O nervosismo era evidente nesta quarta-feira (6) nas praças financeiras mundiais, começando pelas bolsas europeias, que caíram com os primeiros efeitos visíveis do Brexit.
"A visibilidade é nula e não sabemos a que nos agarrar", destaca Xavier de Villepion, um vendedor de ações da firma HPC.
A libra esterlina caiu abaixo do patamar simbólico dos US$ 1,30 nesta quarta-feira, a US$ 1,2798 às 2h locais (23h de terça-feira pelo horário de Brasília), seu nível mais baixo desde o segundo semestre de 1985.
Às 10h30 locais (07h30 horário de Brasília), as bolsas de Paris, Frankfurt, Madri e Milão caíram mais de 2%. Londres recuou 0,71%. Na Ásia, Tóquio fechou com baixa de 1,85%.
Os primeiros efeitos econômicos do voto dos britânicos a favor de abandonar a UE começam a ser sentidos.
Na segunda e na terça-feira, três fundos imobiliários britânicos suspenderam sua atividade diante do grande número de solicitações de saque de investidores inquietos.
"Os investidores estão agora à espreita do próximo fundo que poderá fechar", destaca Andrew Edwards, do ETX Capital.
O crescimento do setor serviços, preponderante no Reino Unido, desacelerou fortemente em junho, segundo dados compilados antes e depois do histórico referendo de 23 de junho.
Enquanto isso, na terça-feira, Mark Carney, presidente do Banco da Inglaterra, pediu aos bancos que concedam créditos com mais generosidade, contribuindo para que o país não entre em uma possível recessão.
Em um primeiro momento, os mercados financeiros pareciam ter encarado bem o impacto do referendo, do qual esperavam outro resultado. Mas agora as fissuras começam a aparecer.
"Justo quando pensávamos ter voltado a águas mais tranquilas, a libra se vê abalada", constata Stephen Innes, trader da OANDA Asia Pacific.
"A libra é o termômetro do estado de ânimo dos mercados depois do Brexit", aponta Edwards.
Segundo ele, a moeda britânica "está causando o estresse do mercado, ao contrário do FTSE 100", o principal índice financeiro de Londres, que "se mantém sólido porque cerca 75% de seus lucros são obtidos fora do Reino Unido", explica.
- Chacina -
Com as perdas na Bolsa, os investidores buscam freneticamente valores seguros, como o iene e os bônus japoneses, norte-americanos e alemães, o que mecanicamente provoca uma queda dos juros desses títulos mais demandados.
"O termo é forte, mas corresponde exatamente ao o que está acontecendo com os rendimentos dos bônus soberanos: uma chacina", destaca John Plassard, diretor-adjunto da casa de corretagem Mirabaud securities.
O rendimento do bônus alemão a dez anos caiu a níveis inéditos, a -0,205%, o que significa que os compradores pagam por esse valor, em vez de cobrar juros.
Nessa quarta-feira, o rendimento do título americano a dez anos bateu seu mínimo histórico a 1,318%, enquanto que pela primeira vez o título japonês a 20 anos fechou com rendimento negativo.
O ouro, outro valor refúgio, continua se valorizando em Londres, a 1.375,45 dólares a onça às 10H30 GMT (07H30 horário de Brasília), seu nível mais alto desde março de 2014.
Além do Brexit, os bancos italianos são outra fonte de preocupação.
Nos últimos dias, as instituições bancárias do país registraram fortes quedas na Bolsa de Milão, e os investidores se perguntam se isso não resultará em uma nova crise financeira na zona do euro. Além disso, parece haver fortes divergências entre o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, e seus sócios europeus sobre a forma de ajudá-los.
"Renzi tem razão, há um problema bancário", escreveu em um artigo no Financial Times Philipp Hildebrand, vice-presidente do BlackRock, o maior gestor de ativos do mundo.
Segundo Hewson se está observando "um coquetel envenenado, que poderá deixar o sistema bancário europeu de joelhos. E até agora, parece que os políticos não têm a menor ideia de como podem solucionar o problema".