Os 330 deputados do Partido Conservador britânico começam nesta terça-feira a votar em seu novo líder e automaticamente o primeiro-ministro para substituir David Cameron, uma disputa em que Theresa May aparece como favorita.
A ministra do Interior, que defendeu a permanência do Reino Unido na União Europeia, mas que pouco se expor durante a campanha do Brexit, se apresenta como a pessoa capaz de unir um partido fraturado e sem guia depois da renúncia de Cameron no dia seguinte ao referendo.
A ministra May já deixou claro que aceita o resultado do referendo. "Brexit é Brexit", afirmou, pragmática, ao apresentar sua candidatura.
O novo líder deverá ser conhecido no mais tardar em 9 de setembro, ao final de um processo que começa nesta terça com uma primeira rodada de votação.
Toda terça e quinta-feira haverá uma rodada, que concluirá com a eliminação do candidato menos votado. Quando restarem apenas dois, os 150.000 militantes do partido farão a escolha final.
- Divisão nas negociações -
Os cinco candidatos que tentam suceder Cameron são May, o ministro da Justiça Michael Gove, o secretário de Estado do Trabalho e Pensões Stephen Crabb, o ex-ministro da Defesa Liam Fox, e a secretária de Estado de Energiaa Andrea Leadsom.
May tem o apoio de 115 deputados e deve sua preferência a Boris Johnson, o líder da campanha Brexit, que decidiu não disputar o cargo.
Entre os candidatos há uma divisão sobre como enfrentar o divórcio com a UE. Gove e May esperam que em 2017 possam ativar o Artigo 50 do Tratado Europeu de Lisboa, que notifica oficialmente a ruptura e abre um período de negociações de dois anos. Leadsom, por sua parte, quer fazer isso o quanto antes.
Dois dos cinco candidatos em disputa defenderam o Brexit, Michael Gove e Andrea Leadsom, que receberam o apoio de Boris Johnson e são vistos com simpatia pelo partido de extrema-direita antieuropeu Ukip, liderado até segunda por outro grande protagonista do Brexit, Nigel Farage, que também se demitiu.
A debandada dos líderes do Brexit levou o presidente da Comissão Europeia, Jean Claude Juncker, a alfinetá-los.
"Constato apenas qe os radiantes heróis do Brexit de ontem são os tristes heróis de hoje", afirmó Juncker no Parlamento Europeu.
"Aqueles que provocaram este resultado no Reino Unido abandonaram o cenário um atrás do outro: Johnson, Farage, etc...".
- Medidas para o crédito -
As ameaças à estabilidade do Reino Unido provocadas pelo Brexit "começaram a se manifestar", afirmou nesta terça-feira o Banco da Inglaterra (BoE), que anunciou uma flexibilização das regras de financiamento dos bancos para estimular os empréstimos.
"Há evidências de que alguns riscos começaram a manifestar-se. A atual perspectiva para a estabilidade financeira do Reino Unido é desafiante", afirma o Comitê de Política Financeira (FPC) do BoE em seu relatório de estabilidade financeira.
O relatório é o primeiro divulgado após o referendo de 23 de junho, no qual os britânicos votaram a favor da saída da União Europeia, ignorando as advertências do próprio Banco da Inglaterra e do Fundo Monetário Internacional, entre outros.
O Comitê de Política Financeira (FPC) da instituição decidiu reduzir os fundos que os bancos devem proteger para enfrentar momentos de turbulências, com o objetivo de que destinem o dinheiro liberado para estimular a economia.
As medidas devem servir para destinar quase 150 bilhões de libras (178,9 bilhões de euros, 197,24 bilhões de dólares) adicionais a empréstimos a particulares e empresas.
Para alcançar o objetivo, o BoE reduziu de 0,5% para 0% a proteção financeira exigida aos bancos para exigências.
A instituição considerou que, apesar da forte desvalorização da libra e das ações dos bancos, o setor financeiro permanece sólido no momento.