Trump e Hillary retomam campanha e ataques após primeiro debate

No primeiro debate, Hillary e Trump se enfrentaram sobre suas propostas em torno da economia e do Estado Islâmico
AFP
Publicado em 27/09/2016 às 20:38
No primeiro debate, Hillary e Trump se enfrentaram sobre suas propostas em torno da economia e do Estado Islâmico Foto: Foto: Timothy A. CLARY / AFP


A candidata democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, ressurgiu revigorada nesta terça-feira (27), depois de um tenso debate cara a cara com Donald Trump, e retomou os ataques contra seu rival republicano.

No avião que a levava para um comício em Raleigh, na Carolina do Norte, uma sorridente Hillary disse ter tido um bom momento na noite de segunda e ter apresentado seu programa, "sem uma verdadeira proposta de (seu) oponente".

"Mas o mais importante é o temperamento, a capacidade e a qualificação para ter o trabalho mais importante e mais difícil do mundo, e acho que, ontem à noite, as pessoas viram algumas claras diferenças entre os dois", afirmou.

Neste primeiro debate, a ex-secretária de Estado e o magnata imobiliário se enfrentaram sobre suas propostas em torno da economia e do Estado Islâmico, mas também sobre resistência e temperamento em um show televisivo observado por dezenas de milhares de espectadores. Segundo os principais analistas políticos americanos, a democrata se saiu melhor.

Depois de uma pneumonia e de quase duas semanas de ausência, Hillary, 68, mostrou que está em plena forma. Seu oponente, Donald Trump, de 70, não conseguiu desestabilizá-la.

Outros dois debates acontecem antes das eleições de 8 de novembro: o próximo será em 9 de outubro, e o último, no dia 19 desse mesmo mês.

Em uma pesquisa instantânea da CNN entre 521 eleitores, 62% consideraram que Hillary venceu o debate, contra 27% que se inclinaram por Trump. Os principais analistas concordaram, por sua vez, em que a candidata democrata teve um desempenho melhor.

Nate Silver, um respeitado analista da FiveThirtyEight.com, considerou que o debate dará entre 2 e 4 pontos de apoio a Hillary, enquanto as últimas pesquisas indicavam um empate virtual nas intenções de voto.

Mas, em uma campanha que desafia constantemente as convenções, ainda é cedo para determinar se o duelo verbal de 90 minutos rompeu a paridade dos candidatos nas pesquisas a seis semanas das eleições.

Troca de farpas

Hoje, ambos os lados cantavam vitória.

Em declarações à rede Fox News, Trump disse estar satisfeito com o debate, mas reclamou que o moderador Lester Holt não insistiu nos "escândalos" da democrata - em referência às polêmicas sobre o uso imprudente de seus e-mails durante a gestão do Departamento de Estado, assim como o ataque à embaixada americana na Líbia.

O republicano sugeriu que poderá trazer à tona o tumultuado passado sexual do ex-presidente Bill Clinton no próximo debate.

"Poderia atacá-la mais duramente em certas maneiras. Realmente fui menos duro, porque não queria ferir os sentimentos de ninguém", afirmou.

No debate realizado no auditório da Universidade Hofstra, perto de Nova York, Hillary criticou a idoneidade de Trump para ser presidente, afirmando que o empresário lançou sua campanha sobre a "mentira racista" de que o presidente Barack Obama não é um cidadão americano.

"Você vive em sua própria realidade", disse a ex-senadora, tentando projetar uma imagem de seriedade e de experiência.

Já Trump se mostrou como um "outsider", apelando para o cansaço da classe trabalhadora com os políticos tradicionais.

"Hillary tem experiência, mas é ruim, experiência ruim", disse o milionário, acusando-a de provocar um "caos completo" no Oriente Médio durante sua atuação como secretária de Estado.

"Pura conversa, zero ação. Soa bem, não funciona", disse.

O debate também foi eloquente nos temas que passaram inadvertidos, como imigração, ou mudanças climáticas.

No encontro, Hillary não citou o muro fronteiriço de Trump, ou seu plano para deportar 11 milhões de imigrantes ilegais, e o republicano não criticou a ex-primeira-dama por ter chamado de "deploráveis" a metade de seus seguidores, nem pela polêmica sobre a Fundação Clinton.

Reações

À medida que o duelo avançava, Trump recorreu a sua retórica característica, interrompendo Hillary repetidamente e gritando "mentira" sobre as afirmações de sua adversária. Aparentemente irritado, em certo momento virou os olhos emitindo um "ugh" de frustração.

"Muitos americanos lembrarão do programa desta noite e verão uma pessoa que está preparada para ser presidente dos Estados Unidos enfrentando um impostor", afirmou John Hudak, membro do think tank Brookings Institution.

"Não se viu um desempenho perfeito de Hillary Clinton, mas um desempenho imperfeito, como se podia prever, de seu oponente", declarou à AFP.

Os principais veículos de comunicação americanos pareceram se inclinar pela candidata democrata.

"Interrompendo, gritando (...) e lançando suas advertências de que emprego, terrorismo, Nafta (acordo comercial da América do Norte), China e tudo é terrível, Trump disse muito", afirmou o The New York Times.

"Mas dificilmente ele poderia (dizer muito) contra uma oponente que tinha maior equilíbrio e estava mais preparada do que qualquer um dos republicanos que enfrentou nas primárias", acrescentou.

The Washington Post considerou que Trump "cinicamente ou por ignorância vende uma visão distorcida da realidade", enquanto Hillary é uma "política imperfeita, mas conhecedora, segura e moderada".

Cada grupo ofereceu uma avaliação otimista do debate.

"Donald Trump ofereceu a honestidade e a contundência", disse seu companheiro de chapa, Mike Pence, nesta terça-feira à CNN.

"Ele parecia mais desconcertado à medida que o debate avançava. Então, penso que (o debate) a mostrou como preparada para ser comandante em chefe e presidente", disse Tim Kaine, companheiro de chapa de Hillary, à ABC.

Uma miss Universo no debate

Hillary apresentou, claramente, melhor desempenho em Política Externa, enquanto o empresário teve seu melhor momento quando mencionou as frustrações da população com a burocracia de Washington e com o estado da economia.

Trump responsabilizou a ex-secretária e a classe política pela perda de empregos para México e China, mas a democrata o acusou de ter "engolido" pequenos negócios ao longo de sua carreira.

A democrata também lembrou das declarações degradantes de Trump sobre as mulheres, citando o exemplo da ex-miss Universo venezuelana Alicia Machado, chamada de "Miss Piggy" e "Miss Dona de Casa".

"Ela se tornou cidadão americana e aposto com você que votará em novembro", apontou.

Na manhã seguinte, o magnata, que até o ano passado copresidia o concurso Miss Universo, redobrou suas críticas a Alicia. A estratégia pode espantar o voto feminino.

"Ela era uma Miss Universo e era a pior que tivemos, totalmente a pior. Era impossível", disse Trump à Fox News.

"Engordou muito e era um verdadeiro problema", acrescentou.

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