Governo francês reconhece fracasso da justiça após ataque em igreja

O primeiro-ministro francês disse que a decisão da justiça antiterrorista de libertar em março um dos dois criminosos da igreja foi um fracasso
AFP
Publicado em 29/07/2016 às 9:29
O primeiro-ministro francês disse que a decisão da justiça antiterrorista de libertar em março um dos dois criminosos da igreja foi um fracasso Foto: Foto: BERTRAND GUAY / AFP


O primeiro-ministro francês reconheceu nesta sexta-feira (29) um fracasso do sistema judicial após o assassinato de um padre em uma igreja e anunciou que cogita proibir temporariamente o financiamento estrangeiro de mesquitas, após os últimos atentado no país.

Embora a crítica de Manuel Valls não tenha sido dirigida diretamente ao governo, sua declaração contrasta com a reação que o gabinete teve após o massacre em Nice (sul) de 14 de julho, que deixou 84 mortos.

Naquele momento, o governo se negou a reconhecer a menor falha que fosse no dispositivo de segurança, apesar das críticas iradas da direita.

O primeiro-ministro advertiu em uma entrevista ao jornal francês Le Monde que a decisão da justiça antiterrorista de libertar em março um dos dois criminosos da igreja de Saint Etienne de Rouvray (noroeste) foi um fracasso. "É preciso reconhecer isso", disse.

"Isso deve levar os juízes a um enfoque diferente, caso a caso, levando-se em conta as práticas de dissimulação dos terroristas", ressaltou.

Valls afirmou que não será ele "que, menosprezando todo equilíbrio de poderes, cairá na facilidade de apontar os juízes como os responsáveis pelo ato terrorista".

Depois dos atentados terroristas de julho, em um país que já foi vítima de dois ataques em 2015, que deixaram 147 mortos em janeiro e novembro, o primeiro-ministro se mostrou favorável a proibir o financiamento estrangeiro das mesquitas.

Além disso, afirmou desejar "inventar uma nova relação" com o Islã na França e que os imãs sejam formados na França, "e não em outro lugar".

Após uma reunião nesta semana entre o presidente, François Hollande, e os representantes de diferentes cultos, o reitor da Grande Mesquita de Paris, Dalil Boubakeur, também sugeriu "uma certa reforma nas instituições" do Islã.

Com o objetivo de deter a propagação de ideias terroristas, as autoridades fecharam nos últimos meses várias mesquitas consideradas salafistas.

Troca de acusações

Adel Kermiche, um dos terroristas que atacaram uma igreja na terça-feira na França, esteve na prisão por 10 meses à espera de julgamento por ter tentado em duas ocasiões viajar à Síria.

Este jovem de 19 anos foi libertado em março deste ano e colocado sob prisão domiciliar com uma pulseira eletrônica. A promotoria havia apelado, em vão, da decisão dos juízes de colocá-lo em liberdade condicional.

Isso provocou uma onda de críticas da direita e da ultradireita e vários líderes políticos exigem a renúncia do primeiro-ministro e do titular do Interior, Bernard Cazeneuve.

Abdel Malik Petitjean, o segundo autor do ataque no qual um padre foi degolado em plena missa, estava fichado por radicalização desde 29 de junho, depois de ter tentado viajar à Síria.

Petitjean, de 19 anos, apareceu proferindo ameaças contra a França em um vídeo divulgado por um órgão de propaganda da organização Estado Islâmico (EI), a agência Amaq, informou na quinta-feira o centro americano de vigilância de sites jihadistas (SITE).

Por outro lado, um solicitante de asilo sírio foi detido provisoriamente no âmbito desta investigação, disse uma fonte próxima ao caso. Outras duas pessoas seguiam detidas nesta sexta-feira, enquanto duas foram libertadas.

A alguns meses das primárias que serão realizadas antes das eleições presidenciais de abril de 2017, as acusações cruzadas entre os diferentes partidos devido aos atentados cresceram.

Florian Philippot, um dos responsáveis do partido ultradireitista Frente Nacional, respondeu às declarações de Valls no Le Monde e considerou que "normalmente, quando uma pessoa é líder política, assume as consequências apresentando sua renúncia".

Por sua vez, pedindo à oposição que seja "digna e respeitosa", o primeiro-ministro acusou o chefe do partido conservador Os Republicanos (LR), o ex-presidente Nicolas Sarkozy, de "perder os nervos" depois de ter dito nesta semana que a esquerda estava "paralisada" pela "violência e barbárie".

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