos.
"Continuaremos sendo firmes com o déficit, mas é preciso ser realista sobre a possibilidade de alcançar um superávit antes do fim da década", disse em um discurso em Manchester.
"Como o Banco da Inglaterra disse ontem, o resultado do referendo terá, como era esperado, um impacto negativo importante", lembrou.
"Temos que reduzir a incerteza avançando o mais rápido possível a uma nova relação com a Europa e sendo supercompetitivos", estimou.
EMPRESAS COMEÇAM A SE AFASTAR
A companhia aérea britânica Easyjet anunciou nesta sexta-feira que solicitou um certificado de operador aéreo em outro país não especificado da União Europeia, diante da possibilidade de que o Reino Unido abandone a UE.
Este certificado, fornecido pelo organismo regulador do setor aéreo em cada país, "permitirá que a Easyjet voe por toda a Europa, como faz hoje", anunciou a empresa em um comunicado.
"Enquanto o resultado das negociações entre o Reino Unido e a UE não estiver mais claro, a Easyjet não não precisa fazer mais mudanças estruturais ou operacionais", acrescentou o comunicado, sem mencionar a possibilidade de uma mudança de sede.
A Easyjet concentra a maior parte de sua atividade na Europa e transporta anualmente 70 milhões de passageiros, segundo seu site.
Por sua vez, o fundo de investimentos britânico Fidelity anunciou que transferirá 100 funcionários de Londres a Dublin, embora tenha afirmado que a decisão foi tomada antes do referendo de 23 de junho.
Muitas vozes avisaram que a saída da UE faria com que a City de Londres, o distrito financeiro, perdesse influência e empregos em favor de praças como Dublin, Frankfurt e Paris.
A IDA Ireland, a agência irlandesa de investimentos no país, afirmou na semana passada que falaria "com investidores potenciais sobre as implicações do referendo".
Além disso, nas horas que se seguiram aos resultados, a região de Paris publicou anúncios na imprensa financeira britânica dando as boas vindas a novos investidores.