O papa Francisco se distanciou do setor mais conservador da Igreja católica e se pronunciou a favor da abertura em uma entrevista publicada neste domingo (3) pelo jornal argentino La Nación.
"Eles fazem seu trabalho e eu faço o meu. Eu quero uma igreja aberta, compreensiva, que acompanhe as famílias feridas", disse o sumo pontífice ao ser consultado sobre sua relação com os ultraconservadores católicos.
O Papa descartou, no entanto, que exista uma posição de confronto: "Eles dizem não a tudo. Eu continuo no meu caminho sem olhar para os lados. Não corto cabeças. Nunca gostei de fazer isso. Eu repito: rejeito os conflitos", explicou.
"Os pregos são retirados fazendo pressão para cima. Ou então se deixa que eles fiquem repousando, de lado, para quando chegar a idade da aposentadoria", disse bem-humorado.
Também se referiu à rejeição de uma doação milionária feita pelo governo argentino à rede mundial Scholas Ocurrentes, promovida pelo Papa para a inclusão educacional e a paz, gesto encarado na Argentina como uma discórdia entre Francisco e o presidente Mauricio Macri.
"Esta interpretação é absolutamente incorreta", afirmou. "Continuo acreditando que não temos direito de pedir um peso ao governo argentino quando ele tem tantos problemas sociais para resolver", indicou Francisco.
Também negou supostos atritos com o presidente argentino, definido por ele como "uma pessoa nobre". "Não tenho nenhum problema com Macri", ressaltou.
Francisco se reuniu no fim de maio com a presidente das Mães da Praça de Maio, Hebe de Bonafini, uma líder social que foi muito crítica ao Papa quando ele era arcebispo de Buenos Aires, mas que agora o elogia.
"Ela pediu perdão e não o neguei. Não nego a ninguém", disse sobre Bonafini.
"É uma mulher que teve os dois filhos mortos, eu me curvo, fico de joelhos diante de semelhante sofrimento. Não importa o que tenha dito de mim. E sei que falou coisas horríveis no passado", afirmou.
Consultado sobre sua relação com membros do governo argentino, admitiu que recebeu alguns funcionários de alto escalão porque são velhos amigos.
"Alguns são velhos amigos que pedem para me ver e eu os recebo com muita alegria", afirmou.
Entre os que tiveram uma audiência com o Papa estão os ministros argentinos de Educação, Esteban Bullrich, de Trabalho, Jorge Triaca, e a chanceler Susana Malcorra, candidata para ocupar a Secretaria Geral das Nações Unidas (ONU).