As chances de encontrar sobreviventes do naufrágio na quarta-feira (21) de um barco com até 450 migrantes na costa mediterrânea egípcia, grande parte dos quais viajava no porão, diminuíam nesta quinta-feira (22).
O balanço oficial até o momento é de 51 mortos, enquanto 163 pessoas foram resgatadas no local do naufrágio do barco de pesca, a 12 quilômetros do litoral de Rosetta, cidade da costa mediterrânea do Egito.
Um correspondente da AFP disse ter visto um barco militar transportando seis corpos em direção à costa.
As autoridades indicaram que quatro supostos traficantes foram detidos, todos eles egípcios, e acusados de "tráfico de seres humanos" e "homicídio culposo".
"O balanço será pior", advertiu uma fonte médica contactada pela AFP. "No barco, há um porão onde se armazena o peixe, que ainda não foi aberto. Deve estar cheio de gente dentro", acrescentou o funcionário.
Segundo os testemunhos de uma dezena de sobreviventes, uma centena de pessoas viajavam no porão.
O navio naufragou devido à sobrecarga, afirmaram os sobreviventes. As equipes de resgate chegaram ao local seis horas depois do acidente, segundo eles.
"Éramos 200, o barco já estava cheio. E chegaram outros 200. O barco tombou e começou a afundar", contou Ahmed Mohamed, um pintor egípcio de 27 anos, algemado na maca de um hospital.
"Era o apocalipse. Todos tentavam sair vivos", disse.
Na manhã desta quinta-feira (22) na praia ao norte de Rosetta, na foz do Nilo, dezenas de pessoas se reuniram, algumas lendo o Alcorão, à espera de informações sobre seus parentes desaparecidos, constatou um jornalista da AFP.
O Egito se converteu recentemente em um ponto de partida para muitos imigrantes ilegais, dispostos a pagar grandes somas de dinheiro para chegar à Europa.
Desde o início da primavera (hemisfério norte), centenas de pessoas a bordo de embarcações precárias foram resgatadas ou interceptadas pela guarda-costeira egípcia. Mas não ocorreram recentemente naufrágios desta magnitude.
Dos 163 sobreviventes anunciados pelo exército, 157 estão detidos na delegacia de Rosetta: em sua maioria são egípcios, mas também há sudaneses, somalis e sírios.
Segundo o Escritório do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, 10% dos migrantes que chegam à Europa o fazem partindo de barco do Egito. A travessia inclui com frequência perigosas baldeações no meio do mar.
Na terça-feira (20) o exército egípcio anunciou ter interceptado um navio que transportava 68 migrantes. Na quarta-feira interceptou outro com 294 pessoas a bordo.
A agência europeia de controle de fronteiras, Frontex, se inquietou em junho pelo número cada vez maior de migrantes que tentam chegar à Europa a partir do Egito.
"Neste ano o número é de 1.000 travessias de barco do Egito à Itália", havia afirmado o diretor da Frontex, Fabrice Leggeri, confirmando que desde o fechamento da rota dos Bálcãs as partidas são feitas a partir da costa da África do Norte, em particular da Líbia.
Mais de 300.000 migrantes e refugiados cruzaram em 2016 o Mediterrâneo para chegar à Europa, principalmente Itália, segundo o ACNUR.
Este número é inferior ao registrado nos nove primeiros meses de 2015 (520.000), mas é superior ao do conjunto de 2014 (216.054).