A oposição síria recebeu neste sábado (10) com prudência o plano de cessar-fogo anunciado por Rússia e Estados Unidos, que pode resultar na primeira campanha militar conjunta das duas potências contra os extremistas.
O secretário de Estado americano, John Kerry, e o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, afirmaram que a trégua, acordada em Genebra na sexta-feira à noite, deve começar a ser aplicada na segunda-feira, primeiro dia da festa muçulmana do Eid al-Adha.
As duas potências apoiam lados opostos no conflito: Moscou respalda o regime do presidente Bashar al-Assad, enquanto Washington auxilia a coalizão de rebeldes que considera moderados.
Mas se a Rússia conseguir convencer Assad a respeitar o cessar-fogo durante uma semana, Moscou e Washington iniciarão uma operação conjunta coordenada contra alvos "terroristas".
"Damos as boas-vindas ao acordo, caso seja aplicado", afirmou neste sábado Bassma Kodmani, integrante do Alto Comitê de Negociações (ACN), que reúne os principais representantes da oposição e da rebelião sírias.
A integrante do ACN expressou ainda o desejo de que o acordo signifique o "início do fim do suplício para os civis".
"O que acontecerá se a Rússia não pressionar o regime (de Bashar al-Assad), pois é o único meio para forçar o regime a respeitar (a trégua)?", questionou Kodmani.
Estamos na expectativa para que a Rússia convença o regime, algo necessário para aplicar o acordo", completou.
Os chefes da diplomacia de Estados Unidos e Rússia participaram em uma reunião de mais de 12 horas na sexta-feira em Genebra, em uma nova tentativa de acabar com o conflito entre o regime de Assad, seus opositores e os grupos fundamentalistas islâmicos, uma guerra que deixou mais de 290.000 mortos e obrigou milhões de pessoas a fugir para o Líbano, Turquia e a União Europeia.
Tanto Kerry como Lavrov afirmaram que o plano complexo é a melhor oportunidade para acabar com a guerra entre o regime e os rebeldes, além de seguir atacando os extremistas da Frente Al-Nusra, antes vinculada à Al-Qaeda, e do grupo Estado Islâmico.
O secretário de Estado americano destacou que os dois países esperam que o acordo permita "reduzir a violência, o sofrimento (da população) e retomar o caminho para uma paz negociada e uma transição política".
Lavrov declarou que o governo sírio está "preparado para cumprir" o acordo, mas que Moscou não pode garantir em 100% que todas as partes respeitarão o cessar-fogo.
A delicada questão da saída de Assad permanece em aberto. As potências ocidentais desejam que o presidente sírio abandone o cargo, mas a Rússia o apoia.
Um ponto chave do acordo é a entrega de ajuda humanitária aos civis que vivem nas áreas controladas pelos rebeldes em Aleppo, segunda maior cidade da Síria, cercada pelo governo.
Moscou também terá que convencer a força aérea síria a interromper os bombardeios das zonas controladas pelos rebeldes, enquanto Washington terá que conseguir que os grupos da oposição se desvinculem da antiga Frente Al-Nusra, agora chamada Frente Fateh Al-Sham, que se aliou aos rebeldes em diferentes pontos do conflito.
Kodmani disse que os rebeldes devem romper os laços com os extremistas se a trégua persistir.
"Os grupos moderados se reorganizarão y se distanciarão dos grupos radicais. Cumpriremos a nossa parte", declarou.
Para o analista Charles Lister, do Middle East Institute, os principais grupos rebeldes observam com desconfiança os diálogos entre Rússia e Estados Unidos e parecem relutantes a separar-se dos extremistas caso o cessar-fogo não se confirme.
"Os rebeldes enfrentam agora a maior e mais crucial decisão desde que pegaram em armas contra o regime de Assad em 2011", disse o analista.
O enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, declarou que o pacto significa uma "janela de oportunidade" e que pretende iniciar consultas com as partes para reativar os diálogos de paz.
A Turquia, que realiza uma ofensiva militar no norte da Síria, celebrou o acordo.
Ancara recebe "com satisfação o acordo sobre uma trégua na Síria, que permitirá levar mais facilmente uma ajuda humanitária", afirma um comunicado divulgado pelo ministério das Relações Exteriores.