Oposição síria recebe com prudência o plano de trégua Rússia-EUA

Plano de cessar-fogo anunciado por Rússia e Estados Unidos pode resultar na primeira campanha militar conjunta das duas potências contra os extremistas
AFP
Publicado em 10/09/2016 às 13:12
Plano de cessar-fogo anunciado por Rússia e Estados Unidos pode resultar na primeira campanha militar conjunta das duas potências contra os extremistas Foto: Foto: FABRICE COFFRINI / AFP


A oposição síria recebeu neste sábado (10) com prudência o plano de cessar-fogo anunciado por Rússia e Estados Unidos, que pode resultar na primeira campanha militar conjunta das duas potências contra os extremistas.

O secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, afirmaram que a trégua, acordada em Genebra na sexta-feira à noite, deve começar a ser aplicada na segunda-feira, primeiro dia da festa muçulmana do Eid al-Adha. 

As duas potências apoiam lados opostos no conflito: Moscou respalda o regime do presidente Bashar al-Assad, enquanto Washington auxilia a coalizão de rebeldes que considera moderados. 

Mas se a Rússia conseguir convencer Assad a respeitar o cessar-fogo durante uma semana, Moscou e Washington iniciarão uma operação conjunta coordenada contra alvos "terroristas". 

"Damos as boas-vindas ao acordo, caso seja aplicado", afirmou neste sábado Bassma Kodmani, integrante do Alto Comitê de Negociações (ACN), que reúne os principais representantes da oposição e da rebelião sírias.

A integrante do ACN expressou ainda o desejo de que o acordo signifique o "início do fim do suplício para os civis".

"O que acontecerá se a Rússia não pressionar o regime (de Bashar al-Assad), pois é o único meio para forçar o regime a respeitar (a trégua)?", questionou Kodmani.

Estamos na expectativa para que a Rússia convença o regime, algo necessário para aplicar o acordo", completou.

Os chefes da diplomacia de Estados Unidos e Rússia participaram em uma reunião de mais de 12 horas na sexta-feira em Genebra, em uma nova tentativa de acabar com o conflito entre o regime de Assad, seus opositores e os grupos fundamentalistas islâmicos, uma guerra que deixou mais de 290.000 mortos e obrigou milhões de pessoas a fugir para o Líbano, Turquia e a União Europeia.

- Decisão crucial para os rebeldes -

Tanto Kerry como Lavrov afirmaram que o plano complexo é a melhor oportunidade para acabar com a guerra entre o regime e os rebeldes, além de seguir atacando os extremistas da Frente Al-Nusra, antes vinculada à Al-Qaeda, e do grupo Estado Islâmico. 

O secretário de Estado americano destacou que os dois países esperam que o acordo permita "reduzir a violência, o sofrimento (da população) e retomar o caminho para uma paz negociada e uma transição política".

Lavrov declarou que o governo sírio está "preparado para cumprir" o acordo, mas que Moscou não pode garantir em 100% que todas as partes respeitarão o cessar-fogo.

A delicada questão da saída de Assad permanece em aberto. As potências ocidentais desejam que o presidente sírio abandone o cargo, mas a Rússia o apoia.

Um ponto chave do acordo é a entrega de ajuda humanitária aos civis que vivem nas áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo, segunda maior cidade da Síria, cercada pelo governo. 

Moscou também terá que convencer a força aérea síria a interromper os bombardeios das zonas controladas pelos rebeldes, enquanto Washington terá que conseguir que os grupos da oposição se desvinculem da antiga Frente Al-Nusra, agora chamada Frente Fateh Al-Sham, que se aliou aos rebeldes em diferentes pontos do conflito.

Kodmani disse que os rebeldes devem romper os laços com os extremistas se a trégua persistir. 

"Os grupos moderados se reorganizarão y se distanciarão dos grupos radicais. Cumpriremos a nossa parte", declarou. 

Para o analista Charles Lister, do Middle East Institute, os principais grupos rebeldes observam com desconfiança os diálogos entre Rússia e Estados Unidos e parecem relutantes a separar-se dos extremistas caso o cessar-fogo não se confirme.

"Os rebeldes enfrentam agora a maior e mais crucial decisão desde que pegaram em armas contra o regime de Assad em 2011", disse o analista. 

O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, declarou que o pacto significa uma "janela de oportunidade" e que pretende iniciar consultas com as partes para reativar os diálogos de paz. 

A Turquia, que realiza uma ofensiva militar no norte da Síria, celebrou o acordo.

Ancara recebe "com satisfação o acordo sobre uma trégua na Síria, que permitirá levar mais facilmente uma ajuda humanitária", afirma um comunicado divulgado pelo ministério das Relações Exteriores.

TAGS
Síria estados unidos
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory