Madre Teresa de Calcutá, uma vida a serviço dos pobres

Sempre com um sari de algodão branco com um bordado azul, a madre Teresa foi, durante a segunda metade do século XX, o símbolo da defensa incansável dos pobres
AFP
Publicado em 04/09/2016 às 9:50
Sempre com um sari de algodão branco com um bordado azul, a madre Teresa foi, durante a segunda metade do século XX, o símbolo da defensa incansável dos pobres Foto: SAJJAD HUSSAIN/AFP


CIDADE DO VATICANO - Madre Teresa de Calcutá foi um exemplo de solidariedade e entrega aos pobres e deserdados, e também de tenacidade e pragmatismo, segundo o papa Francisco, que a canonizou neste domingo.

Sempre com um sari de algodão branco com um bordado azul, a madre Teresa foi, durante a segunda metade do século XX, o símbolo da defensa incansável dos pobres.

Vencedora do Prêmio Nobel da Paz em 1979, ela foi declarada santa 19 anos após sua morte, ocorrida em 1997.

Sua canonização, possível graças a um segundo milagre, registrado no Brasil - uma cura inexplicável -, foi realizada justamente no ano dedicado pelo pontífice à misericórdia, com um jubileu extraordinário.

Nascida em 26 de agosto de 1910 em uma família albanesa em Skopje, capital da atual república da Macedônia, que na época pertencia à Albânia, Gonxhe Agnes Bojaxhiu entrou em 1928 para a ordem religiosa Irmãs de Nossa Senhora de Loreto, cuja sede central se encontra na Irlanda, e passou a usar o nome Teresa em homenagem a Santa Teresa de Lisieux.

Enviada a Calcutá, na Índia, foi professora durante muitos anos em uma escola para meninas de classe alta, antes de receber o "chamado dos chamados", ou seja, a vocação de servir a Deus através dos pobres.

O arcebispo de Calcutá na época, Fernando Periers, se negava a permitir que saísse de sua ordem, alegando que ela era muito jovem para o trabalho, apesar dos 37 anos, e a chamava de "novata incapaz de iluminar corretamente uma vela".

Mas ela conseguiu o apoio dos superiores e inclusive do papa Pio XII.

No início de 1948 se mudou para os bairros pobres de Calcutá, onde suas ex-alunas se tornaram, a seu lado, as primeiras Missionárias da Caridade.

Em 1952, ao observar uma mulher agonizante, abandonada na rua e com os pés atacados por ratos, ela sentiu uma profunda comoção e decidiu assumir uma nova tarefa: ajudar os mais pobres entre os pobres.

Depois de procurar com insistência as autoridades da cidade, conseguiu a concessão de uma antigo edifício para dar abrigo às pessoas que sofriam de tuberculose, disenteria e tétano, ou seja, as pessoas que nem os hospitais queriam atender.

Dezenas de milhares de necessitados passaram por esse "hospício": muitos encontraram uma morte digna, sempre em respeito a sua própria religião, e outros se recuperaram graças aos cuidados das freiras.

Em Calcutá, Madre Teresa abriu também um orfanato, Sishu Bhavan, e um centro para leprosos, o Shantinagar, onde atualmente são produzidos os saris brancos com bordado azul utilizados pelas 4.500 Missionárias da Caridade espalhadas em mais de 100 países.

VIDA AUSTERA

Na sede da congregação, em Calcutá, em uma avenida da megalópole indiana, Madre Teresa, famosa e premiada em todo o planeta por seu trabalho, levou uma vida austera e trabalhou sem descanso.

Ela faleceu no local em 5 de setembro de 1997, aos 87 anos, e seu túmulo está sempre coberto de pétalas de flores como forma de homenagem.

Com senso para os negócios, certa vez perguntou ao papa João XXIII se as riquezas do Vaticano poderiam ser utilizadas para os pobres.

O Papa então doou um Rolls Royce, que ela vendeu rapidamente por um bom preço em um leilão.

Durante o papado de Paulo VI, a congregação se espalhou pelo mundo e chegou a fundar casas na América Latina.

O papa João Paulo II reconheceu publicamente sua admiração pela freira e, na década de 1980, abençoou a pedra fundamental da casa que ela abriu em Roma para abrigar moradores de rua.

O papa Francisco, que a conheceu em 1994, admitiu que ficou impressionado com seu caráter forte.

A madre Teresa afirmava que sua contribuição era apenas uma "gota em um oceano de sofrimentos, mas que, se não existisse, esta gota faria falta ao mar".

Os críticos a acusavam de receber presentes sem questionar a procedência e de ter sido uma opositora fervorosa do aborto e da pílula anticoncepcional, assim como de utilizar seu prestígio para denunciar em todo o mundo tais práticas.

Durante o processo para sua beatificação, foi descoberto que ela sofria crises religiosas e chegava a questionar a existência de Deus.

“Nunca vi uma porta ser fechada para mim. Acredito que isso acontece porque veem que não vou pedir, e sim dar. Hoje em dia está na moda falar dos pobres. Infelizmente não está na moda falar aos pobres”, afirmou certa vez.

Após sua morte, o governo indiano organizou um funeral de Estado e o caixão foi transportado por grande parte da cidade na mesma carruagem que transportou o caixão de Mahatma Gandhi.


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