O governo das Filipinas denunciou nesta quarta-feira (7) um plano secreto de Pequim para construir uma ilha no mar da China Meridional, o que aumenta a tensão regional durante a reunião de cúpula dos países do sudeste asiático.
Manila afirma que tem provas, com fotos, de que dois barcos chineses se aproximaram do recife de Scarborough, reivindicado pelas Filipinas, para preparar a construção de uma ilha artificial.
"Temos motivos para acreditar que sua presença é um prelúdio para atividades de construção sobre o recife", declarou à AFP o porta-voz do ministério da Defesa filipino, Arsenio Andolong.
O tema é extremamente sensível, pois o recife tem uma importância estratégica para os Estados Unidos: a China poderia dispor de instalações a apenas 230 km da ilha filipina de Luzón, onde as forças americanas operam a partir de uma base oficial.
"Poderíamos terminar com um confronto física entre a Guarda Costeira chinesa e os navios filipinos apoiados pela Marinha americana", afirmou o analista Carl Thayer, da Universidade Australiana de Nova Gales do Sul.
O governo filipino fez as acusações poucas horas antes de uma reunião entre os dirigentes da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean) e o primeiro-ministro chinês, Li Kequiang, no encontro de cúpula anual, organizado no Laos.
A China nega qualquer construção neste recife, que controla desde 2012, após um conflito com a Marinha filipina. Fontes chinesas procuradas nesta quarta-feira repetiram o dicurso oficial e desmentiram a construção, apesar da intensificação dos boatos nos últimos diass.
A polêmica por este recife recorda até que ponto a política de Pequim no Mar da China envenena as reuniões regionais, e inclusive até o recente encontro do G20 organizado pela China.
A militarização crescente por parte de Pequim de recifes transformados em ilhas artificiais e uma recente decisão arbitral de um tribunal Haia, negando a China qualquer direito histórico sobre a região, aumentaram a tensão nos últimos meses.
Nesta quarta-feira (7), os representantes da China em Vientiane demonstraram calma.
"A China considera a Asean uma potência importante para preservar a paz regional", afirmou Li Keqiang, que em seu discurso não fez referência ao conflito marítimo que prejudica suas relações com os vizinhos.
Pequim reclama a soberania de quase todo o mar da China Meridional, onde outros países, como Filipinas, Vietnã, Malásia ou Brunei, todos integrantes da Asean, também têm reivindicações territoriais.
A associação regional não consegue chegar a uma posição comum ante Pequim sobre o tema, já que muitos membros temem desagradar a China.
A disputa entre Manila e Pequim acontece em um momento difícil para o novo presidente filipino, Rodrigo Duterte.
O presidente americano, Barack Obama, aliado de peso das Filipinas, cancelou na terça-feira uma reunião bilateral com o governante filipino depois que Duterte o chamou publicamente de "filho da puta".
O presidente americano não retornou ao tema. Na terça-feira ele afirmou que os "Estados Unidos continuarão sobrevoando e navegando" o Mar da China.
Nesta quarta-feira, Obama teve uma agenda separada dos dirigentes da Asean.
O presidente americano se encontrou com laosianos feridos ou mutilados por bombas lançadas durante a guerra do Vietnã.
Entre 1964 e 1973 as operações secretas da CIA para cortar as vias de abastecimento ao Vietcong se traduziram no lançamento de dois milhões de toneladas de bombas no Laos, mais do que o total de de bombas lançadas pelos aliados no Japão e Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
Quase 30% das bombas que caíram no Laos não explodiram, o que representa quase 80 milhões de bombas, incluindo armamentos de fragmentação, ativos, o que provoca acidentes que desde o fim da guerra mataram ou feriram mais de 20.000 pessoas.
"Nas últimas quatro décadas, a população do Laos vive à sombra da guerra", disse o presidente americano ao visitar uma ONG de distribuição de próteses para pessoas mutiladas pelas bombas.
Na terça-feira, Washington anunciou que concederá 90 milhões de dólares para avaliar e remover as bombas que não explodiram.
Obama disse que os Estados Unidos têm uma obrigação moral de limpar o Laos, mas não apresentou um pedido formal de desculpas por uma campanha militar que os americanos ignoravam.